Cinzas devem migrar para o oceano

 Jean mal havia terminado de passar um pano no carro e a sujeira já tinha voltado.
Jean mal havia terminado de passar um pano no carro e a sujeira já tinha voltado.

Karen Novochadlo
Tubarão

Quem aproveitou o dia de ontem para lavar o carro ou limpar a varanda de casa perdeu tempo. No sul do estado, automóveis, calçadas, varandas ganharam uma camada de pó, com a chegada das cinzas do vulcão chileno Puyehue, que assustaram muita gente. Hoje, devem ir embora para o Oceano.

A nutricionista Michele Medeiros, 25 anos, de Tubarão, tomou um susto quando saiu de casa por alguns minutos. O seu carro voltou coberto de uma poeira branca. “Eu não sabia o que era. Depois que descobri que era cinza”, conta ela. Jean Serafim, 20 anos, trabalha em um estacionamento no centro da cidade, e concluiu que não adiantava passar um pano para limpar os veículos. Em pouco tempo, a sujeira predominava novamente.
Aeroportos localizados em Joinville, Florianópolis e Criciúma permaneceram fechados. Em Criciúma, a situação era mais crítica por causa da visibilidade. Um outro problema é que a substância sílica, que compõe a cinza, quando entra nas turbinas, transforma-se em vidro e provoca um travamento.

Em Laguna, o morro da Glória ficou encoberto pelas cinzas. “Se você observar o céu, pode ver uma névoa fina, com grãos”, destaca o piloto de avião Adson Batista Medeiros, dono da conta no twitter @tempolaguna.
O climatologista Rafael Marques explica que a precipitação de ontem fez com que as cinzas caíssem em alguns municípios. Registram o fenômeno também em Braço do Norte, São Ludgero, Capivari de Baixo, Sangão e Treze de Maio.

Como as cinzas chegaram a Santa Catarina?
As cinzas do vulcão chileno Puyehue foram trazidas pelo jato polar. Com a estabilidade do ar em níveis inferiores, devido ao sistema de alta pressão que atua sobre boa parte da Argentina, Uruguai e sul do Brasil, a cinza vulcânica passou a fazer parte da névoa seca que fica sobre o litoral do estado. As cinzas reduziram a visibilidade para quatro quilômetros na horizontal. Um instrumento de medição do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) confirmou a presença das partículas de cinzas no sul do Brasil.

E a saúde?
De acordo com o pneumologista Adilson Medeiros, da clínica Pró-Vida, de Tubarão, não existem estudos que comprovem que as cinzas vulcânicas que estão na região causam mal à saúde. A quantidade não é suficiente para provocar danos. E, mesmo assim, são grossas para serem aspiradas. Somente pessoas que vivem em locais com grande concentração são predispostas a estas doenças.
O secretário de saúde da prefeitura de Tubarão, Roger Augusto Vieira e Silva, alerta que o contato com as cinzas para pacientes com doenças respiratórias pode trazer desconforto.