Zé das Raquetes, das mãos calejadas à arte da sobrevivência

Rafael Andrade

Tubarão

Em sua aconchegante marcenaria de quatro metros quadrados nos fundos de casa na rua Dário Farineli de Medeiros, número 412, bairro São João – margem esquerda, em Tubarão, as mãos calejadas de José Batista Oliveira Caetano, o Zé das Raquetes, deslizam sobre serras e lixas e criam o seu sustento e os dão dignidade. Com eu sorriso farto e carisma sem igual, o tubaronense de 62 anos, que mora com mãe, 79, sua irmã e um cunhado, deixa de lado os problemas que enfrenta devido a uma paralisia infantil aos 8 meses de vida, e encara a vida com muita vontade de ser feliz, e assim é, segundo ele mesmo relata.

As raquetes, cabides e tábuas de carne surgem após perfeita sincronia de desenhos exatos. Da forma rabiscada, porém milimetricamente, na madeira, após serrar e tirar o excesso de farpas, a serragem vai ficando para trás e, com os pulsos e mãos empoeirados, Zé vai fazendo o seu estoque para, então, deixar seu lar e ir à luta. Ele sai, com o seu triciclo elétrico, duas vezes no mês às ruas para vender sua produção. É muito conhecido nas ruas de Tubarão, onde negocia seu material nos semáforos do Centro. Também vende na Praia do Mar Grosso, em Laguna. Em dezembro, costuma vender todos os dias, aproveitando a época de Natal.

Zezo para os familiares e amigos próximos, que anda com dificuldades devido à paralisia, estudou até a antiga 3ª série do ensino fundamental. Passou 15 anos na Apae, onde aprendeu os dotes de artesão. Apesar do aposento devido à doença, o dinheiro é pouco e, conforme ele, ficar parado é para preguiçosos. “Sou grato a Deus por eu poder trabalhar. Assim não fico parado e ainda consigo um dinheirinho para ajudar em casa. Toco minha vida de maneira muito normal. Estou sempre na luta e irei produzir até quando Deus me der a oportunidade e saúde”, pede. O pai, falecido há 30 anos, era grande inspiração, como ainda é sua mãe. Um ajuda o outro. “É muita cumplicidade, mãe é amor, é tudo”, define Zé.

No lado sentimental, diz estar conhecendo uma pessoa, mas prefere não entrar em detalhes. Uma novidade neste ano é que vai entrar na vida pública. Garante ser pré-candidato a vereador. “Tenho muitos projetos”, resume.

Indagado sobre felicidade ele afirma: “Sou muito feliz. Agradeço todos os dias de manhã a Deus, rezo um Pai Nosso e digo: Bom dia, Senhor, eu quero te acompanhar por mais um dia”. Zé observa que muitas calçadas e ruas não oferecem acessibilidade e há muito que melhor nesta questão de mobilidade urbana.

Ajuda

Uma questão urgente que o ilustre tubaronense pede à comunidade ou algum empresário é um motor à gasolina para o seu triciclo elétrico. “Não consigo subir o morro de casa, pois a potência é fraca. Se tivesse um motor, seria bem melhor, facilitaria minha vida. Dá para adaptar na minha bicicleta de três rodas”, garante.

Para quem puder apoiá-lo nesta questão, basta entrar em contato com ele por meio do celular (48) 991097710. “Agradeço a todos que até hoje compraram meu material. É ao povo da rua, que trafega pelos semáforos, que devo minha gratidão”, conclui o simpático trabalhador tubaronense.