PCGO cogita indiciar mulher de João de Deus como coautora de crimes

A Polícia Civil de Goiás ouviu nesta quarta-feira (26/12) a esposa do médium João de Deus. Por quatro horas, Ana Keyla Teixeira, 40 anos, contou aos investigadores um pouco da sua rotina ao lado do líder espiritual, preso desde o dia 16 de dezembro. Apesar de ter respondido todas as perguntas, as delegadas responsáveis pela realização da oitiva apontaram contradições na fala da mulher.

Uma possível incoerência destacada pela força-tarefa da polícia goiana é o fato de Ana Keyla ter alegado que não tinha conhecimento das armas e da quantidade vultosa de dinheiro guardadas pelo marido em gavetas e fundos falsos da residência onde vivem há pelo menos 10 anos, em Abadiânia (GO).

“As armas estavam dispostas em locais que nem era preciso revirar roupas para encontrá-las. O dinheiro era deixado em fundos falsos com certo padrão. Para quem vive uma rotina de intimidade  com alguém, é difícil que ela não soubesse desses detalhes”, destacou a delegada Paula Meotti.

Durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão em uma das residência do médium em Abadiânia, a PCGO encontrou R$ 1,6 mihão, cinco armas, um simulacro e munição. O dinheiro estava dividido em notas de euro, dólar, libra, peso e real.

“Certa quantia estava dentro de um baú, facilmente detectado por quem vive no local. Não podemos antecipar nada, mas é um ponto de contradição importante para as investigações”, disse a delegada Karla Fernandes, que também participou do depoimento.

As delegadas ressaltaram ser prematuro dizer que Ana Keyla pode ser apontada como cúmplice de João de Deus ou somente qualificada como testemunha. “No decorrer das investigações, pode ser que ela responda pela posse das armas ou por lavagem de dinheiro, mas é preciso confrontar com outras provas”, ponderou Meotti.

Mais cedo, João de Deus deixou o presídio para prestar depoimento ao Ministério Público de Goiás (MPGO). Aos promotores, afirmou não se lembrar das mulheres que o acusam de abuso sexual, uma vez que atendia aproximadamente 1,5 mil pessoas por sessão. Ele também negou ter praticado qualquer tipo de violência sexual contra suas seguidoras.

Relação de uma década

Ana Keyla é mãe da filha caçula de João de Deus, que tem 3 anos. Os dois estão juntos há 10 anos. O Metrópoles conseguiu falar com a mulher no dia 13, logo após as denúncias virem à tona. Na época, ela disse que o marido era inocente: “Montaram um grande circo”. Mãe e filha estavam em Abadiânia, em uma propriedade que a família mantém a poucos quilômetros da Casa Dom Inácio de Loyola, onde o líder espiritual realizava os atendimentos e, segundo a polícia e o Ministério Público de Goiás, aconteciam os abusos sexuais.

Na última quinta (20), o médium foi indiciado por violência sexual mediante fraude. O inquérito foi baseado no depoimento de uma mulher de aproximadamente 40 anos que teria sido abusada pelo líder espiritual em outubro deste ano.

De acordo com o delegado Valdemir Pereira da Silva, mais conhecido como Doutor Branco, titular da Deic, existem provas robustas contra o médium que podem levá-lo a cumprir pena de 2 a 6 anos de prisão.

“Acreditamos na existência de provas suficientes para uma condenação. O depoimento da vítima foi contundente”, disse. De acordo com o investigador, no dia 19 deste mês, a mulher foi levada ao centro em Abadiânia e contou, com riqueza de detalhes, o que teria ocorrido na sala de atendimento.

Segundo o relato da vítima, quando a mulher notou o pênis de João de Deus para fora da calça, ele teria interrompido o “tratamento”. Em seguida, o acusado pediu para a paciente não contar sobre o atendimento a ninguém. Na ocasião, o médium presenteou a fiel com dois quadros e uma pedra. “A vítima está assustada, ansiosa e com medo”, explicou.