O Estado existe para servir o cidadão, não o contrário

FOTO Divulgação Notisul

A razão de ser do Estado é clara: garantir ao cidadão, por meio dos impostos que ele compulsoriamente paga, condições essenciais para uma vida digna. Saúde, segurança, educação, transporte e infraestrutura são pilares fundamentais da ação pública. No entanto, o que vemos é uma inversão perversa desse princípio. O Estado, que deveria servir à população, passou a existir para se servir dela. Não é de hoje que a estrutura pública se torna um fim em si mesma, inchada, ineficiente e descompromissada com quem a sustenta.

Os recentes resultados eleitorais na Argentina, nos Estados Unidos e no Parlamento Europeu são um sintoma inequívoco de um fenômeno global: a paciência do contribuinte se esgotou. A população está cansada de arcar com uma máquina pública gigantesca que lhe entrega serviços cada vez mais precários. No Brasil, o cenário é ainda mais dramático. Em 2024, o governo federal consumiu R$ 1,7 trilhão dos impostos arrecadados, enquanto o Tesouro Nacional reporta um déficit de mais de R$ 64 bilhões. Em outras palavras, mesmo gastando mais do que arrecada, o governo falha em entregar serviços públicos de qualidade.

A qualidade das estradas deteriora-se, o transporte público é precário, as escolas públicas carecem de estrutura adequada, universidades enfrentam cortes e hospitais públicos são incapazes de atender à demanda da população. A exceção, como sempre, está nos privilégios daqueles que deveriam zelar pelo bem comum. Enquanto a população se espreme em filas do SUS, parlamentares, ministros do executivo e do Judiciário, além de milhares de autoridades públicas, desfrutam de convênios médicos de primeira linha, pagos com dinheiro público.

Esse descompasso fica ainda mais evidente quando analisamos o número de cargos comissionados no Brasil. Enquanto países como a Inglaterra operam com aproximadamente 500 cargos de livre nomeação e os Estados Unidos contam com cerca de 8.358, o Brasil abriga nada menos que 31.900 apenas no Poder Executivo. Esse número desproporcional evidencia um sistema que favorece interesses políticos e compromete a eficiência da gestão pública. A ocupação de cargos sem concurso não apenas aumenta o custo da máquina estatal, mas também fomenta uma cultura de clientelismo e apadrinhamento que perpetua a ineficiência.

E o impacto dessa irresponsabilidade na gestão pública é sentido diretamente no bolso do cidadão. O aumento da carga tributária e a distorção nos preços são reflexos dessa desorganização. O Conselho de Política Fazendária (Confaz) autorizou um reajuste de R$ 0,10 no litro da gasolina, mas nas bombas o consumidor viu o preço subir até R$ 0,50 cinco vezes mais do que o previsto. O impacto no custo de vida é evidente, e quem sofre é sempre a população.

O Brasil precisa urgentemente de uma reavaliação profunda do papel do Estado. Precisamos de um governo que compreenda que os recursos públicos são finitos e devem ser utilizados com responsabilidade. A estrutura estatal precisa ser enxuta, eficiente e comprometida com a entrega de serviços de qualidade. O cidadão não pode continuar sendo apenas o financiador de um sistema que não lhe retribui na mesma medida. A revolta que vemos nas urnas pelo mundo deveria servir de alerta: ou a classe política ajusta suas práticas, ou a insatisfação popular encontrará meios cada vez mais incisivos de se manifestar.