Bolsonarismo é o petismo ao avesso

Só as pessoas ignorantes não são contraditórias. A militância petista e bolsonarista está se tornando insuportável em Santa Catarina. Por quê? Porque quer achar coerência em meio ao caos sem debate democrático em que eles mesmos mergulharam o país. E o sul de Santa Catarina está no meio do tornado dessa irresponsabilidade.

O Sul estado de Santa Catarina depositou no populismo de esquerda Lula mais de 60% dos votos válidos em 2002. Na época, foi um eleitor do Partido dos Trabalhadores (PT) mais feroz do que boa parte dos Estados nordestinos. Seduzido pelo populismo de direita em 2018, foi o mais ferrenho eleitor de Jair Bolsonaro do Brasil, levando este a uma vitória de mais de 70% dos votos válidos. Nas duas eleições, o principal motivo de tamanhas vitórias foi a insatisfação popular com a recessão que se alastrava. Essa questão não é complicada. O imbróglio é o espírito de militância malcheiroso que se espalha pelo ar.

Os petistas ensinaram para os bolsonaristas a gramática e a pedagogia certas para tornar o debate público impossível. Primeira lição: existem “nós” e existem “eles”. “Nós” habitamos o reino celestial do bem, enquanto “eles” habitam o abismo perigoso do “mal” absoluto. Quem não está do “nosso” lado está do lado “deles”, e vice-versa. Segunda lição: existem “inimigos do povo” que devem ser atacados a todo momento, pois estão sabotando ou criticando o grupo que está no poder. Terceira lição: a oposição nunca tem razão e sua opinião não é legítima. Os bolsonaristas aprenderam a lição que o PT lhes ensinou, ferindo com ferro quem antes lhes havia ferido.

O governo Bolsonaro já se inicia dilacerado entre uma ala radical ultraliberal na economia e outra ala militar alinhada com o nacional-estatismo dos anos 1970 de Geisel. Talvez, pensando positivamente, caminhará por entre esses abismos na estreita ponte do pragmatismo. Porém, enquanto isso, seus mais fiéis seguidores continuarão aplicando o que aprenderam com o PT, destilando ódio a qualquer um que esboce um mínimo de crítica, já que não sabem que ela é imprescindível para a democracia, seja reuniões familiares, no Facebook ou no Twitter. Afinal, o tinteiro das redes sociais não tem fundo, alimentando sem parar a pena do ódio.