O dia que a Villa de Tubarão virou Cidade

Paulo Henrique Lúcio
Professor de História, Mestre em Educação, e ocupa uma cadeira na Câmara Municipal de Tubarão
paulohluccio@gmail.com

O mundo da pesquisa é sedutor, surpreendente e revelador. Mergulhando em livros de atas da câmara de vereadores da então Villa de Tubarão, mais precisamente a ata de 07 de novembro de 1890, encontrei o relato entusiasta dos chefes políticos e do povo com o telegrafo recebido que continha o decreto de emancipação da Villa de Tubarão da cidade de Laguna.

É oportuno ressaltar que parte da elite política lagunense era contrária à emancipação da vila de Tubarão. Essa resistência iniciou-se após o dia 27 de maio de 1870, data em que Assembleia Legislativa provincial decretou, e o presidente da Província sancionou, a Lei 635, que desmembrava de Laguna as Freguesias de Tubarão e Araranguá, formando assim o município de Tubarão.

As lideranças políticas de Laguna não queriam ceder e criavam empecilhos conforme o despacho dado pela Câmara de Vereadores de Laguna ao presidente da Província em 1861, alegando que não havia na freguesia de Tubarão cidadãos com qualidades necessárias para assumir cargos públicos, e não tendo esta freguesia rendas suficientes para sustentar as despesas do município.

Analisando os argumentos expressos no despacho e comparando com a conjuntura econômica e social daquele período, a região de Tubarão era caminho onde circulavam mercadorias que dinamizavam o comércio entre o litoral e a serra e da serra para São Paulo e Minas gerais. Da mesma forma desses longínquos recantos retornavam outros produtos para a gente litorânea. Outro fator a destacar era a fertilidade dessas terras cortadas pelo rio Tubarão, cuja produção agrícola contribuía para abastecimento da agricultura de Laguna.

Retornando ao cerne da temática, cujo o teor está contido no livro Tombo de número 003, de 1884 a 1891, a Ata da Câmara, de 7 de novembro de 1890, registra a data oficial da elevação da Vila de Tubarão para o status Cidade. Diferente de outras atas, essa destacada em letras garrafais – Sessão Solene – trazendo em seu preâmbulo os seguintes dizeres – por ocasião da recepção do telegrama do Exmo. governador dr. Lauro Severiano Müller, noticiando a elevação dessa Villa a Cidade.

No quadriênio de 1887 a 1890 o corpo legislativo da vila de Tubarão era composto pelos seguintes cidadãos:  Presidente João Cabral de Mello; vice-presidente Antônio Gomes de carvalho; Secretário Joaquim de Souza Junior, demais membros José monteiro Cabral e Desidério da Silva Cascaes.

 Registra-se que a sessão de 7 de novembro de 1890, foi presidida pelo vice-presidente Antônio Gomes de Carvalho em virtude do presidente João Cabral de Mello estar em Desterro, capital da província cuidando das tratativas burocrática para o trâmite do processo de elevação da Villa.

O registro da sessão solene do dia 7 de novembro de 1890, detalha o entusiasmo dos dirigentes políticos, das autoridades e da população que se fizera presente no Paço do Conselho da intendência municipal. A sessão tivera início às 20h30 com a fala do presidente em exercício, o cidadão Antônio Gomes de Carvalho, que abriu a reunião informando o recebimento de três telegramas que notificavam e parabenizavam o povo tubaronense por ocasião de sua conquista de elevação de Vila para Cidade.

Sem dúvida o telegrama mais importante, provinha do então governador Lauro Severiano Müller, contendo o decreto e as congratulações da maior autoridade. O segundo telegrama, assinado pelo Secretário e deputado do Estado Capitão Campos, que fazia menção ao decreto e trazia as devidas congratulações a gente tubaronense. O terceiro telegrama era de autoria de João Cabral de Mello, presidente do conselho da agora Cidade de Tubarão.

De acordo com a ata, a cada telegrama lido, seguia-se manifestações eufóricas de vivas. Após foi determinado que se hasteasse em frente à sede do Conselho a Bandeira nacional, tendo esse ato abrilhantado pela banda de Música Perseverança que entoou o hino nacional, ocorrendo após grande queima de fogos. A título de informação banda Perseverança em 1863 denominava-se “Recreio Tubaronense”, em 1886 foi rebatizada de “Perseverança Tubaronense” e em 1893, passou a chamar-se “Lira Comercial”. Desse processo cultural musístico fez surgir em 14 de novembro de 1908, a Sociedade Musical Lira Tubaronense.

Foi nesse clima de alegria e euforia que envolvia a todos os presentes no interior da sala do Conselho e no seu entorno, que o presidente da sessão abriu a palavra para outras autoridades se manifestarem. Fizeram uso da palavra o Exmº juiz de direito da Comarca, dr. José Elysio de carvalho e após o Promotor Público da Comarca José Martins Cabral. Ambos os discursos enalteciam o ato, reconheciam a competência do poder republicano e parabenizavam o povo.
Consta na ata que todos os oradores ao fim de seus discursos, gritavam:   vivas a república – e o povo entusiasmado replicava.  Convém lembrar que estávamos as vésperas do primeiro ano da Republica no Brasil, proclamada em 15 de novembro de 1889.

 Após a manifestação dos oradores, o conselho deliberou enviar três telegramas de congratulações e agradecimentos endereçados ao Senhor governador de Estado Lauro Muller, ao Secretário de Estado   e deputado Capitão Campos e ao presidente do Conselho de Tubarão João Cabral de Mello. Após essas deliberações, a sessão solene foi encerrada.