‘Hemosc e Cepon são patrimônios dos catarinenses’, diz presidente da Fahesc

A Fundação de Apoio ao Centro de Hematologia e Hemoterapia (Hemosc) e ao Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepon), a Fahece, completou 25 anos de criação nesta sexta-feira (15). E exatamente no dia do aniversário da entidade, o presidente da Diretoria Executiva, Michel Scaff, concedeu entrevista à Coluna Pelo Estado. Em pouco mais de uma hora de conversa, o engenheiro com especialização em Administração falou com orgulho dos números positivos e das conquistas do Hemosc e do Cepon, bem como do Laboratório de Anatomopatologias,já em funcionamento, mas cuja sede própria deverá ser inaugurada até o final do ano. Absolutamente todos os serviços são fornecidos gratuitamente à população.

 

A maior parte dos recursos é do Estado, administrados pela organização social, pioneira no Brasil. Em 2018, o orçamento foi de R$ 69 milhões para o Hemosc e R$ 85 milhões para o Cepon. O desafio agora é conseguira ampliação desses valores para 2019, chegando a R$ 81 milhões e R$ 95 milhões,respectivamente. Mas isso não significa que as doações são dispensáveis. O objetivo é arrecadar R$ 7 milhões este ano e em breve entrará no ar uma campanha de incentivo. O aumento de orçamento de um lado e da demanda de outro não deve mudar muito a relação atual. O serviço prestado pelos centros não chega a custar R$2,00 por mês para cada habitante do estado. Isso mesmo! Menos de R$ 2,00 para manter dois serviços de referência e essenciais para a saúde dos catarinenses.

 

[PeloEstado] – A Fahece está completando 25 anos. Como começou essa história?

 

Michel Scaff – A Fahece é uma fundação filantrópica sem fins lucrativos. Foi criada em 1994 por um grupo de visionários voluntários.Qual era a ideia? Através dessa fundação, assumir a administração e a gestão do Cepon e do Hemosc, que na época apresentavam seriíssimas dificuldades,inerentes à atividade pública. Então foi formada essa parceria, onde a fundação, através de um corpo de voluntários da comunidade, ou seja, que ocupam suas diretorias, presidência e o conselho curador, em funções cuja titularidade se renova a cada quatro anos, dotou a fundação de métodos administrativos que muitas vezes não podem ser adotados no serviço público. Hoje, somos 1,5 mil colaboradores, em torno de 1,2 mil celetistas e 300 estatutários, servidores do Estado à disposição desse processo. Todos vocacionados para a missão. Esses são os que atuam na ponta. Acima desses temos nove integrantes do Conselho Curador,três no Conselho Fiscal, um diretor Técnico e a presidência.

 

[PE] – Mas o que motivou esse grupo de visionários?

 

Michel Scaff – Lá em 1994 havia muita dificuldade de medicamento,dependência de muitos itens importados. O Estado não tinha condições de manter a agilidade necessária e por vezes o Cepon tinha que interromper tratamentos porque faltava medicamento, os equipamentos ficavam obsoletos. Era tudo muito amarrado pelas exigências impostas ao Estado, diferente do que ocorre na área privada.Por isso surgiu a ideia de ter a fundação privada. A fundação tem algumas vantagens. Por ser filantrópica, tudo o que adquirimos tem um desconto considerável pelo tratamento tributário diferenciado. Além disso, os fornecedores mantêm preços adequados, sem sobre preço, forma de compensar os grandes atrasos de pagamento do governo. E tem o Ministério Público, que fiscaliza todos os atos da fundação. Esse modelo frutificou porque soma o interesse público nas políticas de saúde, a atividade técnica, a expertise de administração da Fahece e a possibilidade de agilização dos métodos administrativos, com implantação de métodos de gestão que muitas vezes você não consegue dentro do setor público.

 

[PE] – O que essa mudança trouxe na prática?

 

Michel Scaff – Em agilidade e em uma redução de custos entre 34% e 40%. Lembrando que, ao longo desses 25 anos, o Hemosc obteve certificação internacional para todos os seus procedimentos e resultados. No final de 2017, o Tribunal de Contas (TCE-SC) auditou os 18 maiores hospitais públicos de Santa Catarina em todos os quesitos. E o Cepon foi considerado o exemplo, tirando nota máxima em todos os quesitos. Ou seja, foi considerado referência. Mas tem outro assunto que é mais importante. Mais do que o resultado do TCE, basta ir ao Cepon conversar com qualquer pessoa que está sendo atendida. É impressionante o carinho que o pessoal demonstra. Do paciente e dos familiares, porque às vezes a família perde o parente e vira voluntária do Cepon. Importante entender que este é um modelo de gestão pioneiro, quando ninguém falava em parceria público-privada.

 

[PE] – E que deu certo.

 

Michel Scaff – Deu e está dando certo. Você dificilmente encontra algum questionamento sobre sangue em Santa Catarina ou sobre o Cepon. Tecnicamente não tem. O maior patrimônio do Hemosc são os doadores. Volta e meia tem que fazer campanhas para manter aceso este capital, este espírito de doação. Estamos sempre atentos. No começo do ano assinamos parceria técnica coma Fiesc (Federação das Indústrias) para a transferência de tecnologia de gestão. Há um canal para a transferência das melhores práticas de gestão administrativa, para aprimorar mais ainda a gestão. Isso resulta em fazer mais,com mais qualidade e com menos recursos. E nesse esforço não podemos nunca esquecer a presença do Ministério Público, que fiscaliza todos os atos de contratação de pessoal. Temos uma série de procedimentos para a contratação,com a agilidade e a correção necessárias. Depois de 25 anos, conseguimos um Conselho Curador que protege esse modelo de gestão, tomando decisões estratégicas nos momentos difíceis.

 

[PE] – Tem pessoas que estão desde o início no quadro da Fahece?

 

Michel Scaff – Não. A cada quatro anos, renovamos,pinçando pessoas na sociedade para trazer novas ideias, porque todos são voluntários. Ao longo dos 25 anos, foram dezenas de pessoas contribuindo com o crescimento. Há uma coisa muito importante, e pouca gente se apercebe: o sangue é muito importante. Então nós cuidamos do sangue e do câncer. Dois momentos cruciais na vida das pessoas. Esse modelo levou a uma situação que merece uma reflexão. Quanto custa o Hemosc para cada cidadão catarinense por mês? R$ 0,85 para ter toda essa estrutura. O Cepon, em torno de R$ 1,00. E atende a todos gratuitamente.Sempre enfatizo isso. Sabendo esses valores e tendo consciência da importância dos dois assuntos, é preciso refletir sobre o que cada cidadão gera de imposto.Essa comparação força uma reflexão e uma tomada de postura muito séria por parte do Estado. Como se vai dizer para o cidadão que não tem sangue? Ou que ele não vai poder ser atendido no Cepon? Se o custo é tão pequeno e ele gera muito mais em impostos! Essas duas entidades estão muito diretamente ligadas à cidadania, pela importância que adquirem na vida das pessoas. Os resultados do Hemosc e do Cepon chegaram a um nível técnico tão alto que deveriam ser tratados como patrimônio dos catarinenses. Digo isso todo o dia para o governo.

 

[PE] – A equipe tem que estar bem consciente disso.

 

Michel Scaff – Aí está uma das coisas que devem ser ressaltadas: é o corpo técnico do Cepon e também do Hemosc. No caso do Cepon,todos que chegam lá estão abatidos, vulneráveis, e eles são acolhidos pelo pessoal não só na parte técnica, mas emocional. Tem todo um atendimento multidisciplinar,com psicólogos, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo. A luta da fundação e do Estado é atender a todas as pessoas. Dar sangue para a população e atender no Cepon. Recebemos muito apoio.

 

[PE] – De onde vem a sustentação financeira?

 

Michel Scaff – Nesse modelo, o Estado entra com a parcela financeira. Gerimos os recursos e também recebemos doações, através de incentivos fiscais, de entidades ou de pessoas físicas. Estamos fazendo campanha para estimular as doações. Na hora que a sociedade tiver consciência da importância dessas entidades, ninguém se negará a doar.

 

[PE] – Qual é o custo para manter as duas instituições ao longo de um ano?

 

Michel Scaff – O orçamento das duas entidades para esse ano está em torno de R$ 180 milhões, R$ 190 milhões. Agora estamos tratando desse orçamento junto com o governo. Estamos sempre no limite, porque as demandas vão crescendo. E isso é tratado sempre a quatro mãos, com o governo do Estado, em função da política pública. Por outro lado, sabemos qual é a demanda e ajustamos. Temos metas a alcançar.

 

[PE] – Que metas?

 

Michel Scaff – De ampliar esse orçamento para manter ou mesmo elevar o padrão de atendimento. Em 2018, o Hemosc teve orçamento de R$ 69 milhões e o Cepon de R$ 85 milhões. Estamos conversando com o governo para, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, aumentar esses valores para R$ 81 milhões e R$ 95 milhões, respectivamente. As doações, que ficaram em torno dos R$ 5 milhões no ano passado, e queremos que chegue aos R$ 7 milhões. Com este valor pretendemos adquirir, em 2020, dois tipos diferentes de ultrassom, tomógrafo e outros equipamentos de menor custo.

 

[PE] – Qual a dimensão dos atendimentos prestados pelas duas instituições?

 

Michel Scaff – Enorme. Em 2018 foram, em média, 7,9 mil consultas médicas, 1,5 mil quimioterapias, 300 radioterapias e de 200 a 300 cirurgias no Cepon. No Hemosc, foram 120 mil doadores aptos e 32 mil consultas hematológicas no ano. Tivemos ainda a produção de 176 mil hemocomponentes. Aluta é grande, mas é gratificante.