Odebrecht: Porto de Laguna é mencionado em delação

Borba Filho diz que empreiteira pagou R$ 33,6 mil para 5 codinomes. Segundo delator, obras estavam atrasadas e ele deveria ‘resolver a situação’.

Laguna

O Terminal Pesqueiro de Laguna foi citado na delação do ex-executivo da Odebrecht, João Borba Filho. Ele diz que, em 2004, as obras no local estavam atrasadas e sem responsáveis, e que ele foi designado “para resolver a situação”. Segundo o delator, R$ 33.600,00 teriam sido pagos a cinco codinomes, que o delator diz não saber quem são.

De acordo com Borba Filho, muitos contratos da Odebrecht foram paralisados em 2004 na região Sul e essas obras ficavam sem responsáveis, apenas com “equipe de segundo escalão cuidando da parte burocrática”.

“Essas obras paralisaram porque tinham muitos pagamentos de faturas, de serviços efetuados que não foram pagos. Então, houve um determinado momento, um acordo, provável, que quando saíssem esses pagamentos, seria devido àquelas pessoas um valor percentual do recebimento. No Porto de Laguna houve esse pagamento de R$ 33.600,00”, confirma o delator.

A Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), à qual o porto é conveniado, informou que só poderá se manifestar sobre o caso na próxima segunda-feira. A Codesp é responsável pelo porto de Laguna desde o início da década de 1990. O administrador do Terminal Pesqueiro, o tubaronense Evandro Almeida, informou que gerencia o local há seis meses e que “não está a par do que aconteceu no passado”.

Segundo um engenheiro do Terminal Pesqueiro de Laguna, as obras da Odebrecht foram realizadas de 2001 a 2008 para abertura do molhe da barra, de modo a facilitar o acesso das embarcações ao terminal.

Pagamento de R$ 33.600,00 para cinco codinomes
João Borba Filho diz na delação que não sabe quem são as pessoas que supostamente receberam o dinheiro: “Ao porto de Laguna foi implementado o pagamento R$ 33.600,00 para codinomes que eu não identifiquei, que eu não consigo lembrar, que eu não consigo identificar essas pessoas. Mas na linha de colocar meu registro de tudo que eu lembro, desde esse ocorrido em 2004 posso afirmar que o meu papel foi dizer para empresa que realmente houve o recebimento e que fosse programado o pagamento conforme tinha sido acordado lá atrás”.

Apesar de não identificar os donos dos codinomes, Borba Filho menciona os cinco que teriam recebido o pagamento. Cada um deles teria recebido um valor diferente que totalizam os R$ 33.600,00. “Os codinomes eram Alemão: R$ 10.500; Figueirense: R$ 10.400; Lagoa: R$ 2.600; Operador local: R$ 7.500 e Operador: R$ 2.600 referentes ao recebimento de uma fatura no valor bruto de R$ 555 mil”, afirma o delator.

No vídeo, o procurador questiona o delator sobre a possibilidade de os codinomes serem os mesmos que aparecem em diferentes delações ou se há a possibilidade de diferentes pessoas terem o mesmo codinome, mas Borba Filho não soube responder: “Não sei precisar. O meu foco era saber que a fatura foi recebida e providenciar que aquele pagamento daquele acordo fosse feito”, esclarece.

Codinomes aparecem em trocas de e-mails
Para esclarecer, o procurador questiona: “Então essas pessoas, esses codinomes foram beneficiados cada qual com esses valores que o senhor mencionou por ocasião dessa fatura, da quitação dessa fatura?”

O delator responde: “Desse recebimento. Exatamente”. E complementa: “Esses codinomes, eles aparecem citados numa informação minha e do Benedicto Júnior dizendo que houve realmente o recebimento que constatei na obra e que o valor acordado lá é esse número. Tem uma citação no e-mail que até coloquei como dado de corroboração. Esse e-mail foi trocado com Benedicto Júnior, no sistema Drousys, não tem o meu nome”.

Segundo a delação, os pagamentos foram realizados. “Esses pagamentos foram efetuados, foram realizados pela equipe do Hilberto e eu não tenho, não sei afirmar a forma que foram feitos, mas constatei na época que havia tido recebimento e que aqueles codinomes estavam sendo beneficiados com esse valor aí de os R$ 33.600,00”, afirma Borba Filho.

O procurador pergunta: “E o senhor não sabe como feito o contato para que o dinheiro chegasse a essas pessoas? Se foi procurado o senhor?””

O delator responde: “Não sei dizer. Não me foi procurado. Eu fui encaminhado pelo Benedicto para resolver a situação porque lá estava sem responsável porque a obra estava paralisada, não tinha na época um diretor de contrato”.

Ele é novamente questionado: “O senhor tinha que informar se houve o pagamento da fatura?” E responde: “A gente tinha que checar a quem deveria e se houve mesmo o recebimento”, conclui. A delação não deixa claro se o pagamento para os codinomes era uma condição para que as obras no porto de Laguna fossem retomadas e se elas foram retomadas após o suposto pagamento.

Outro Alemão
Em outra delação, o deputado estadual Jean Kuhlmann é mencionado com o codinome de Alemão. Nesta quinta-feira, a assessoria do deputado informou que outras pessoas são mencionadas com o mesmo codinome nas delações e que o parlamentar era candidato a vereador na época, não possuindo relações com Laguna.

Em uma rede social, o deputado declarou: “O sr. Borba Filho não cita qualquer nome, muito menos o meu. Além disso, é absurdo ter meu nome associado a pagamentos realizados em 2004 e relativos ao Porto de Laguna. À época, eu era vereador e concorria à reeleição em Blumenau. As duas cidades nada têm a ver uma com a outra, geográfica e politicamente. Eu era filiado ao PFL e opositor do governo municipal blumenauense e federal, então administrados pelo PT”, afirmou.

Fonte: G1SC
Foto: Divulgação/Notisul