O ensino de uma língua nefasta

Maycon Vianna

Professor de Língua Portuguesa, especialista em redação

Desde os primórdios do desenvolvimento da comunicação entre os povos, a linguagem não é somente um mero instrumento social. As primeiras comunicações escritas (desenhos) de que se têm notícias são das inscrições nas cavernas em oito mil anos a.C. Os homens das cavernas, por exemplo, com seu cérebro rudimentar, deviam comunicar-se por meio de gestos, posturas, gritos e grunhidos, assim como os demais animais não dotados da capacidade de expressão mais refinada.
Com o passar do tempo, essa conversação adquiriu formas mais claras e evoluídas, o que facilitou o entendimento não só entre os povos de uma mesma tribo, como entre grupos diferentes. Porém, ao contextualizar esses fatos com a prática do ensinamento contemporâneo da Língua Portuguesa nas salas de aula, notar-se-á um atraso preocupante nas práticas pedagógicas aplicadas no processo de ensino-aprendizagem dos educandos, notadamente aqueles em fase de conclusão do Ensino Médio. O maior problema é a deficiência de letramento que atinge maioria de nossa população (75% dos brasileiros são analfabetos funcionais). Os estudantes não têm uma base sólida do conteúdo de linguagens.

O escritor Marcos Bagno é firme em sua posição ao dizer que o ensino da Língua Portuguesa no Brasil é um fracasso. Procede a fatos contundentes ao partir de vertentes que, ressalvadas exceções, o ensino que se aplica atualmente prioriza a transmissão de conteúdos gramaticais e privilegia uma série de informações empilhadas, por meio de uma metalinguagem que visa ao reconhecimento e à classificação dos artifícios insolentes de uma gramática da frase solta, em detrimento da apreciação de sua funcionalidade na organização dos textos, em suma, inserida em uma melhor contextualização.

Por sua vez, pesquisas recentes na área dos estudos neurológicos comprovam que o excesso de informação pode desorganizar e atenuar a capacidade de interpretar dados.

Com base nessas premissas, assegura-se que a escola poderia substituir esse modelo excessivamente informativo e descritivista das normas linguísticas para realçar um ensino mais produtivo, reflexivo e funcional da língua em suas diversas situações.

É preciso, todavia, reconhecer também a textualidade, os meios sociolinguísticos, através da interação de uma ação de linguagem entre um ou mais sujeitos, quando já é notório o baixo rendimento dos vestibulandos em questões de compreensão e interpretação de textos nos exames nacionais e concursos públicos.

Passar anos nas escolas memorizando regras de ortografia, de fonética e fonologia, classes de palavras, flexões nominais, verbais e funções sintáticas, além de decorar conteúdos de literatura, não se traduz em algo efetivo para a vida. Esse tipo de ensino é o que nos leva a chegar nessa situação nefasta do ensino da Língua Portuguesa. E, assim, faz-nos pensar que o cenário pouco evoluiu se compararmos aos ancestrais das cavernas, só que há oito mil anos a.C.