Transtorno Afetivo Bipolar: sem tratamento, a tendência é que os episódios de crise se tornem cada vez mais frequentes

A Organização Mundial de Saúde (OMS), assegurou que o Transtorno Afetivo Bipolar, ou Bipolaridade, alcança atualmente 4,2 milhões de brasileiros. Cada fase do transtorno oferece traços bem marcantes e a intensidade dos sintomas muda de caso a caso.

De acordo com a psicóloga Christina Madeira de Souza Goulart, o Transtorno Afetivo Bipolar, é um dos transtornos mentais em que há oscilação de humor, ou seja, uma alternância no estado de humor, em fases marcadas por específicas, ações, sentimentos e pensamentos. “Importante salientar que estado de humor, ou “humor”, propriamente dito, é para além da alegria e da tristeza expressa. Para os profissionais da saúde o “humor”, caracteriza-se pela energia física e mental e a sensibilidade, sensibilidade de prazer e a sensibilidade à dor, que pode ser física e emocional. Portanto, quando falo que o TAB é um transtorno do humor, estou dizendo que é uma variação da energia psíquica e física com um nível aumentado da sensibilidade que pode variar em muito prazer ou muita dor”, pontua.

Ela destaca que há três classificações, o TIPO I, TIPO II, E CICLOTIMIA. Os sintomas são evidenciados com maior clareza no TIPO I, é o que geralmente busca tratamento. O TAB é nomeado como um Transtorno Maníaco-Depressivo. O indivíduo perpassa por estes dois polos, entre a euforia e a depressão. Trazendo significante o prejuízo que nas relações interpessoais, prejudicando no emprego, nas relações afetivas e amorosas.

A profissional explica que o TAB é considerado uma doença hereditária. “Se na família há ou tenha havido pessoas com algum tipo de transtorno mental como esquizofrenia, depressão, bipolaridade dentre outros, aumenta o risco de desenvolver a doença. Os fatores externos estressantes, podem ser o gatilho para outras crises, uma vez que o aparelho psíquico está despreparado”, conta.

Christina detalha que estudos demonstram que crianças que perderam a mãe antes da idade de 5 anos, tem quatro vezes mais chances de desenvolver a doença. Há ligação também em que traumas e perdas de luto durante a infância seja um fator relevante para os episódios de mania, de acordo com alguns estudos e com os escritos de Glen O. Gabbard, psiquiatra norte-americano.

Sobre o papel da família no diagnóstico e na adesão ao tratamento, a psicóloga observa que a família deve manifestar aceitação incondicional dos sintomas manifestos, para que assim possam juntamente com o indivíduo que o manifesta buscar ajuda psiquiátrica e psicológica. O esclarecimento da família quanto a manifestação da doença será um suporte para a evitação de situações que podem causar maior comprometimento e sofrimento. “Quando um da família sofre, todos os outros também sofrem. Ambos precisam de atenção diante de suas dores, no momento que é olhado e visto, a dor por si só diminui e assim novos horizontes se abrem” constata Christina.

A profissional que atende na Medical Center- Pró Vida- Clínica Juliana Reis, no 8 andar, sala 803, expõe que a manifestação ocorre igualmente entre homens e mulheres, 1×1. A idade de manifestação é variável, pois tem estudos que preconizam ser para homens de 15 a 18 anos e para mulheres entre 25 e 35 anos. “Há uma unanimidade de que ocorre as primeiras crises no início da fase adulta. Estudos recentes descrevem como uma idade média para a primeira manifestação ser de aproximadamente aos 23 anos de idade para TAB Tipo I, e aproximadamente 30 anos de idade para TAB Tipo II”, cita.

Sobre as características do Transtorno Afetivo Bipolar?

Se caracteriza, por haver pelo menos um episódio eufórico, que chamamos de episódio de mania ou hipomania. Aqui torna-se necessário abrir um parêntese; quando descrevo “mania ou hipomania”, que se define com:

• Aumento da energia física e mental, caracterizado por poucas horas de sono, com a disposição não prejudicada, em outras palavras, a pessoa dorme poucas horas de sono e não sente cansaço durante o dia, tem uma disposição além do comum. Faz várias coisas e rapidamente inicia outra, muitas vezes sem terminar o que iniciou. Há uma hiperatividade cerebral e consequentemente motora.

Quanto à energia mental, refiro-me, a aceleração de pensamento, a velocidade da fala e suas variações. A pessoa está conversando sobre um assunto, e vê, ouve ou sente algo, automaticamente sua mente é atraída por esse algo, então, a conversa ramifica. É comum a pessoa dizer: “_Onde eu estava mesmo? Me perdi na conversa, nem sei mais do que estava falando. ”

Em alguns casos a pessoa sente-se desconfortável e insegura.

• Irritabilidade, há uma intolerância com outras pessoas, pois elas não acompanham a velocidade de seus pensamentos e percepções.

• Impulsividade, há uma sensação de poder. A impulsividade, pode direcionar para o uso de substâncias psicoativas, que pioram o quadro, álcool, compras, para além da capacidade financeira, sexo, dentre outras.

A fase da mania pode durar, dias ou meses.

Nesta fase, o sujeito pode virar dias trabalhando e produzindo, o que muitas vezes dificulta a busca por profissionais especializados na área, psiquiatras e psicólogos, para que a intervenção possa atuar de maneira benéfica a sua saúde mental.

A busca por profissional da saúde geralmente acontece em casos em que não há mais produtividade almejada, mas sim, prejuízos instalados. Sendo assim, um familiar ou amigo o leva para o atendimento emergencial, para que possa ser medicado e tranquilizado.

A fase da mania ou euforia é o que aparece na superfície, ela esconde uma profunda dor, uma angústia que não foi reconhecida conscientemente e assim na tentativa de se proteger, o aparelho psíquico encontra um alívio temporário de suas mazelas e de sua dor interior, àquela dor que está escondida nas profundezas. No entanto, se estas dores forem revisitadas com profundo respeito, com o auxílio de um profissional da área, há a possibilidade de ressignificação e ao invés de dor e fuga, revigora a força vital e a qualidade de vida é manifesta, conforme Christina Goulart.

A fase depressiva; nesta fase, a energia é diminuída, não há mais força, as horas de sono são aumentadas, o nível de energia cai, e a sensibilidade à dor e a angústia é aumentada, nesta fase é comum o pensamento de morte e tentativa de suicídio.

Importante cuidar!!! Muitas vezes o indivíduo busca a retomada da produção, por não querer ficar sentindo-se deprimido, então consome por estimulantes; cafeína, energético e outros. É extremamente perigoso, pois tais energias agregam uma determinada força que pode levar ao suicídio, considerando a fase depressiva propriamente uma das características deste transtorno. “Busque um bom psiquiatra e um bom psicólogo para que seja feito o diagnóstico correto e o tipo de tratamento adequado seja proposto”, finaliza.

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