Tubarão: Abrigo dos Velhinhos é acusado de maltratar internos

Há algumas semanas, o Notisul tem recebido denúncias sobre maus-tratos no Abrigo dos Velhinhos, no bairro São João Margem Esquerda, em Tubarão. Os denunciantes são filhos dos idosos, advogados, voluntários, ex-funcionários e funcionários.

De acordo com os denunciantes, os internos sofrem há anos com desnutrição, desidratação e falta de cuidado. “Como são poucos os funcionários, eles são obrigados a fazerem as suas refeições sem a colaboração de um servidor. Com isso, os alimentos caem no chão e eles também não conseguem tomar água. Acabou o tempo das refeições, quem comeu, comeu e quem não se alimentou fica para o próximo horário, como o café da tarde. Assim, o tempo passa e muitos foram parar no hospital neste ano com diagnóstico de desidratação e desnutrição”, pontua um ex-servidor.

Conforme uma ex-funcionária, os idosos sofriam muito em períodos mais frios. Ela conta que a instituição possui poucos banheiros e um grupo dos internos utilizavam o local praticamente juntos. “ O horário do banho ocorre todos os dias por volta das 7h. Precisávamos levar aproximadamente quatro ou cinco idosos em grupos de homens, ou mulheres. Eles ficavam praticamente nus esperando o seu horário para entrar no chuveiro. Diversos funcionários achavam essa situação desumana e vexatória”, lamenta.

Segundo voluntários, os maus-tratos não eram percebidos inicialmente, no entanto, aos poucos pôde ser percebido por muitos. Alguns contam que os cartões de benefício dos idosos tinham que ser entregues a direção da instituição. Os filhos ou responsáveis eram convidados a deixar os cartões. Os internos de acordo com os denunciantes não têm o direito de ficar com nem menos 30% dos salários.

Os denunciantes informam ainda, que os alimentos que tinham a validade vencida, eram ‘enterrados’ em pés de bananeira na instituição. Não era autorizado a doação de alimentos para outras instituições que também necessitavam desse apoio antes e durante à pandemia da Covid-19.

O Portal Notisul teve acesso ao inquérito Policial instaurado em julho deste ano. O fato mencionado era negligência e apropriação de proventos de idosos. Em seu depoimento, a ex-funcionária relata que a situação na casa tem se agravado muito. Os internos na época não tinham um profissional médico, não podiam contar com voluntários que colaboravam com serviços de fisioterapia. Além disso, a administração do local negava-se a fazer mais contratações sabendo que o número de servidores era insuficiente.

A ex-servidora afirma que a arrecadação do dinheiro dos internos que lá estão é realizada de maneira suspeita. Quando os valores são pagos em dinheiro no abrigo, eles são relacionados como doações. Os cartões de benefícios/aposentadorias dos idosos segundo a ex-funcionárias foram distribuídos entre membros da diretoria do ‘Clube das Ladys’, que sacam e repassam o montante para a direção da instituição.

No inquérito foi relatado que um idoso tomou ‘um banho’ de balde porque urinou em um lugar inadequado. Também foi mencionado que alguns funcionários prestam serviço de má qualidade, com falta de higiene e sem nenhum cuidado. Os idosos sofrem quedas, ficam com pouco agasalho, sofrem hematomas e apanham na cabeça de funcionários sem preparos. Também há relatos que a alimentação não é adequada. Há nutricionista, mas atua de forma figurativa.

Sobre os hematomas, os ex-funcionário asseguram que muitos demoram a cicatrizar por falta de cuidado e por não possuírem material necessário. O Notisul teve acesso as imagens com ferimentos, escaras e também com pacientes com curativos.

Ministério Público

Há um inquérito tramitando desde 2017 no Ministério Público de Tubarão, porém até meados desde ano nenhuma oitiva tinha ocorrido. Recentemente a diretora da instituição, Schirlei Terezinha da Rosa Mendonça, foi questionada sobre a falta de reforma no abrigo e ela respondeu que não poderia expor os idosos aos riscos da Covid-19. Assim, as obras de manutenção ficariam para um período mais apropriado.

A equipe de redação do Notisul buscou contato na última semana por e-mail e por telefone com a 4ª Promotoria do Ministério Púbico da Cidade Azul. Por e-mail não ocorreu respostas e por telefone houve a confirmação do e-mail, porém que ele seria respondido em outro momento.

Na sexta-feira (23), por volta das 16h, a equipe do Notisul entrou em contato por telefone com a corregedoria do Ministério Público em Florianópolis, e repassou as informações que ocorrem desde 2017 e também sobre o e-mail não respondido. A redação foi informada que deveria registrar a informação para a corregedoria por e-mail. Por volta das 16h44 recebemos a confirmação do e-mail e às 17h22, já havia um protocolo da solicitação.

Direção da Instituição

A equipe do Notisul entrou em contato com a diretora da instituição, Schirlei Terezinha da Rosa Mendonça, e questionou sobre os possíveis maus-tratos. Em um primeiro momento, a diretora pediu que entrássemos em contato com a vigilância sanitária de Tubarão, entretanto, relatamos que a acusada como representante do local era a direção e não a vigilância da Cidade Azul.

Ela foi questionada sobre os possíveis maus-tratos, a apropriação indébita do montante dos idosos, negligência, alimentos que eram jogados fora, sobre as acusações de familiares, advogados, voluntários e ex e atuais funcionários. Além dos mais de 20 anos à frente do Abrigo dos idosos.

Schirlei que também é idosa afirmou que as denúncias partiram de ex-funcionárias: uma médica e uma enfermeira. Que conseguiram influenciar também filhos de internos. Segundo ela, as informações fogem a verdade.

A direção assegura que os filhos dos idosos optaram por deixarem os cartões dos benefícios no local por serem a cuidadora sabedora do que melhor fazer com o cartão, outros preferem levar o montante direto para a instituição. Negligência não há, os internos são bem cuidados e que as informações dos alimentos colocados nas bananeiras são inverídicas. Os banhos frios não existem e que os mais de R$ 2.6 milhões no banco são oriundos de economias e doações e campanhas realizadas por grupos.

Sobre os 24 anos no comando da instituição, ela contou que segue a vontade do grupo que quer a sua permanência. “Estou há 24 anos, o grupo realiza uma votação e tenho sido a escolhida. Sigo o estatuto. Se for necessário fico mais quatro anos para cuidar dos meus velhinhos. Tenho a curatela de alguns. Nada estragará o meu dia. Conseguimos adquirir uma nova Van para transportar os meus idosos e nenhuma mentira mudará a minha alegria”, expõe.

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