União entre surfistas e pescadores no Sul de SC marca temporada da tainha

Laguna/Imbituba/Garopaba

Apesar do atraso, o frio finalmente chegou ao Sul do país, e os cardumes de tainhas também, e mais uma vez, em grandes quantidades. Algumas prefeituras e colônias de pesca reafirmaram o compromisso para a colocação de placas informativas sobre a proibição de esportes náuticos, ou alertas para os sistemas de bandeiras.

Em reuniões realizadas em Imbituba e Garopaba, entre pescadores e surfistas, com avais das prefeituras, ficou acordado quais praias estariam fechadas para prática de esportes náuticos, as que estariam liberadas e as que teriam o sistema de bandeiramento como sinalizadores.

Semana marcada pela integração entre surfe e pesca

Antes dos primeiros cardumes chegarem à costa Sul catarinense, pescadores e surfistas estavam apreensivos. Uma boa parte deles já conscientes que o momento era a manutenção de uma das maiores tradições ainda vivas na cultura do Estado. Até agora nenhum incidente foi registrado na região.

E nesta última semana, que o frio e o vento Sul chegaram com tudo, as tainhas apareceram, e cerca de 30 toneladas foram pescadas em um só dia. Em Garopaba, Imbituba e Laguna, que no passado ficaram marcadas pelas históricas confusões nesta época, hoje a paz, aparentemente, reina absoluta. 

Laguna: União e tradição

Em Laguna, puxados pela galera da ASTFSM, do Farol de Santa Marta e Atowinj, tendo João Baiuka, Reinaldo Rlj – presidente da ASTFSM -, Tiago Jacaré e cia., a convivência vem sendo pacífica há alguns anos. E esse orgulho Baiuka faz questão de mostrar nas redes sociais todos os anos. 

Imbituba: ASI quer surfe e pesca unidos

Em Imbituba, a primeira cidade a implantar o sistema de bandeiras ainda no início da década de 1990, em acordo firmado entre a Associação de Surf Imbitubense (ASI) – e os pescadores, há muitos anos não sofre mais esta rivalidade entre as duas categorias, que marcou as temporadas passadas. Hoje, cada praia determina a melhor forma para atravessar a temporada. 

Na Ribanceira, assim como algumas outras em Imbituba, o curioso é que a praia fica fechada para o surfe, e muitos surfistas ainda contribuem com a manutenção da tradição, e ainda puxam as redes para ajudar. Apesar disso, mesmo após a temporada da pesca já ter se iniciado, o surfe rolava solto antes dos cardumes realmente encostarem. 

Praia do Rosa (Porto Novo): Respeito ainda não prevaleceu este ano

Na Praia do Rosa (canto sul), também em Imbituba, a tensão rolou solta na temporada passada (2017), e todas as manhãs manadas de surfistas já estavam na água antes do amanhecer. Isso gerou grande desconforto entre pescadores e surfistas que não se entendiam, mesmo o Rosa Norte estando livre para a pratica do surfe. 

Neste ano, os cardumes são pescados no Rosa, mas os surfistas ainda não entenderam a reivindicação dos pescadores, e quem sabe por isso, não há um entendimento entre as duas classes. Mas, a turma da prancha ainda pleiteia a prática do esporte em dias em que os barcos não conseguem entrar o mar. E a bandeira de sinalização, quando colocada, não sobe para liberar o esporte.

Praia da Vila: Um caso à parte

A praia da Vila, em Imbituba, é um caso à parte nesta história. Como a primeira a receber o sistema de bandeiras na história do surfe catarinense, hoje poucas vezes se nota que a bandeira está lá, e que, a qualquer momento pode ser erguida. 

Após o falecimento do senhor Joaquim, há alguns anos, líder dos pescadores naquele local, quase não se vê mais o caminhão com canoas a se esgueirarem pela praia. E um fato típico é que os cardumes são cercados mais para o meio da praia, no local conhecido como Castelinho. Mesmo assim, o alerta existe e todos sabem que a praia é dos pescadores nesta época.

Garopaba: Oficialmente tudo correndo bem

A prefeitura de Garopaba, por meio da Secretaria de Agricultura e Pesca, promoveu uma reunião junto com os pescadores e surfistas antes do início da temporada, com objetivo de formalizar um acordo entre ambas as partes para o período de pesca da tainha, que vai de 1º de maio a 31 de julho.

Participaram do encontro os proprietários de embarcações da pesca da tainha artesanal (arrasto), surfistas, associações de pesca e surfe e Polícia Militar. “O intuito da reunião foi manter o acordo entre os pescadores e surfistas, que é importante para haver harmonia entre as partes”, comenta o secretário de Agricultura e Pesca da prefeitura, Edevaldo Gonçalves.

“O acordo é firmado em Garopaba há quase duas décadas e é tido como exemplo em nosso Litoral, pelo respeito que entidades de surfe e pesca têm por ele, por isso o empenho em manter. Nosso trabalho se concentra na organização e divulgação”, completa Gonçalves.