Início Entrevistas “O importante não é dar o que sobra, mas sim o sacrifício”

“O importante não é dar o que sobra, mas sim o sacrifício”

Filho de Tubarão, Rui Lima tem 84 anos, e passou a maior parte de sua vida na Cidade Azul. Em Florianópolis, fez o curso técnico de engenharia mecânica e o concluiu em Curitiba. Já são quase 58 anos dedicados à sua profissão na área de transportes, onde começou como empregado. Foram 16 anos na ‘boleia’ de um caminhão. Com exímia persistência e grande visão empresarial, tornou-se um grande administrador. De seu casamento, o qual ele se refere com muito orgulho, formou uma unida família. São cinco filhos, dez netos e dois bisnetos. 
 
 
Mirna Graciela
Tubarão
 
Notisul – Como foi o início da sua carreira profissional?
Rui Lima – Meu pai possuía uma loja de materiais de construção, que levava o nome da minha mãe Francisca Goulart Lima. Buscávamos mercadorias em outras cidades, trazíamos materiais, como o cimento, por exemplo. E tínhamos um caminhão. Então, comecei a dirigi-lo e gostei da profissão. Passei a viajar, era empregado do meu pai naquela época. Depois, logo em seguida, arrumei um serviço fixo de transportar cimento de Itajaí para a região sul. Mais tarde, um engenheiro químico da Votorantim, me pediu para levar uma amostra de cinza, que ele desejava misturar com o cimento, isto no fim da década de 1960. Então fiz o trabalho, deu certo, e fui contratado para fazer o transporte. Foi desta forma que iniciei, como caminhoneiro. Depois comecei a levar cinza úmida, naquela época a seca ainda não era captada. Na sequência, fizemos um projeto para transportar cinza seca em silos, foi quando fui a Caxias do sul, no Rio Grande do Sul, e conversei com o então diretor da Rondon.  Ele se propôs a fazer um equipamento para mim, mas não deu certo. Foram duas tentativas que não obtivemos sucesso. Então, ele foi para a Suécia, comprou o produto e trouxe. Começamos a fabricar os silos. Os primeiros, no Brasil, que a Rondon produziu quem comprou foi eu. Então, deu certo.
 
Notisul – A Lima Transportes surgiu de que forma? E a sua estrutura hoje, como é?
Rui – Após o processo de mudança em minha carreira, decidi montar o empreendimento. A empresa nasceu devido ao transporte de cinza seca. Foi quando comprei os silos em Caxias do Sul e fundei a firma, em agosto de 1972. Éramos eu, meu pai e meu irmão. Depois comprei a parte dele e o meu pai também quis vender a sua. São 42 anos de trabalho. Hoje, possuímos uma frota de 100 caminhões, inclusive nem tenho este número correto, em função das renovações constantes. Os produtos que mais transportamos são barrilha, usado na fabricação de vidros, e os zeólitos. Mas também atuamos com o cimento a granel, a cinza, o carvão moído, a areia, entre outros. Nossos caminhões circulam bastante no sul do país. Trabalhamos com cerca de dez empresas, entre elas, a Votorantim. Existem 40 caminhões em São Paulo, onde prestamos serviços para a Unilever, uma empresa multinacional. 
 
Notisul – E o crescimento da empresa no mercado de trabalho nestes 42 anos, em meio às mudanças políticas e econômicas no país? 
Rui – Somos muito organizados, com os pés bem no chão. Nosso endividamento não chega a 10%. Adotamos permanentemente um critério: Não é porque ganhamos dinheiro que vamos gastar, é essencial guardar para um imprevisto. Essa é a visão de nossa administração. Em uma época de crise econômica no país que tivemos (há alguns bons anos), a empresa parou por quase três meses e não mandamos ninguém embora. Mantive todos os funcionários.  
 
Notisul – Quantos funcionários a empresa têm e como é a valorização?
Rui – São cerca de 230 empregos diretos, entre motoristas, a parte administrativa e outros. Nossa remuneração não é ruim. Existem motoristas que ganham cerca de R$ 5 mil, eles têm um salário fixo e são comissionados, eles próprios complementam sua renda. Existem empresas que não pagam o fixo, somente a comissão, nós arcamos com os dois. Tudo é registrado em carteira, o que não ocorre em outros empreendimentos, por exemplo. Existem empregados nossos com boas aposentadorias, inclusive de carreira, com cerca de 20, 30 anos. Valorizo muito o trabalho de todos, assim como pensamos em suas famílias, é preciso também olhar para isso. São cerca de 500 pessoas – incluindo-se os parentes dos funcionários – que dependem de nossa empresa. 
 
Notisul – E a participação da empresa na economia de Tubarão?
Rui – A maior parte dos impostos é recolhida por aqui. Acredito que a participação é muito significativa para nossa região, onde vem fornecedores de diversas partes do Brasil, dos quais a gente tem parcerias para o desenvolvimento de produtos e tecnologias, e também o consumo local e regional.
 
Notisul – Sabemos que a empresa, o senhor, faz um trabalho social com as comunidades. 
Rui – Não gosto muito de me aparecer, entende, e de tornar público isto. Então por intermédio do seu Otavio, da Paróquia do bairro Humaitá, faço um trabalho sim. Não sei se vale a pena, mas vou falar. A fome, quando ocorre, não é somente no Natal. Todos distribuem cestas básicas nesta época. Eu não. Faço isto todos os meses. Não somente de alimentos, mas de remédios. Agora na Páscoa distribuiremos chocolates, no Dia das Crianças serão brinquedos e roupas. No último Natal, foram 1,7 mil presentes. Vem pessoas de cidades da região, inclusive. 
 
Notisul – Na área da empresa, tem um grande espaço onde é desenvolvido um trabalho com as crianças da Apae. Como funciona?
Rui – As Apaes de Tubarão e de Capivari de Baixo utilizam nossas acomodações. Há uma estrebaria e as crianças participam da Equoterapia. Isto ocorre praticamente todos os dias. Cedemos o espaço. É um trabalho magnífico que apresenta resultados extraordinários. Tem crianças que não possuem movimentos e progridem significativamente. Um dia me emocionei muito (lágrimas correm de seus olhos ao contar o fato). Uma delas não movimentava o braço e, ao dar o capim para o cavalo, ele não abaixou a cabeça e a criança conseguiu levantar a mão até sua boca. Isso tudo nos dá muita satisfação.   
 
Notisul – Sabemos que o senhor recebeu um prêmio recentemente. 
Rui – Recebi a medalha JK Ordem do Mérito do Transporte Brasileiro no último dia 12, em Brasília. É um prêmio muito importante. E foi a primeira vez que recebemos algo de tamanha magnitude. Foi na Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Os critérios utilizados para premiar as empresas não tenho conhecimento, mas havia a presença de transportadores marítimos, hidroviários, ferroviários, de várias áreas. Da terrestre estavam somente uns quatro. Aqui da região sul foram apenas dois, a Lima transportes, de Santa Catarina, e outra do Rio Grande do Sul. Este prêmio quero dividir com minha família, com todos os meus funcionários e os transportadores de Santa Catarina, pois são merecedores. 
 
Notisul – E os projetos para o futuro empresa?
Rui – Nos mantermos sempre como até hoje na forma como conduzimos tudo e sempre, pensando no desenvolvimento. Sempre temos um projeto de expansão. Quando o empreendedorismo está no sangue, sempre desejamos fazer algo a mais, como por exemplo renovação e aumento de mas tudo depende muito do mercado. É o que manda. Há de se dançar conforme a música. 
  
Notisul – O senhor nunca se envolveu com política?
Rui – Prefiro ficar nos bastidores, participo e exerço meu dever de cidadão, mas ativamente não. Nunca almejei um cargo político, já me ofereceram, mas não aceitei. É tudo muito complicado, minha forma de pensar, de ser, não se encaixaria na política. Tem que ‘engolir sapos’ e isso não condiz com minha educação.   
 
Rui por Rui
Deus – Eterno
Família – Tudo na vida
Trabalho – Faz bem para a saúde
Passado – Muito bom
Presente – Melhor 
Futuro – Que seja ainda melhor 
 
"Nossa família é muito unida, nos encontramos, fizemos as nossas festinhas, compartilhamos todos os momentos, isto é essencial, sou muito feliz, não preciso de mais nada".
 
"Ninguém é mais do que ninguém. Somos todos iguais”
 
“Para ser um bom administrador é preciso, acima de tudo, ter honestidade e sinceridade. É sempre bom administrador".
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