PF descarta lavagem de dinheiro em acordos de Flávio Bolsonaro

A investigação da Polícia Federal (PF) concluiu que não há indícios de que o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) tenha cometido lavagem de dinheiro e falsidade ideológica em negociações de imóveis. A informação é do jornal “Folha de S. Paulo”. Ainda segundo o jornal, a PF deve entregar nos próximos dias o relatório com a conclusão do inquérito à Justiça.

O inquérito da PF investiga a evolução patrimonial do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos. Com objetos de investigação diferentes, a conclusão do inquérito da polícia é diferente da apuração até o momento feita Ministério Público sobre rachadinha — prática em que os funcionários devolvem parte ou todo o salário para o gabinete do parlamentar — , quando Flávio era deputado estadual na Alerj.

O Ministério Público do Rio (MP-RJ) suspeita que o senador tenha injetado recursos ilícitos não declarados no total de R$ 2,27 milhões na compra de imóveis e em sua loja de chocolates. O senador nega que tenha cometido qualquer crime.

Ainda segundo o MP-RJ, a compra e venda de apartamentos pelo então deputado estadual e sua mulher Fernanda Bolsonaro, mostra indícios “claros” de lavagem de dinheiro de parte dos recursos obtidos ilicitamente por meio do esquema de rachadinhas. Os promotores responsáveis pela investigação apontam “lucratividade excessiva” nas operações e pagamentos em espécie como indícios de lavagem de dinheiro.

De acordo com as investigações, Flávio e sua mulher compraram dois apartamentos em novembro de 2012 em Copacabana, no valor total de R$ 310 mil. O pagamento foi feito em quatro cheques emitidos ao americano Glenn Howard Dillard, representante dos proprietários dos imóveis. No mesmo dia e na mesma agência em que descontou os cheques, Dillard recebeu depósitos em espécie no valor de R$ 638,4 mil.

Ao revender os imóveis, nos dois anos seguintes, Flávio obteve um lucro total de R$ 800 mil em relação aos valores declarados. Para os investigadores, o dinheiro em espécie recebido por Dillard seria um complemento “por fora” feito pelo casal Bolsonaro para chegar ao valor real dos apartamentos.

A negociação de uma cobertura em Laranjeiras no valor de R$ 2,4 milhões também gerou suspeitas. A venda do imóvel foi usada pelo senador para explicar os 48 depósitos em dinheiro vivo no valor de R$ 2 mil entre junho e julho de 2017 nas contas bancárias dele, considerados suspeitos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Flávio diz que recebeu parte do pagamento da venda do imóvel em dinheiro e que fez os depósitos fracionados, que somam R$ 96 mil, no caixa eletrônico da Alerj por ser o local onde ele trabalhava. O valor de R$ 2 mil por depósito foi feito, segundo o senador, por ser o limite aceito no caixa eletrônico.

Outro caso citado como suspeito de lavagem pelo MP foi a venda de imóveis para uma empresa com sede no Panamá. Entre dezembro de 2008 e setembro de 2010, Flávio Bolsonaro comprou 12 salas comerciais em um condomínio na Barra da Tijuca pelo preço total de R$ 2,6 milhões. Elas foram revendidas em outubro de 2010 por R$ 3,1 milhões para a empresa MCA Exportação e Participações. “Mais do que o preço da transação, chama atenção o fato de a pessoa jurídica adquirente ter como sócia outra empresa com sede no Panamá (Listel)”, aponta o MP.

Segundo os promotores que assinam a peça, “um dos mais tradicionais métodos de lavagem de dinheiro consiste na remessa de recursos ao exterior através de empresas off-shore, sediadas em paraísos fiscais, onde torna-se mais difícil apurar os reais beneficiários das transações envolvendo essas companhias”.