‘Não existe autoridade em sala de aula’, diz irmã de professor morto

Colegas, familiares e amigos se reuniram nesta quinta-feira (2) para dar o último adeus ao professor Júlio Cesar Barroso de Souza, 41 anos, assassinado a tiros por um aluno de 17 anos dentro da Escola Estadual Céu Azul, em Valparaíso (GO), no Entorno do Distrito Federal. O velório ocorreu na capela Divino Espírito Santo, em Santa Maria.

Muito emocionada, a viúva, Daiane Alves, 31, se manteve ao lado do corpo do marido dentro da igreja. A todo momento, recebia abraços de colegas de Júlio, que também estão muito abalados com a tragédia. “Eu fui uma das primeiras a chegar na sala e ver o corpo. Estou sem dormir, só pensando nisso”, relatou uma professora, que não quis se identificar.

A irmã do docente, Juliana Maria Lima do Carmo (foto em destaque), 35 anos, protestou contra a falta de segurança de quem ministra aula no Entorno do DF. “Ele foi morto porque exerceu a profissão dele. Não existe mais autoridade de professor em sala. A família nunca mais será a mesma”, desabafou.

“Meu irmão era a base da família, era um superirmão, superpai e superamigo: uma pessoa que  passou por este mundo só fazendo o bem”, lamentou Juliana.

O corpo do coordenador pedagógico foi levado da capela por volta de 11h20 sob aplausos. As homenagens prosseguiram no cemitério Campo da Esperança de Brazlândia, onde o sepultamento está marcado para as 16h.

Honesto e trabalhador

Júlio César é lembrado por familiares e amigos como honesto e trabalhador. Casado há 10 anos, deixou a esposa e dois filhos: uma menina de 4 anos e um menino de 6.

Era o segundo mais velho de cinco irmãos, e aos 4 anos de idade perdeu o pai. De acordo com parentes, Júlio César nunca conteve esforços para ajudar a família, seja com apoio emocional ou financeiro. Era atencioso apesar de sua saúde fragilizada devido a diabetes e gastrite.

Governo promete mais segurança

Em resposta ao crime, a secretária de Educação de Goiás, Fátima Gavioli, conversou com familiares da vítima e falou com a imprensa na porta da capela. Segundo ela, o regimento escolar será alterado para que diretores e coordenadores pedagógicos possam ter mais autonomia.

“Desde o início do ano, a secretaria está trabalhando com medidas de segurança. Além disso, um protocolo será lançado em breve”, garantiu.

Outro fator agravante listado por Gavioli é o muro da escola pulado pelo aluno. A proximidade da unidade de ensino com uma feira possibilitaria, segundo ela, o tráfico de drogas através de buracos no muro. A ordem dada à Polícia Militar, diz, é fechá-lo com grades de metal.

“O que fica é que precisamos organizar a escola para o retorno até dia 13. A PM vai garantir, no início, o policiamento, pois é uma escola com alto risco de violência. Nunca passamos por algo tão difícil e tão triste.”

A prima do docente morto Larissa Lima, 35, diz, também, que os filhos do casal ainda não entendem o que aconteceu. “Eles disseram que o pai deles agora é uma estrela e está brilhando no céu”.

Pânico

Uma professora, que não quis se identificar, relatou o pânico dentro da escola no dia do assassinato. “Ficamos com medo e nos trancamos na sala de aula. Os alunos colocaram cadeiras e mesas na porta e ficamos esperando. Falei para que eles saíssem da janela. Quando saímos, tinha gente desmaiada no pátio, passando mal. Foi um desespero.”

Também docente da unidade de ensino, Mateus Alves, 45, descreveu o coordenador como uma pessoa “pacata, tranquila, serena e equilibrada”. O enterro do corpo de Júlio será também nesta quinta, no Cemitério de Brazlândia.

“A escola terá que passar por uma transformação radical. A sala dos professores não tem condição alguma de permanecer onde está”, ressalta. Segundo Alves, o colégio ficará de ponto facultativo até dia 13 de maio.

Apesar da tragédia, Mateus espera transmitir uma mensagem de esperança a todos que atuam na profissão. “Meu recado para todos os professores é não desistir jamais, nunca deixar de acreditar na humanidade. Não é o primeiro episódio assim e não será o último, mas não deve trazer um desespero. O educar pesa mais do que todas essas dificuldades”, disse.