Uma pesquisa realizada pela Plan International Brasil em nove países da América Latina, África e Sudeste Asiático revela que as meninas são as mais afetadas na divisão do trabalho doméstico, sendo responsáveis por mais de cinco horas diárias de afazeres como cuidar dos irmãos e ajudar nas tarefas da casa. O estudo, realizado entre fevereiro e abril deste ano, envolveu entrevistas com 92 meninas de países como Brasil, Benin, Camboja, El Salvador, Filipinas, República Dominicana, Togo, Uganda e Vietnã.
Segundo o levantamento, a sobrecarga de tarefas afeta negativamente o desempenho escolar das meninas e as impede de se dedicar ao estudo e ao lazer, comprometendo seu futuro e bem-estar. A falta de tempo para atividades educacionais as mantém em ciclos de pobreza e desigualdade. Cynthia Betti, CEO da Plan International Brasil, destaca que as meninas, sem tempo suficiente para construir um futuro melhor, continuam presas a uma realidade de desigualdade.
Impacto da sobrecarga nas meninas
As meninas têm se dedicado a tarefas domésticas e de cuidado familiar, como cuidar de irmãos mais novos e de avós, por mais de cinco horas diárias. Isso tem causado sérios impactos na saúde física e emocional, incluindo estresse, falta de sono e sentimentos de solidão. Muitas relatam que a pressão das tarefas interfere no seu desempenho escolar, e 20% das entrevistadas disseram ter abandonado os estudos devido à sobrecarga.
- Falta de tempo para estudar: A dedicação ao trabalho doméstico compromete as horas de estudo e aprendizado.
- Isolamento social: A sobrecarga de tarefas reduz o tempo de lazer e o convívio social.
- Evasão escolar: O estudo constatou que a falta de apoio e divisão justa de tarefas está levando muitas meninas ao abandono escolar.
Efeitos econômicos e sociais
O impacto da sobrecarga de tarefas vai além do ambiente doméstico. Segundo especialistas, a evasão escolar das meninas afeta sua preparação para o mercado de trabalho, o que pode resultar em menores oportunidades de emprego e uma participação reduzida na economia. Isso tem consequências econômicas graves, prejudicando o PIB dos países e dificultando a erradicação da pobreza.
Ana Nery Lima, cientista social da Plan International, observa que a desigualdade de gênero no trabalho doméstico é uma realidade em mais de 80 países e que o quadro exige mudanças urgentes para garantir um futuro melhor para as meninas.
Divisão de tarefas e políticas públicas
Para reverter esse quadro, é necessário garantir políticas públicas que assegurem o direito à educação das meninas e promover uma divisão mais justa das tarefas domésticas dentro das famílias. A Plan International e outras organizações esperam que discussões como as do G20 resultem em ações para combater a desigualdade de gênero e promover a responsabilidade compartilhada dentro dos lares.
Kit Catterson, gerente de pesquisa da Plan International, enfatiza a importância de incentivar a participação de homens e meninos nas tarefas de cuidado, o que contribuiria para uma dinâmica familiar mais equilibrada e saudável.
- Educação e equidade de gênero: A educação é vista como a principal ferramenta para romper o ciclo de desigualdade.
- Necessidade de políticas públicas: A promoção de um ambiente familiar mais justo requer políticas públicas que incentivem a redistribuição das responsabilidades dentro de casa.
Expectativa no G20 e ODS
A Plan Internacional e outras organizações ressaltam a importância do reconhecimento das atividades de cuidado e domésticas não remuneradas, conforme os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente a meta 5.4, que busca a valorização do trabalho de cuidado e a promoção de uma divisão mais equitativa das responsabilidades familiares.
Fonte: Agência Brasil