Dólar dispara quase 5% e fecha acima de R$ 5 pela primeira vez na história

Apesar de o dólar ter chegado à máxima nominal histórica em R$ 5,0690 durante as negociações, nesta segunda-feira, esse foi o primeiro dia útil desde 3 de março em que o Banco Central não realizou nenhuma intervenção no mercado de câmbio com oferta de recursos novos na moeda norte-americana. Sem leilões do BC, o dólar subiu 4,90% e fechou o dia em R$ 5,0523, novo recorde. A alta porcentual registrada nesta segunda-feira foi a mais alta desde a delação de Joesley Batista, em 17 de maio de 2017, que levou a moeda americana a subir 8,07%.

Nas duas primeiras semanas de março, a autoridade monetária injetou US$ 15,245 bilhões em recursos novos no mercado do câmbio. Foram US$ 7,245 bilhões em leilões de dólares à vista, US$ 6 bilhões em novas operações de swap cambial, e ainda US$ 2 bilhões em leilões de linha com recompra.

A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, voltou a operar após abrir em forte queda e o “circuit breaker” ser acionado pela quinta vez em duas semanas. Depois de reduzir o ritmo de perdas, o Ibovespa voltou a registrar quedas mais relevantes. O índice fechou em queda de 13,92%, aos 71.168,05 pontos

Nesta segunda-feira, foi acionado, pela quinta vez em duas semanas, o “circuit breaker”, quando as negociações são paralisadas no mercado. A pausa aconteceu ao atingir 12,53% de queda em relação ao fechamento da última sexta-feira, 13. O patamar voltou a ficar abaixo dos 75 mil pontos – 72.321,99. Quando as negociações foram retomadas, pós pausa de cerca de 30 minutos, o Ibovespa chegou a cair mais de 14%, mas depois reduziu o ritmo de perdas.

Os investidores avaliam as medidas anunciadas mais cedo pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para minimizar os efeitos da pandemia de coronavírus sobre a economia e à espera por um corte extraordinário de juros no Brasil. Às 13h17min, o Ibovespa caía 10,35%, aos 74.124,32 pontos, nível observado no segundo semestre de 2018.

“Eventualmente, pode ocorrer [um novo circuit breaker], ter uma volatilidade grande, mas para perder esses 70 mil pontos precisa de ter algo ainda mais catastrófico. Só neste mês, o Ibovespa perdeu quase 30% [-28,28% até o momento]”, avalia Rafael Ribeiro, analista da Clear. “Óbvio que ninguém sabe o impacto real do coronavírus, mas isso já vem sendo falado há algum tempo. Precisa ter alguma evidência de que o sistema financeiro quebrará para acentuar as perdas”, observa, citando que há grande expectativa por um corte extra da Selic antes do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre entre terça-feira e quarta-feira.

O dólar, depois de ter fechado na sexta-feira, com o maior valor nominal da história (R$ 4,81) – descontada a inflação -, iniciou as negociações desta segunda-feira, cotado a R$ 4,97, alta superior a 3%, subindo ainda mais, para R$ 5,0445 batendo a máxima histórica intraday da moeda americana desde o Plano Real, que é R$ 5,02, alcançado na quinta-feira. Nas casas de câmbio, de acordo com levantamento realizado pelo Estadão/Broadcast, o dólar turismo é negociado acima de R$ 5, variando entre R$ 5,07 e R$ 5,21. Às 13h16min, o dólar subia 3,31%, cotado a R$ 4,9755.

Na Bolsa brasileira, quando as negociações atingem queda de 10%, o primeiro “cricuit breaker” é acionado por 30 minutos. Após o retorno do mercado, caso seja atingido 15% de recuo, uma pausa é realizada novamente, mas, desta vez, de uma hora. Passado esse período, se a queda ultrapassar 20%, uma nova parada é acionada. Neste caso, o tempo não é pré-determinado, e a própria B3 informa por quanto tempo as negociações ficarão suspensas.

Apenas na semana passada, o sistema foi acionado por quatro vezes. Uma na segunda-feira, uma vez na quarta-feira, e duas na quinta-feira. Terça-feira e sexta-feira foram dias de recuperação nos mercados mundiais. As Bolsas ao redor do mundo têm sofrido com essa volatilidade, em um efeito sobe e desce nos últimos dias.

Nova York aciona “circuit breaker”
As negociações dos três principais índices acionários de Nova York (Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq) foram suspensas instantes após a abertura do mercado, por meio do mecanismo conhecido como “circuit breaker”, depois das perdas superarem o limite de 7%. As operações são retomadas após 15 minutos.

Mercados internacionais

Os mercados globais estão em clima de tensão nesta segunda. Após o fechamento dos mercados no oriente, a maior queda na Ásia foi na Bolsa de Taiwan, com o índice TWI. Por lá, a baixa foi de 4,06% em relação ao fechamento anterior. A segunda maior foi em Hong Kong, com (-4,03%), seguido de China, (-3,40), Coreia do Sul (-3,19%) e Japão (-2,46%). No continente asiático, o único mercado a fechar em alta, mesmo que de forma muito tímida, foi o da Tailândia, com 0,06%. Na Oceania, a Austrália teve o pior resultado do oriente do mundo, despencando 9,52%.

Na Europa, o cenário é ainda mais caótico, com recuos próximos da faixa dos 10%. Na sexta-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS), declarou que o velho continente é o novo epicentro da doença, causada pelo novo coronavírus, iniciada na China, na cidade de Wuhan, província de Hubei.

As Bolsas da Europa ampliaram perdas, com quedas ultrapassando os 10%, após as Bolsas de Nova York acionarem o circuit breaker logo após a abertura, em meio ao estresse pelo coronavírus. Às 10h42min, o índice Stoxx 600 caia 10,19%, a 268,96 pontos, com Londres perdendo 8,57%, Frankfurt cedendo 10,15% e Parius despencando 11,32%. Já Madri desabava 11,96%, Lisboa caia 7,45% e Milão registrava baixa de 11,22%.

Neste momento, há uma ação coordenada dos bancos centrais de todo o mundo para tentar diminuir os impactos da Covid-19. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o Banco Central Europeu (BCE), o Banco do Canadá, o Banco do Japão e o Banco Nacional da Suíça divulgaram comunicado conjunto sobre a operação, que será feita por meio de um arranjo via programa de swaps. Porém, essa atuação, com estímulos monetários, não está sendo suficiente para impedir o pânico dos mercados.

Petróleo

O petróleo, que desde o começo da semana passada vem sofrendo quedas nos valores após uma “guerra de preços” entre Rússia e Arábia Saudita, está, nesta segunda, em queda relevante. O índice WTI, para abril, registra, às 09h04min, 8,23% de queda, a US$ 29,12 o preço do barril. O Brent, para maio, tem recuo ainda maior, no mesmo horário, a (-10,16%), cotado a US$ 30,41.

Para conter o estrago na economia do coronavírus, o Federal Reserve cortou os juros para a faixa de zero a 0,25% na segunda reunião extraordinária em duas semanas. A última vez que os juros tinham caído para esse patamar foi em dezembro de 2008.