Apoie quem te protege?

Marayse Oderdenge Arruda
Escrivã da Polícia Civil de Santa Catarina

Segundo o dicionário, apoiar é dar apoio a (alguém ou algo); aprovar, aplaudir. Já o verbo proteger é sinônimo de dar proteção, amparo, ajuda material, etc.; também com a função de verbo pronominal: “tomar medidas para a defesa (própria ou de alguém ou de alguma coisa); defender(-se), preservar(-se), resguardar(-se)”.

Agora, quem protege?

Homens de farda? Homens sem uniforme, com arma e distintivo? Mulheres de farda? Mulheres sem uniforme tático, sem colete balístico, vestindo uma roupa qualquer e fazendo trabalho de polícia judiciária?

Estamos há meses debatendo questões de igualdade de gênero e militarismo em razão das eleições presidenciais e, o que acontece? Policiais militares agredindo as colegas, policiais civis, com tonfas, chutes e spray de pimenta, causando diversas lesões corporais. E, por que eu me refiro a colegas?

Ainda que um seja responsável pelo policiamento ostensivo e o outro pelo trabalho de polícia judiciária, deveriam trabalhar pelo bem comum, a segurança do cidadão, haja vista que somos todos segurança pública.

O episódio da madrugada do dia 21.10, na Oktoberfest, envolvendo duas agentes de polícia civil, mulheres, sendo agredidas durante a realização do seu trabalho, por integrantes dos quadros da polícia militar do estado não é digno de #apoio, porque não houve #proteção.

Se existia uma ocorrência em andamento e a Polícia Civil estava trabalhando para solução do caso, qual o motivo da intervenção da polícia militar? Apoio? Não foi o que aconteceu! Proteção? Faz-me rir… Ego?

Quando me perguntam sobre a diferença do trabalho das polícias eu, que fui incentivadora de muitos amigos, os quais, atualmente são praças e oficiais daquela instituição, sempre digo: ‘A Polícia Civil atua, após o acontecimento do crime ou durante, sabendo sobre o crime que está trabalhando, enquanto a Polícia Militar busca coibir a realização do crime, evitando que ele ocorra, fazendo um trabalho preventivo. São sistemas distintos, mas colaborativos,  visando o combate ao crime’.

Porém, não foi o que aconteceu na madrugada. E, não é o que acontece diariamente! Encheria diversas páginas com relatos sobre a nossa atividade e sobre o quanto, muitas vezes, policiais militares prejudicam o nosso trabalho nessa “disputa investigativa”  denominada “inteligência”, já que precisam atingir seus números e ser melhores que a instituição “co-irmã”.

Apoio? Proteção?

O que houve em Blumenau foi uma disputa pelo título de “condutor”, de homem, de super-homem, de polícia! E, para que? Saciar o ego daqueles que, incomodados com a divergência ou melhor, com a competência das mulheres, policiais civis em serviço, preferem destruir na força bruta as discordâncias do que vem e/ou vêem pelo caminho, ou seja, as duas agentes de polícia, atendendo uma ocorrência de furto dentro do Parque Vila Germânica, antes das guarnições que estavam em serviço e foram acionadas para tal fato. Chegar numa ocorrência que já estava sendo atendida por mulheres, da polícia civil, não foi aceitável. Não era possível. Por que? Eram policiais civis e mulheres. Naquele caso, perder a ocorrência equivaleria a perder a própria honra.
Guarnição é um termo militar “coletivo”: um conjunto de “tropas”. E, por se tratar de guarnição, aproveitaram sua superioridade numérica para escolher seus atos, defender as próprias vontades, o que, às vezes, é questão de sobrevivência. Porém, quando está em jogo apenas o triunfo da vaidade, não existe respeito, apoio, proteção, quem dirá sobrevivência.

Quem dera isso fosse só uma piada sem graça e sem noção. Mas não, é também sórdido. Poderia ser só uma briga de egos por poderes de quem pode isso ou aquilo dentro da sua instituição mas foi e é,  diariamente, machismo.