Suinocultura: o cenário é nebuloso para os produtores

#PraCegoVer Na foto, um suíno
Suinocultores de Braço do Norte e região farão um protesto para chamar a atenção dos governos federal e estadual para a situação nebulosa da cadeia produtiva - Foto: Julio Cavalheiro | Governo de Santa Catarina | Divulgação

Diante de uma possível redução no potencial da safra 2021/22 de grãos no Sul por causa da estiagem, o cenário para a suinocultura brasileira neste ano, que já era nebuloso em razão de uma tendência menos positiva para as exportações, deverá se complicar ainda mais.

Membro da Regional Sul da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS) e secretário de agricultura da Prefeitura de Braço do Norte, Adir Engel é categórico: a atual situação da suinocultura na região do Vale do Braço do Norte é desesperadora, em especial para os produtores independentes.

O maior desafio está no custo de produção: cerca de R$ 8,00 o quilo. O milho, principal insumo, tem preço médio de R$ 100,00 o quilo. Em contrapartida, o valor médio pago ao produtor pela indústria não ultrapassa a média de R$ 4,50 por quilo de suíno vivo. Isto significa R$ 3,50 de prejuízo por quilo.

A conta é bem simples: um suíno de 100 quilos custa R$ 800,00 para o produtor. Na venda, ele recebe míseros R$ 450,00 da indústria. O resto – R$ 350,00 – é prejuízo. “Quem aguenta ficar produzindo assim?”, questiona Adir. Bom, quase ninguém, logicamente.

A melhor época do ano para venda de carne é no final de ano. Mas no último dezembro o preço não ajudou. Na região, o quilo da carne dos açougues não passou dos R$ 5,20. O motivo? A superoferta.

Membro da Regional Sul da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS) e secretário de agricultura da Prefeitura de Braço do Norte, Adir Engel é categórico: a atual situação da suinocultura na região do Vale do Braço do Norte é desesperadora, em especial para os produtores independentes – Foto: Divulgação

Empresas, cooperativas e produtores independentes investiram pesado no aumento de plantel por acreditarem que as exportações não diminuiriam. A China foi a aposta maior. Isso gerou uma grande oferta do produto no mercado interno e também externo. Além disso, o país asiático, um dos maiores consumidores do mundo de carne suína, diminuiu a compra desde outubro do ano passado.

“Existe a cota de exportação de pelo menos 200 mil toneladas de suínos e 300 mil toneladas de bovinos para a Rússia agora neste início do ano e também o retorno das atividades do Frigorífico Catarinense, que anunciou que voltará a abater. Mas isso não resolve a situação do produtor”, argumenta Adir.

Ele acredita que, se não for feito com urgência, o setor caminha para uma crise sem precedentes, em especial na região, onde muitos dos produtores consideram deixar a atividade e migrar para outros ramos, como a pecuária leiteira e de corte, por exemplo.

“Infelizmente estamos perto de entrar em uma crise onde não podemos medir as consequências”, avisa. Somente em Braço do Norte, são abatidos em torno de 60 mil suínos por mês, uma média de 720 animais por ano.

Para Adir, a crise anunciada é consequência da falta de planejamento. Os produtores apostaram as fichas no mercado internacional, aumentaram seus plantéis e agora ninguém sabe o que fazer com tantos animais prontos para abate.

“Quando há excesso de oferta, a estabilidade só ocorre quando a oferta diminui. É a lei de mercado. Não há outro meio”, aponta o associativista. A saída mais viável para isso é aumentar o consumo. Mas aí os produtores enfrentam outro problema: o hábito do brasileiro.

Hábito de consumo do brasileiro também dificulta. “O mercado nacional prefere comprar meio quilo de carne bovina do que dois de carne suína pelo mesmo preço”, lamenta Adir Engel – Foto: Canal Rural

“O mercado nacional prefere comprar meio quilo de carne bovina do que dois de carne suína pelo mesmo preço. A maioria das pessoas nem deve ter percebido que o suíno, hoje, no mercado, está, em alguns lugares, mais barato que o frango”, lamenta Adir.

E é verdade. O único que não sentiu esta diferença na balança comercial é o consumidor final brasileiro. O preço do quilo da carne suína nos supermercados não ultrapassa os R$ 13,00 nas grandes cidades. Por aqui, na região, o valor é ainda menor: entre R$ 6,00 a 9,00 o quilo.

 

 

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