Dia Internacional da Mulher: Zoe, de uma quase analfabeta à graduação de professora

Rafael Andrade

Tubarão

Todo dia é dia da mulher, mas elas têm uma data internacional: 8 de março. E o Notisul não podia deixar passar a data em branco e preparou uma série de matérias ao longo da semana mais que especial. A homenageada desta sexta-feira é Zoe de Medeiros Souza, professora de Ciências, de 79 anos, natural de Armazém e moradora de Braço do Norte. A história desta idosa mais que simpática é de tirar o chapéu. Em visita à Redação do portal, Zoe detalhou toda barra que enfrentou, mas enalteceu suas conquistas, principalmente após retornar aos estudos aos 26 anos, na 5ª série, em uma sala de aula lotada de crianças de 11 anos. “No banco da escola somos sempre crianças. Não devemos deixar de estudar, nunca é tarde. A educação foi a melhor coisa da minha vida”, resume a professora aposentada.

Filha do ferreiro João do Nascimento Medeiros e da dona de casa Cantalícia Moreira Medeiros, que tiveram nove filhos, mas cinco morreram antes de completar 8 meses de vida, Zoe sempre gostou de aprender. Estudo até a 4ª série ainda criança, depois parou, foi trabalhar e foi mãe solteira. O filho mais velho, Sandro Medeiros, tinha apenas um ano e Zoe, já adulta, com 27, decidiu retornar à sala de aula. Foi a única adulta a se matricular no antigo ginásio, na 5ª série da Escola Dom Joaquim, em Braço do Norte. Fez história, não teve vergonha e tinha um objetivo: concluir os estudos e entrar na universidade. Ela conseguiu.

“Lembro que fui comprar meu material em uma papelaria e o dono me questionou se era para mim. Respondi que sim e que eu voltaria à escola. Ele me perguntou qual série, disse 5ª, então ele me falou que sua filha, de 11 anos, estava na mesma série, acabei estudando com a filha dele, fomos ‘coleguinhas’. Dali em diante fiquei ainda mais convicta de concluir meus estudos”, recorda Zoe.

Morando com os pais à época e contando com o apoio da mãe para cuidar do seu bebê, a então jovem sonhadora passou de ano, foi para a 6ª série e, novamente, lá estava ela, rodeada por crianças, dividindo a mesma sala e encantada pelas novas disciplinas. “Conclui este ano com mais uma vitória, tinha passado para a 7ª série, foi quando outros adultos da cidade, sabendo da minha história, decidiram também retornar aos estudos, aí a diretoria da escola Dom Joaquim decidiu abrir a minha turma para jovens e adultos no período noturno, e entrou mais uma vez para a história. Fiz a sétima com pessoas da minha idade e mais velhas, passei de ano. A oitava fui para Rio Fortuna, também em uma turma de adultos e à noite. Conquistei meu primeiro diploma. Este mesmo grupo decidiu fazer o antigo 2º grau, então fizemos a primeira, segunda e o atual terceirão. Conclui novamente. Foi meu segundo diploma, mais uma vitória, já aos 34 anos”, lembra a professora.

Zoe se formou em dezembro de 1973 e, no mesmo mês, decidiu dar continuidade ao seu objeto. Prestou vestibular para a antiga Fundação Educacional do Sul de Santa Catarina (Fessc), hoje Unisul, para Pedagogia, e passou. No ano seguinte, a então revendedora de cosméticos ingressava na faculdade após muita força de vontade e amor pela sala de aula. Dois anos depois começou a lecionar. Aos 38 anos, quase se formando, casou-se com operador de máquina Augustinho Ferreira de Souza, o primeiro marido. Engravidou praticamente no mesmo ano da união e precisou trancar a matrícula na faculdade. Foram pouco mais de dois anos afastada, mas, aos 41 anos, Zoe conquistou o seu terceiro diploma. O de graduação e, de uma quase analfabeta aos 27 anos se tornou professora.

Daí em diante não parou mais, fez cursos, participou de palestras e foi ganhando experiência em sala de aula, até se tornar diretora de escola, por oito anos. Aquela menina do interior tinha chegado ao ápice, deixando preconceitos para trás e as dificuldades de ter sido mãe solteira. “Minha vida tem sido muito gratificante. Mostra que mulher pode ser poderosa indo à luta, principalmente por si. Passei trabalho, mas tudo foi recompensado. Hoje, viúva, nossa homenageada mantém seu sorriso farto e, apesar do uso da bengala, seu principal apoio na vida foi o estudo, como ela mesmo diz. “Fui lecionar inspirada em uma professora de Ciências. Tive conquistas por ter retornado ao banco da escola. Tudo foi frutífero, promissor e feito com amor”, conclui a professora.

Feliz Dia Internacional da Mulher, Zoe!