Mais de 80 cães precisam ser ‘despejados’. E agora?

Amanda Menger
Tubarão

O pesadelo da dona de casa Ivânia Camargo, de Tubarão, tornou-se realidade. Encerra hoje o prazo de 30 dias para que ela encontrasse um novo local para abrigar mais de 80 cães. E, até o momento, Ivânia não conseguiu nenhuma residência ou sítio para alugar. “Estou desesperada. Não vou me separar dos meus cães. Se a vigilância sanitária vier aqui e me obrigar a retirá-los daqui, eu vou com eles. Vocês me verão pelas ruas com eles. Depois desta decisão da vigilância sanitária, ficou ainda mais difícil encontrar um sítio ou casa mais afastada para alugar”, conta Ivânia.

Há um mês, a dona de casa recebeu uma ordem de ‘despejo’ dos animais, assinada pela vigilância sanitária, por determinação do Ministério Público (MP). “Querem que os cachorros sejam levados para outro lugar, mas como se eu não tenho condições e não encontro um local? Vou jogá-los na rua? Se eu fizer isso, serei acusada de maus tratos aos animais. Como fica a situação?”, questiona Ivânia.

Segundo o chefe da vigilância sanitária do município, Elias Gonçalves, os procedimentos que serão adotados hoje dependerão de manifestação da promotoria do MP. “Nós fizemos um relatório, que tem a participação do departamento de meio ambiente e da veterinária da secretaria de agricultura da prefeitura. Este documento foi entregue à promotora e vamos agir conforme o que for determinado”, revela Elias.

Não há prazo para o canil municipal sair do papel
Se não fossem ‘cuidadores’ como a dona de casa Ivânia Camargo, a situação dos cães de rua seria ainda pior em Tubarão. Isso porque o projeto do canil, que prevê castração, recolhimento e identificação dos animais já foi aprovado pela câmara de vereadores, sancionado pelo prefeito Carlos Stüpp (PSDB), mas ainda não saiu do papel.

Desde o ano passado, o prefeito tem solicitado aos secretários empenho na resolução do problema. Inicialmente, o projeto foi assumido pela secretaria de segurança e trânsito da prefeitura. Depois, passou a secretaria de agricultura e agora voltou para segurança e trânsito.

“Ainda não temos definições sobre como o projeto será implementado. Os estudos de viabilidade são feitos com participação de funcionários das secretarias de agricultura, de planejamento e também do departamento de meio ambiente”, afirma o secretario de segurança e trânsito da prefeitura, João Batista de Andrade, o sargento Batista.

Segundo o secretário, há interesse em resolver o problema. “Não sei se conseguiremos iniciar ainda este ano, mas vamos ao menos dar os encaminhamentos necessários. Ainda temos dois meses antes de encerrar este mandato”, assegura Batista.

“Procuro uma nova família. Que tal a sua?”
Ao passar por uma rua de Tubarão, o engenheiro civil Rogério Bardini ficou sensibilizado com a situação de uma cadela que estava abandonada. Bardini recolheu o animal e levou a uma clínica veterinária. O bichinho passou por uma consulta e banho. “Ela está com a saúde perfeita. Tem cerca de seis meses, é dócil e muito brincalhona. Não posso ficar com ela porque já tenho outras duas, também recolhidas da rua. Gostaria de encontrar um lar para ela”, afirma.

Bardini enviou aos amigos um e-mail com a foto da cachorrinha e outras pessoas ficaram sensibilizadas com o caso. “Não fico com ela porque moro em apartamento. Estamos pensando em reunir algumas pessoas que gostam de animais para tentar amenizar o problema dos cães de rua. Falei com alguns amigos e a receptividade foi boa. Às vezes, a sociedade tem que agir, já que o poder público não faz a sua parte”, lamenta o engenheiro civil Francisco Beltrame.