Zahyra Mattar
Tubarão
Amanhã será feriado em apenas 225, de um total de 5.561 municípios do Brasil, segundo levantamento da secretaria especial de políticas de promoção da igualdade racial. Mas o dia 20 de novembro significa muito mais que homenagens a um dos mais valentes líderes brasileiro, Zumbi dos Palmares, trata-se também do Dia Nacional da Consciência Negra, quando o Brasil discute o papel no cidadão negro na construção do país.
É um dia de manifestações, debates, palestras e homenagens com o objetivo primordial de libertar do preconceito, que ainda exclui os afrodescendentes. Conforme estatísticas do IBGE, em 2010, a população negra, no Brasil, será superior à branca. Ainda com tanta diversidade, o país é sim uma nação preconceituosa, racista e que não aceitou sua origens. “A luta por igualdade é longa. No período colonial, escravizaram o negro para construir o mundo. Depois veio a abolição, que não teve outro significado a não ser o de colocar na rua o escravo, sem lhe dar a oportunidade tirada ainda no berço. A comunidade negra, que até então só conhecia o trabalho escravo, não teve opção a não ser engrossar as favelas e viver a marginalidade. Ainda hoje, o homem e a mulher negra vivem na base da pirâmide social”, analisa o mestre em educação e vereador tubaronense, Maurício da Silva.
Negro, bem sucedido e um dos defensores mais ferrenhos da manutenção do movimento negro em Tubarão. Orgulhoso de sua origem, o vereador vê na educação a saída para tornar o país mais igualitário. “O Brasil, embora rico, é um dos países mais desiguais do mundo. É necessária a retomada da cultura afro, é preciso contar para as crianças a verdadeira história do Brasil. Aquela em que o negro foi escravizado, mas lutou com sangue e inteligência para conquistar sua liberdade. Não foi um presente da princesa Isabel”, ensina o mestre.
Colégio Gallotti realiza projeto há 13 anos
Tatiana Dornelles
Tubarão
Há 13 anos a escola estadual Senador Francisco Benjamin Gallotti de Tubarão desenvolve, através do professor de história Paulo Henrique Lúcio (Paulão), um projeto sobre o Dia Nacional da Consciência Negra. Sempre em novembro, uma programação é realizada para que os alunos possam refletir a data.
Palestras, apresentações de danças e bate-papo são realizadas com as turmas dos três períodos e, este ano, o evento na escola ocorrerá nesta sexta-feira. “É um dia para promover a reflexão sobre o dia da consciência negra entre os alunos. A luta é, a cada ano, trabalhar nesse momento para tocar na ferida do preconceito. Somos o segundo país com maior número de negros”, explica o professor.
Segundo ele, as pessoas precisam deixar de ver os negros somente como folclore, carnaval. “Os negros querem espaço para mostrar a competência. A capacidade não é questão de cor, é de esforços, de trabalho. E é possível fazer esta mudança a partir do diálogo”, ressalta Paulão.
O professor afirma que as pessoas precisam reconhecer a diferença, trabalhar a diversidade. “É preciso reconhecer a diferença, não tornar todo mundo igual. O preconceito ainda existe sim. Mas não somos iguais e não devemos ser. As pessoas precisam aprender a conhecer o outro e saber conviver com ele. Com isso, teremos menos guerras, menos brigas”, argumenta.
A vitória de Barack Obama nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, reforça Paulão, é uma prova de que é possível modificar a visão quanto aos negros. “Os negros podem estar no poder, trabalhar como gerentes, estar em postos mais altos. Mas precisam de espaço. A vitória de Obama mexeu um pouco com a ótica do negro no poder, está diferente”.
Embora a lei sobre o estudo da África no currículo escolar seja de 2003, o Gallotti já trabalha a questão desde 1995, quando foi desenvolvida a primeira edição do projeto. De lá até hoje, a escola realiza o evento anualmente. “Painéis, culinária do povo africano, palestras, muita coisa foi feita durante estes anos. Os estudantes que já passaram pela escola ainda lembram do projeto. O tempo e a insistência pela realização é para dar visibilidade à cultura do povo afrodescendente”, acrescenta.