O populismo engalfinhado

Víctor Daltoé dos Anjos
Bacharel em Geografia/UFSC
victordaltoe@gmail.com

A onda nacionalista e extremada que se alastra pelo mundo é evidente em diversos continentes. Entretanto, os últimos acontecimentos dos meses e dias passados têm mostrado o quanto esse aparente consenso de líderes patrióticos é na verdade uma teia de discórdia.

No início de 2017, Jair Bolsonaro lançou apoio explícito a Marine Le Pen, candidata na época à presidência da França pelo partido populista de direita, Front National, que prega a luta contra a imigração, os islâmicos, a União Europeia, a globalização, o neoliberalismo. O pai de Marine, Jean Marine Le Pen, foi um dos expoentes desse tipo de campanha, nos anos 1990, lançando para o mundo um modelo de líder populista de direita que fala para o coração aflito das massas, lançando nos seus discursos bombas atômicas típicas de cabeças vazias.

Jair lançou seu apoio a Le Pen dizendo “Estou com o Front National. Contra o terrorismo, pela pátria, e pela tradicional família francesa”. Porém, a resposta da líder da direita extrema francesa não foi a que Bolsonaro esperava. Le Pen afirmou “Não dialogamos com ‘políticos’ do terceiro mundo. Desde que começaram com esse mi-mi-mi de quererem independência, os países latino-americanos, asiáticos e africanos roubaram centenas de milhares de empregos dos administradores europeus”. Como se não bastasse, fincou o punhal da recusa na boca do estômago de Bolsonaro com a frase “Jair é apenas mais dos macaqueadores de papai. Há vários desse tipo no mundo hoje, inclusive aquele que ocupa a presidência dos Estados Unidos. Virou modinha”.

Isso em si mostra os pontos sensíveis na teia de domínio do populismo. Nesta semana, o líder da extrema-direita italiana Matteo Salvini, em reunião com Marine Le Pen para debater a expansão da direita na Europa, celebrou a notícia do alto índice de votos de Jair Bolsonaro no Brasil no primeiro turno como um bom sinal para os ideais que todos esses líderes partilham. Le Pen, entretanto, novamente mostrou desconforto, apenas afirmando que se sente satisfeita com a expansão da direita populista na Europa como um todo.

Podemos ver que a favorita de Bolsonaro coloca acima de tudo o seu ideal nacionalista, desprezando o brasileiro. Isso porquê o nacionalismo extremado pouco afeito à democracia é o único vínculo que permite colocar esses líderes no mesmo balaio de gatos pardos. O que os une é o mesmo que os leva ao ódio patriótico.