Isolamento social divide opiniões entre manter a saúde financeira do país ou a vida da população

Lily Farias

Tubarão

A incerteza econômica gerada pela pandemia do coronavírus tem dividido a opinião de muita gente em relação às medidas governamentais como isolamento social, por exemplo. 

Há a vertente dos que defendem veemente que é preciso ficar em casa até o surto diminuir, mas também tem aqueles que dizem que é preciso mais sensatez, pois um congelamento radical de nossas ações vai literalmente quebrar a economia, que já não andava a passos largos.

E tem uma outra vertente, daqueles que defendem a ideia de que é preciso manter a economia girando, mas no fundo sabem que a única forma de combater a disseminação do coronavírus é o isolamento social. 

É o famoso “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. O que acontece hoje, falando em nível de Santa Catarina, é que as pessoas estão em casa e só saem para ir ao mercado, posto de gasolina, farmácia ou ao médico porque têm sintoma de coronavírus. 

Mais nada. Nenhum outro estabelecimento pode receber clientes. E os poucos que recebem é restrita a quantidade de pessoas. 

Ah, e tem as indústrias que devem trabalhar com capacidade reduzida de funcionários, embora ainda haja muitas denúncias de que não é bem assim.

O resultado: 86 casos de pessoas contaminadas com o coronavírus e 410 casos suspeitos em SC. Nenhuma morte foi registrada. 

POR OUTRO LADO…

Não tem dinheiro girando no mercado e o pouco que gira não é suficiente para manter nossa economia. Já estamos em uma crise financeira. E se o Governador Moises não tivesse decretado estado de emergência e orientado o isolamento social neste momento poderíamos estar vivendo uma crise muito maior na saúde, principalmente os municípios.

Pelo menos é o que entende o geriatra de Tubarão, Lawrence De Luca Dias, que atende na Pró-Vida. Lawrence diz que por conta da medida de isolamento social houve uma redução de 95% dos atendimentos em emergências da cidade entre os dias 16 e 23 de março. “Não custa seguir as normas das autoridades, nós estamos vendo os resultados”, afirma.

O ex-ministro da Cidadania Osmar Terra, que também é médico, deu uma entrevista nesta segunda-feira (23) ao Correio Braziliense contrariando as decisões dos Governadores afirmando que há um exagero nas medidas adotadas para conter os efeitos da pandemia no país. 

Para ele, a quarentena além de trazer malefícios à economia também poderá piorar a contaminação entre as famílias. “Estatisticamente, a maioria das famílias brasileiras já têm uma pessoa com o novo coronavírus. Se fechar em casa, ela vai contaminar todo mundo. Foi o que aconteceu na Itália. Eles começaram a fazer a quarentena e, cerca de 12 dias depois, tinha o triplo de novos casos por dia. Então não funciona. Qual é o país que teve o melhor resultado no enfrentamento até agora? É a Coreia. E lá, não fizeram nada disso”, disse o médico ao Correio Braziliense. 

Lawrence diz que as coisas não são bem assim. “Na Itália demoraram a fazer o isolamento, e quando foi feito todo mundo se contaminou dentro de casa . Entendemos que o Governo tomou uma medida dura, porém, foi no momento certo e estamos vendo o resultado.

ISOLAMENTO SÓ PARA GRUPOS DE RISCO

Osmar Terra também disse ao Correio Braziliense que o isolamento só deveria ser aplicado àqueles que estão em grupos de risco, como portadores de outras doenças, idosos e crianças. ” A pessoa que tem um câncer, uma doença autoimune, ou pessoas que tomam remédios para baixar a imunidade para transplante, esses devem tomar cuidado. Essas pessoas devem estar em isolamento. Quem tiver febre também tem que ficar isolado, em casa com a família, porque provavelmente já transmitiu para a família toda”, avaliou.

Na opinião do médico Tubaronense, a prevenção sempre é o melhor caminho. Lawrence reforça a fala de que o Governador Moisés tomou a decisão no momento certo de isolar todas as pessoas. “Nosso Estado se destaca em relação a este trabalho. Tubarão segue o mesmo caminho, estamos saindo na frente”, explica. 

ATÉ QUANDO?

A projeção para o auge da pandemia do coronavírus no Brasil é na terceira semana de abril e depois cai. Isso não significa que de fato será assim em todos os Estados. 

“ A verdade é que ainda não sabemos por quanto tempo isso vai se estender. O que podemos fazer é seguir as normas das autoridades e aguardar os próximos 15 dias. A situação do nosso estado também depende do quanto os outros estados se preparam para combater o vírus”.

NADA DE PÂNICO

É natural que haja um nível de ansiedade maior durante essa pandemia. É uma insegurança para muitos trabalhadores, que não sabem se vão continuar mantendo seu emprego; e para muitos empregadores que não sabem como pagar o salários dos funcionários. Ainda é um cenário incerto para quase todo mundo.

Nos países onde a crise do coronavírus já explodiu num nível exponencial há relatos de pessoas morrendo de fome e até cometem suicídio por não saber como lidar com a situação. Como a crise de 1929, lembra?

Governantes garantem que não chegaremos a este ponto, mas é preciso manter a mente saudável para enfrentar a situação e sair de cabeça erguida lá na frente. 

“Não precisamos de uma pandemia para lidar com a ansiedade. O que é preciso fazer neste momento é manter a rotina quase que intacta, mudar o mínimo possível. Filtrar as informações que recebe nas redes sociais e não acreditar em tudo que lê”, disse a psicóloga de Tubarão, Manuela Costa Dutra do Nascimento.

Manuela diz também que esta epidemia envolve uma responsabilidade coletiva essencial, e que independente das nossas crenças pessoais, existe uma responsabilidade diante da vida do outro, e que as nossas escolhas irão impactar na saúde do próximo.

“Se eu tenho o privilégio de poder me isolar neste momento (privilégio financeiro, profissional), que eu possa manter esse isolamento. Se eu não tenho esse privilégio, preciso sair de casa para trabalhar, que eu tome os devidos e necessários cuidados”, reitera.