Pai se voluntaria como palhaço em hospitais e faz surpresa para filho internado

O grupo de palhaços cantores é mais um entre os muitos que levam alegria aos hospitais de São Paulo. O palhaço de camisa listrada não tira os olhos do paciente que começou a passar mal após uma sessão pesada de quimioterapia preparatória para um transplante de medula óssea. Esse palhaço é o Luciano Oliveira em sua estreia na função. O menino na cama é o filho dele, o Gabriel, que todo mundo conhece como Biel.

Depois de mais de cinco anos buscando caminhos e recursos para curar o filho da anemia falciforme, às vésperas do tão sonhado transplante, na última quinta-feira (16), Luciano “se formou” em um doutor palhaço.

“Eu buscava uma forma de devolver para o mundo o presente que ganhei ao poder buscar a cura para meu filho e decidi fazer o curso de doutor palhaço e virar voluntário nos hospitais. Assim que me formei, sugeriram que minha estreia fosse justamente no quarto do Biel. Só que ele começou a passar mal e fiquei perdido, não sabia se era o pai ou palhaço que estava ali”, conta o representante comercial, Luciano Oliveira.

No final, Biel consegui se divertir um pouco com as palhaçadas do pai. A apresentação foi uma surpresa para o menino.~

Desde o nascimento do filho Biel (Gabriel), há 7 anos, Luciano e Ana, passaram a viver mais dias no hospital do que em casa. O menino nasceu com anemia falciforme, uma doença que altera o formato das hemácias para a forma de foice, causando dores que às vezes não amenizam nem com a morfina. Isso porque essas hemácias perdem a forma elástica e dificultam o fluxo do sangue nos pequenos vasos, consequentemente, a oxigenação dos tecidos. Além das dores, Biel tinha infecções constantes e outros efeitos da doença.

Corrida para o transplante

Mesmo sem dinheiro para bancar o tratamento mais avançado e indicado, que era engravidarem de novo de uma criança geneticamente selecionada sem a doença e 100% compatível com o Biel, os pais decidiram que iam conseguir isso. Foram vaquinhas, pedágios, rifas, feijoadas beneficentes e apoio de artistas até conseguirem que a Ana engravidasse de novo. Mas, aos três meses de gestação, ela sofreu um aborto espontâneo.

“Nós ficamos desesperados, quase desanimanos”, relembra Luciano. Em maio do ano passado marcaram uma consulta com novo hematologista, o médico Vanderson Rocha (falamos do ‘Dr. Anjo’ aqui), no Hospital Sírio Libanês, que os motivou a tentarem mais uma vez, já que somente um irmão poderia salvar Biel.

A Ana engravidou de novo e em março deste ano nasceu Vítor. O sangue do cordão umbilical do menino foi coletado e armazenado no banco de cordão do Hospital Sírio Libanês sem custos, atendendo ao pedido de Vanderson Rocha. Os pais começaram, então, a luta para conseguir que o plano de saúde pagasse o transplante. Enquanto iam entre um advogado e outro, com custos desanimadores (cerca de R$ 50 mil para mover ação e conseguir liminar que garantisse o tratamento), o plano de saúde decidiu acatar o pedido da família.

Biel internou no dia 18 de setembro para o condicionamento do corpo para a infusão da nova medula, que foi feita em 18 de outubro. Nesse um mês internado e isolado, o menino surpreendeu toda a equipe do hospital. “Nos primeiros dias no hospital, ele criou a Liga da Justiça entre os pacientes e transformou cada um num super-herói. As enfermeiras viraram todas Mulheres Maravilhas“, conta o pai cheio de orgulho.

Com a chegada do menino, passou a ser comum ver outros garotos em tratamento vestidos de Homem Aranha, Homem Formiga e outros personagens da Marvel passeando pelos corredores do hospital. “Ele não para de nos surpreender”, diz Luciano, visivelmente emocionado.

“Ele abraçava a luva e dormia. De manhã, o balão estava murcho, mas Biel agarrado nele”

Mas, emocionado mesmo os pais ficaram quando todos da família, até o pequeno Vítor, contraíram uma conjuntivite e foram proibidos de visitar e terem contato com o Biel. Avós e tias foram escaladas para acompanhar o menino internado.

Cheio de saudades, Biel passou todos os dias a encher de ar uma luva cirúrgica e a desenhar o rosto do Luciano no balão cheio de dedos. “Ele abraçava a luva e dormia. De manhã, o balão estava murcho, mas Biel agarrado nele”, relembram os pais. Todas as vezes que contam esse episódio ficam com os olhos marejados.

Enquanto transforma o hospital num parque de diversões para o tempo passar depressa, Biel garante a alegria dos outros pacientes e torna mais leves os dias da família.