Luciana Flor Correa Felipe*
Estamos na segunda semana de um novo ano. Acabamos de viver um período de comemorações, confraternizações e de muitas promessas, expectativas e esperança com relação a tempos melhores e mais leves em 2024.
Mas o que mudamos em nosso comportamento, atitudes, olhar e análise sobre a realidade, para que mereçamos esse “novo tempo”? Estamos mais envolvidos, solidários, engajados, reflexivos determinados a construir uma realidade diferente?
Há muito que se pensar sobre isso, pois geralmente queremos mudança com a manutenção do status quo. Queremos transformação, sem o nosso envolvimento. Esperamos por algo divino, mágico, como se a realidade que vivenciamos não tivesse sido construída por nós; seja diretamente, seja por nossa conivência, falta de atitude ou indiferença.
A anestesia dos seres humanos, o descuido com o próximo e com os que sofrem, a falta de zelo com a educação, o desdém com a vida e o desprezo pela natureza são exemplos atuais, da vil indiferença, que nos mantêm presos ao atual modelo de mundo, que é totalmente centrado no dinheiro.
Miséria, violência e exclusão estão definitivamente instadas no campo social. Basta circular por qualquer cidade para encontrarmos homens, mulheres e crianças mendigando ou até mesmo partindo para a violência e o roubo para conseguir drogas.
A presença desses excluídos até perturba nossa consciência, mas muito mais porque tememos por nossa segurança do que porque nos importamos com o outro.
Desprezo, falta de interesse e apatia são elementos relacionados à indiferença e, infelizmente esse sentimento vem sendo supervalorizado, pois tornou-se uma forma de “não carregar nas costas o peso do mundo”, de “desligar”, de “abstrair”. Ser indiferente, passou a ser visto como status de blindagem, frente aos demais.
Em função da indiferença, paradigmas que já poderíamos ter sido quebrados há muito tempo, como o trabalho colaborativo e menos competitivo, distribuição de riquezas ao invés de concentração, consumo consciente e tantos outros, são simplesmente ignorados.
Outrossim, a passividade e incapacidade de revolta, assim como a falta de projetos, coletivos ou individuais, parecem ser as principais características desse século.
A indiferença também está presente quando tapamos os olhos para aqueles que sofrem com a fome e com os conflitos ao redor do mundo, quando não conseguimos perceber os impactos desses dissidências em nossas vidas ou quando ignoramos a necessidade de reformularmos continuamente as leis para torná-las adequadas aos anseios da sociedade. Ou seja, quando levamos uma vida centrada apenas em bens materiais e, acima de tudo, quando ignoramos o chamado para mudarmos urgentemente nossa maneira de cuidar do planeta e de nós mesmos.
E é nessa hora que passamos a ser cúmplices das injustiças, pois nunca estivemos tão ameaçados, amordaçados, anestesiados, passivos, porém propensos, a se exterminamos uns aos outros.
Parafraseando Martin Luther King: “O que preocupa não é o grito dos maus, mas sim, o silêncio dos bons”.
*Consultora em atividades relacionadas a Inovação e Empreendedorismo e CEO da Integrative – Desenvolvimento Organizacional e Profissional. Possui Doutorado em Educação Cientifica e Tecnológica, Mestrado em Educação, Graduação em Serviço Social e Graduação em Pedagogia. Estuda as implicações sociais da Ciência e da Tecnologia, no intuito de debater sob uma perspectiva crítica, a equação civilizatória contemporânea e fomentar uma postura reflexiva na sociedade.