A greve geral foi nossa única salvação

“Os trabalhadores têm que aprender que seu poder não está na força de seu voto, mas na sua habilidade de parar a produção”, disse a anarquista estadunidense Voltairine de Cleyre no século 19.
A máxima continua verdadeira, e ainda mais verdadeira no Brasil de Temer.
Cinquenta e quatro milhões elegeram um programa de governo, e o que veio foi algo ainda pior do que o programa do candidato derrotado. Temer perderia até para o Aécio.
Mesmo que não tivesse coragem de dizer durante a campanha que seu programa de governo seria basicamente modernizar a escravidão e fazer voltar a crescer o lucro de seus apoiadores.
Ainda não chegamos ao ponto no vale das trevas do capitalismo em que um candidato pode dizer essas coisas e ser eleito presidente, mas estamos próximos.
João Dória é isso. O espelho em que a classe média enxerga o que gostaria de ver refletido como a própria imagem.
Um espelho com a moldura banhada a ouro, para combinar com o jogo de sofá e o quadro do Romero Britto.
E a classe média cresceu muito na última década. Milhões deixaram a miséria, não se pode negar que muito em função de Lula e Dilma terem vencido eleições.
Mas só venceram porque já era pornográfica demais a desigualdade, mesmo para o padrão Globo, e olhar para os mais pobres se fez quase inevitável.
E não podemos esquecer que 36 milhões de pessoas deixaram de passar fome no Brasil, de 2002 a 2014, uma queda de 82,1%, segundo a ONU. A maior queda em todo o mundo.
Mas sim, ainda há gente passando fome no Brasil, outras tantas trabalhando em situação análoga à escravidão, mesmo antes da reforma trabalhista de Temer oficializar a condição.
Isso enquanto as madames do Leblon continuam muito cansadas das filas nos aeroportos.
A nova classe média recém começou a andar de avião, mas já adota o mesmo discurso, por uma questão de pertencimento, para se sentir parte do clube, mesmo que jamais sejam aceitos.
São donos de mercearias, butiques de quinta categoria, franquias de baixo orçamento, que sonham em ser megaempresários e, antes disso, já pensam como se fossem Eike Batista antes de Bangu 8.
Estes são contra a greve geral, participam das manifestações verde-amarelas em domingos ensolarados.
Quem continua na miséria, sequer tem tempo ou condição de se preocupar com a situação política do país, e está mais preocupado em continuar vivo do que em fazer greve.
Mas sim, só a greve nos salva. Nos liberta potências, que só se tornam acessíveis num sentido coletivo de luta contra injustiças, contra a escravidão, contra o domínio de 1% sobre 99%.
E, no momento, pode destruir de vez o frágil ordenamento que mantém um governo sem a legitimidade das urnas, inchado ao ponto de se tornar insustentável.
As numerosas facções e os variados interesses escusos no seio desse governo ilegítimo dão origem ao caos e impedem a requerida obediência no povo explorado, escrevia o filósofo russo Mikhail Bakunin também no século 19.
Sexta-feira, dia 28 foi o dia de provar que Bakunin estava certo mais uma vez.