Família morta intoxicada no Chile é velada em SC; padrasto critica polícia

Treze dias após a tragédia, os corpos dos seis brasileiros mortos, em 22 de maio, por intoxicação no Chile estão sendo velados hoje no ginásio de esportes da Univali (Universidade do Vale), em Biguaçu (SC). A cerimônia começou por volta das 8h, foi fechada nas primeiras horas para os familiares e reúne cerca de 400 pessoas. 

Os caixões com os corpos de Débora Muniz Nascimento de Souza, 38, do marido Fabiano de Souza, 41, dos filhos Karoliny Nascimento de Souza, 14, e Felipe Nascimento de Souza, 13, do irmão de Débora, Jonathas Nascimento Kruger, 30, e da mulher dele, Adriana Padilha Krueger, 30, estão colocados lado a lado no ginásio. 

A maioria das pessoas está próxima dos caixões, que estão cercados de coroas de flores, de diversas pessoas e empresas como a do ex-tenista Gustavo Kuerten. Os familiares estão vestidos com camisetas brancas ou pretas com a frase “Bem aventurados os que choram, pois serão consolados”. E nas costas “Todos somos um só. Kruger, Muniz e Souza”.

Padrasto de Débora, Fabiano Pereira, 55, criticou a atitude da polícia chilena desde o acidente até a liberação dos corpos. “Não fizeram nada por eles. Ficaram um dia inteiro ligando, sem serem socorridos. Sem contar a burocracia para liberar os corpos (que chegaram ontem ao Brasil, 12 dias após a tragédia). Estamos há dias nessa angústia. Nem sei explicar a dor que sinto”, lamenta.

Fabiano é viúvo de Iete Isabel Muniz, 56, mãe de Débora e Jonathas. Isabel morreu na manhã do dia 22 no Cepon (Centro de Pesquisas Oncológicas) de Florianópolis, onde estava internada para tratar de um câncer. Horas depois, os dois filhos de Isabel e os outros quatro familiares foram encontrados mortos no apartamento que haviam alugado em Santiago.

“Débora pensou em desistir da viagem pelo estado de saúde da mãe. Dizia que tinha medo que a mãe morresse enquanto estivessem no Chile”, explica Fabiano, que veste a camiseta homenageando as seis vítimas. O padrasto estava junto com Isabel havia 30 anos, após ela deixar o ex-marido Ademir, pai de Débora e Jonathas, que se casou com a irmã de Isabel. Débora saiu da casa do pai para morar com Fabiano na adolescência. O padastro conta que eram muito unidos.

Eles gostavam de viajar. Para o Chile, eles economizaram por um ano pra fazer essa surpresa no aniversário da Karol”, recorda o padrasto, referindo-se ao fato de a viagem ter sido realizada para comemorar os 15 anos de Karoliny, que ocorreria no dia 23, um dia após a tragédia.

Fabiano relembra o desespero da enteada, que mandou várias mensagens no dia 22 e preparava o retorno para o Brasil para acompanhar o velório da mãe. “Ela mandou várias mensagens nesse dia. Disse que iam encurtar a viagem, pra ir no enterro, mas que estavam muito mal, achavam que tinham comido algo contaminado e que tinham chamado ajuda, mas que ninguém apareceu”, diz.

Em áudios enviados por WhatsApp, Débora temia que a família estivesse com uma virose, quando, na verdade, eles estavam sendo intoxicados pelo gás. “Ela tava desesperada. Não sabia o que estava acontecendo. Gritava e pedia ajuda, dizia que os filhos estavam ficando roxos, que deviam ter pego um vírus, que não conseguiam respirar, que iam morrer”, afirma.

De acordo com o advogado da família, Mirivaldo Campos, o laudo do IML (Instituto Médico Legal) do Chile apontou que a causa da morte da família foi intoxicação por inalação de monóxido de carbono.

Foto: Da esq. para dir.: Felipe, Débora, Fabiano e Karoliny