A aprovação, na última semana, pela Câmara Federal de uma medida que limita os reajustes do salário mínimo até 2030 representa um retrocesso social e econômico de proporções alarmantes. A decisão não apenas compromete o poder de compra dos trabalhadores brasileiros, mas também agrava a desigualdade ao penalizar aposentados e pensionistas que já contribuíram para o desenvolvimento do país.
O salário mínimo é mais do que um indicador econômico; é um pilar de justiça social que assegura o mínimo de dignidade aos trabalhadores e suas famílias. Ao limitar seus reajustes, via Lei aprovada no Congresso Nacional, o governo compromete a renda de milhões de brasileiros que dependem dele para sobreviver. A justificativa de economizar R$ 110 bilhões nas contas públicas em 2025 não pode sobrepor-se ao impacto devastador sobre as pessoas mais vulneráveis. A medida demonstra, mais uma vez, que o ônus da crise econômica recai desproporcionalmente sobre quem menos tem.
Reduzir o poder aquisitivo da população não é apenas socialmente injusto, mas também economicamente contraproducente. Com menos dinheiro circulando, a economia perde força, o consumo retrai, e o país cresce menos. O que parece ser uma solução fiscal pode, na verdade, gerar mais problemas, criando um ciclo de estagnação econômica que prejudica a todos, inclusive o próprio governo.
A medida é ainda mais grave quando analisada à luz das novas regras do chamado “arcabouço fiscal”. O afrouxamento da Lei de Responsabilidade Fiscal, que por décadas impôs limites aos gastos públicos, não trouxe a prometida modernização, mas sim a ampliação do descontrole fiscal. O resultado é um Estado que continua gastando de forma desordenada e transfere a conta para os trabalhadores. É inadmissível que, em um país com altos índices de desigualdade, sejam justamente os assalariados e aposentados os primeiros a pagar por erros de gestão e prioridades mal definidas.
Enquanto o governo afirma que a medida é necessária para equilibrar as contas públicas, outras áreas continuam a receber vultosos recursos. Gastos desnecessários, como os bilhões de reais liberados aos deputados e senadores como “orçamento secreto” em emendas impositivas, privilégios de setores específicos e a falta de uma reforma tributária justa mostram que existe, sim, espaço para cortar despesas sem sacrificar a população trabalhadora. O problema não é a falta de recursos, mas a escolha de como e onde alocá-los.
No fim das contas, a limitação dos reajustes do salário mínimo é uma escolha política que evidencia o descaso com os mais pobres e beneficia quem está no topo da pirâmide, especialmente os políticos. Os trabalhadores, que já enfrentam desafios como inflação alta, desemprego e precarização das condições de trabalho, agora terão que arcar com mais essa penalidade.
É preciso resistir a medidas que comprometem o bem-estar de milhões para manter privilégios e sustentar um modelo político e econômico ineficaz. Limitar o reajuste do salário mínimo não é apenas uma questão técnica ou fiscal; é uma escolha que reflete as prioridades de um governo. E, infelizmente, mais uma vez, essas prioridades parecem estar distantes da realidade da maioria dos brasileiros. É hora de exigir um modelo econômico que promova justiça social e valorize quem realmente move o país: os trabalhadores.