Voyeurismo: ter prazer em admirar o outro é mais comum do que se imagina

Todos os sentidos assumem um papel relevante para a expressão da sexualidade, mas, convenhamos, o olhar é normalmente o mais usado. Não é à toa que as cenas eróticas dos filmes e a pegação em reality shows, como “Big Brother Brasil” (Globo) e “De Férias com o Ex” (MTV Brasil), acabam repercutindo tanto entre o público.

“Desde as primeiras pesquisas populacionais sobre comportamentos sexuais, realizados nos anos 1940 e 1950 pelo Instituto Kinsey, estudiosos concluíram que tanto o homem quanto a mulher são dotados de um componente que pode ser chamado de voyeur”, conta Oswaldo Martins Rodrigues Jr., terapeuta sexual, diretor do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade) e autor do livro “Parafilias – Das Perversões às Variações Sexuais” (Zagodoni Editora).

Ou seja, todos, em algum momento da vida, podem se sentir excitados ao observar situações sexuais. E é esse olhar que direciona escolhas, práticas e até preferências. “No ser humano, a visão é um sentido extremamente importante. E, como o sexo é essencial para a maioria de nós, é natural que o olhar seja utilizado sempre que possível, para aprender ou para ter prazer”, diz Carlos Eduardo Carrion, psiquiatra especializado em sexualidade.

Embora o senso comum pregue que os homens são mais visuais do que as mulheres no sexo, a verdade é que as diferenças no quesito voyeurismo têm a ver com a construção social dos papéis de gênero. Mais homens reconhecem que se excitam com cenas sensuais e eróticas, mas mulheres também sentem prazer ao vê-las, mesmo que falem pouco sobre isso. A questão é que a mulher foi ensinada a se expressar com contornos mais românticos, enquanto os homens assumem o viés pornográfico”, diz Rodrigues Jr.

É por isso que os filmes pornôs tradicionalmente priorizam os closes ginecológicos, enquanto as produções eróticas feitas para mulheres investem no contexto.

O lado voyeur pode ser canalizado de várias formas, dependendo do aprendizado que a pessoa tenha vivido nas duas primeiras décadas de vida. Experiências infantis, como observar os pais em situações pré-sexuais, modelam o que um homem ou uma mulher procurará para se excitar na vida adulta visualmente.

“A curiosidade pode ser aguçada por esse lado voyeur, mas isso depende muito de pessoa para pessoa”, pontua Denise Figueiredo, psicóloga e sócia-diretora do Instituto do Casal. Ela diz que muitos casais têm esse fetiche e costumam explorar as opções entre si. “Tudo o que for feito de forma consensual é válido e enriquece a relação. Mas é necessário olhar o voyeurismo como forma de se conectar e de admirar o outro. É uma construção entre os parceiros.”.

Assim, ver filmes eróticos juntos, se observar em plena ação por um espelho, frequentar casas de swing e ir a shows de striptease podem ser algumas das diversas formas disponíveis que um casal para que o casal incorpore um toque de voyeurismo no relacionamento desde que, vale frisar, o fetiche seja consensual e que ambos estejam à vontade com a fantasia.

O voyeurismo passa a ser um perigo quando a pessoa se torna refém do sentido da visão para ter tesão e quando não encontra prazer no sexo convencional. Há até quem acabe colocando a própria integridade em risco ao invadir a privacidade alheia sem autorização –observando os vizinhos, por exemplo, com binóculos ou telescópios. À medida que o ato de observar gera mais angústia do que prazer, vale procurar ajuda.