‘Vamos dar ênfase no enfrentamento a todo tipo de criminalidade’, diz Aras

Sete dias após ser aprovado em uma sabatina no Senado, o subprocurador Augusto Aras tomou posse como procurador-geral da República na manhã desta quarta-feira (2), em Brasília. O evento ocorreu na sede do Ministério Público Federal (MPF). Ele assume o lugar deixado por Raquel Dodge.

O mandato de um procurador-geral dura dois anos. Ao assumir o cargo, Aras prometeu expandir a operação Lava-Jato para estados e municípios, além de atuar para promover o desenvolvimento econômico do país. O novo procurador-geral já montou sua equipe e começou a trabalhar assim que foi aprovado pelos senadores. 

Hoje, o PGR deve indicar novos nomes para o quadro de funcionários na cúpula do órgão. No primeiro discurso de Augusto Aras efetivamente como procurador-geral da República e novo chefe do Ministério Público Federal (MPF), ele centrou a sua fala no combate à corrupção. Aras ainda defendeu um comprometimento mais técnico dentro do MPF e fez gestos, muito claramente, de agradecimento à indicação do presidente Jair Bolsonaro por ter sido incumbido à “mais alta missão de guardião do estado democrático de direito nos próximos dois anos”. 

“É um momento exímio para mim, em particular, para a alta responsabilidade que passo a ter. Sob a proteção de Deus, assumo nesta cerimônia a missão de comandar a Procuradoria-Geral da República (PGR). Estou consciente da importância e gravidade do encargo. Aceito possuído na fé inabalável e nos valores cristãos de não trair, não desertar e não me render no cumprimento dos sagrados deveres da nossa pátria e dos seus cidadãos”, disse o novo procurador-geral da República.

Aras ainda fez questão de frisar que, durante sua passagem como procurador-geral da República, a prioridade do MPF será o “enfrentamento intransigente à corrupção”. Ele citou o trabalho feito pelo hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, à época em que ele era juiz federal em Curitiba (PR), ao comentar que “a Lava-Jato trouxe ao conhecimento da nação práticas implantadas há décadas. O Moro, assim como outros magistrados, sempre serão lembrados com a coragem que desempenharam suas funções”.

“A PGR vai continuar com maior ênfase no enfrentamento a todo tipo de criminalidade, da macro ou da mínima, que esteja em qualquer cultura ou organização pública ou privada. Esse é o compromisso que assumimos e é nesse compromisso que conto com um corpo de colegas, congêneres por linhas, com disposição de contribuir para que o país seja elevado ao status que merece, de desenvolvimento social, com todos os valores e garantias sociais e de respeito ao meio ambiente”, declarou Aras.

Aras foi bastante aplaudido. Entre convidados e autoridades, cerca de 200 pessoas acompanharam a cerimônia. Apesar disso, as palmas, na sua maioria, vieram de pessoas fora do MPF, e não de procuradores e subprocuradores que estiveram no auditório da PGR.

“Eu sou o rei e ele, a rainha”

Jair Bolsonaro também falou aos presentes. O presidente elogiou Aras e o trabalho desenvolvido pelo MPF, mas optou por um discurso mais político, fazendo referências mais às autoridades presentes do que, necessariamente, às polêmicas e controvérsias travadas ao longo da indicação do novo chefe do PGR.

“O nosso MPF, com independência, altivez e bons propósitos, tem sim ajudado, e muito, o Brasil. Mas um apelo que faço a todos os MPs é que, por muitas vezes, se nós estivermos num caminho não muito certo, nos procure para que possamos corrigir. Corrigindo é muito melhor do que uma possível sanção lá na frente. Somos humanos. Erramos, mas é o nosso compromisso, em especial das autoridades que estão aqui. O Brasil depende da ação de cada um de nós”, afirmou o presidente.

As declarações do pesselista foram recheada de piadas. Por mais que não tenham sido desastrosas do ponto de vista político, foram pouco usuais no ambiente de uma corporação que trata de temas espinhosos, que vão tanto de investigação de corrupção a questões ambientais e de minorias. Mas, de forma geral, Bolsonaro conseguiu agradar os políticos presentes.

Durante os cerca de 10 minutos que falou ao público, Bolsonaro comparou o sistema político brasileiro a um tabuleiro de xadrez, e elencou Aras e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, dentre outros, cada um com uma peça do jogo.

“Prezado Augusto Aras. Conversamos, sim, muitas vezes, sobre o que eu sonhava e o que Vossa Excelência também sonhava. Eu até fiz uma comparação. Se fosse jogo de xadrez, Aras seria a rainha e eu, o rei. O Rodrigo Maia, uma torre. A outra torre, o Alcolumbre. O cavalo, no bom sentido, seria o Dias Toffoli. E os ministros, os peões”, disse Bolsonaro. “Mas, nesse jogo de xadrez, a independência que as peças têm que ter para poder trabalhar é a garantia do sucesso no cumprimento da missão”, completou.