Pedras Grandes: mãe denuncia possível perseguição contra filha em escola e expõe face racista

Estamos próximos do dia 20 de novembro: nesta data é lembrada o Dia da Consciência Negra. Um momento que desperta e motiva a reflexão sobre a história do racismo no Brasil, os seus retrocessos e a sua evolução da consciência social sobre esse tema extremamente sensível. Todos, conhecemos no mínimo, um pouco de história e assim,  somos testemunhas de injustiças históricas que levaram à adoção de posturas e práticas antirracistas.

Após 133 anos da sanção da Lei Áurea, que deveria por fim à escravidão e, apesar de muitos afirmarem em uma ‘roupagem moderna’ que no Brasil não há racismo ou preconceito racial, o país ainda mantém as marcas da escravidão negra. E ela é imposta de diversas maneiras, uma delas, por exemplo, é alegada em uma publicação nas redes sociais pela moradora de Pedras Grandes, Cristina Zelma Mônica, mãe de uma adolescente de 13 anos. A escravidão abordada na publicação é a do cabelo.

“Minha filha estava em aula e uma colega dela cortou as suas tranças. Ela virou-se para traz e perguntou para a menina o por quê daquela ação. A garota respondeu que cortou porque o cabelo dela era de negro, era ruim. Minha filha foi até a professora e comunicou o ocorrido. A docente disse que ela deveria sentar e se acalmar. Posteriormente, essa menina pegou a carteirinha da minha filha e jogou no meio do mato. Ninguém fez nada. O incidente ocorreu numa quarta-feira e no dia seguinte ações como esta foram repetidas no ônibus escolar. Neste dia, ela chegou em casa chorando e disse que não queria ir à escola e explicou o motivo”, lembra

Cristina conta que ligou para a coordenação da unidade de ensino estadual e relatou o fato. A coordenadora da unidade de ensino afirmou que iria conversar com a jovem que supostamente praticou o ato e também com a garota que sofreu a agressão. Porém, a mãe afirma que nos dois dias do ocorrido ninguém fez nada. “Não teve uma atenção devida. Todos os dias ela chora e há quase uma semana. Ela pediu para tirar as tranças e atendemos o seu pedido”, lamenta a genitora.

Nas redes sociais, ela pediu ajuda para lidar com o caso e encontrou apoio com o grupo Novo Impulso. A iniciativa tem tomado todas a providências e destaca que todas as medidas judiciais cabíveis serão realizadas pelo grupo. O Novo Impulso é uma instituição que tem o objetivo de gerar novas conexões e oportunidades, impulsionamento e a defesa da sociedade negra brasileira.

O presidente estadual do Novo Impulso, Paulo César Lopes, falou com o Portal Notisul e garantiu que nesta terça-feira (16), os pais da menina que supostamente sofreu as agressões racistas, os advogados da família e o Novo Impulso estarão na Delegacia de Pedras Grandes para registrar o Boletim de Ocorrência e esclarecer os fatos. Devido ao final de semana e o feriado de 15 de novembro, Dia da Proclamação da República, não foi possível conseguir contato com a Secretaria de Estado da Educação (SED).

Para a população negra, trançar o cabelo é mais do que um código estético, é herança de uma história de resistência, resiliência e ancestralidade, passada entre mulheres, geração após geração. As nagôs, ou tranças raiz permitem construir desenhos geométricos ou símbolos na cabeça apenas por motivos de estilo. No entanto, a história conta um passado cheio de significados sobre elas.

Os Nagôs foram negros escravizados e vendidos na antiga Costa dos Escravos (atuais Togo, Benim e Nigéria, na África Ocidental) entre os séculos 15 e 19. Os trançados feitos por esse povo eram simbólicos. Na Colômbia, por exemplo, nos princípios do século 18, as tranças nagôs representavam mapas de fuga dos escravizados, destaca a socióloga da Universidade Nacional da Colômbia, Lina María Vargas, em sua tese “Poética del peinado afrocolombiano”.

Ela conta que as mulheres faziam as rotas nos cabelos de suas crianças e estabeleciam códigos ocultos para interpretar esse guia formado por nós e tranças, que também marcavam os pontos de encontro.

A doutora em Antropologia Social, pós-doutora em Sociologia e autora do livro ‘Sem Perder a Raiz’, Nilma Lino Gomes, defende que as tranças realizadas pelas mulheres negras são exemplos de força intelectual e cultural. Ela assegura que fazer tranças nos fios crespos é uma tarefa complexa e delicada. Exige destreza, cálculo, perspectiva, cuidado e um profundo senso estético.

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