Chuvas no sul catarinense: Onze cidades estão em emergência

Zahyra Mattar
Tubarão

Depois da tragédia registrada no norte do estado, agora é o sul que passa por um momento de calamidade pública. A chuva que começou sexta-feira à noite e terminou somente na madrugada de domingo deixou 18 cidades com algum tipo de problema relacionado a alagamentos e transbordo de rios. Ontem, com o tempo mais firme, o dia foi de reparos e organização para o atendimento das 508 famílias que estão desabrigadas no sul catarinense, a maioria delas em Araranguá. Outras 1.380 estão desalojadas.

O número de municípios em situação de emergência subiu para 11. Na tarde de ontem, a Defesa Civil Estadual recebeu o decreto da cidade de Lauro Müller. Antes disso, as cidades de Araranguá, Criciúma, Forquilhinhas, Jacinto Machado, Turvo, Nova Veneza, Içara, Ermo, Siderópolis e Meleiro já havia confirmado a situação emergencial. Em outras sete cidades – Urussanga, Timbé do Sul, Tubarão, Jaguaruna, Laguna, São Martinho e Praia Grande – houve o registro de estragos, especialmente no setor de infraestrutura, mas nenhuma prefeitura chegou ao ponto de precisar fazer valer o decreto de situação de emergência.

A situação mais delicada é em Araranguá, onde o rio de mesmo nome está, ainda, 3,4 metros acima do nível normal. No domingo, a marca registrada foi de 4,30. Em Forquilhinha, Nova Veneza e Siderópolis, também existem profundos estragos. Em Tubarão, o dia foi de operação tapa-buracos, especialmente nas ruas centrais da cidade.

Trecho da BR-101, em Araranguá, só deverá ser liberado no fim de semana
O bloqueio na BR-101, do quilômetro 404, em Maracajá, ao 412, em Araranguá, continua. A pista ficou submersa ainda na madrugada de sexta-feira. Para acessar o Rio Grande do Sul, o trânsito é desviado no quilômetro 396 (acesso sul de Criciúma), passando por Forquilhinha, Meleiro, Turvo e Ermo, retornando para a BR-101, no quilômetro 426.

O percurso do desvio é de 62 quilômetros. A viagem de quem tenta chegar ao estado gaúcho, por exemplo, aumenta em 32 quilômetros. Ainda, o desvio é liberado somente para automóveis e ônibus. Caminhões precisam buscar outras alternativas. A maioria está parado em Criciúma e Araranguá em postos de combustíveis à beira da estrada.
Dos 50 gaúchos que ficaram ilhados, domingo, no quilômetro 410 da BR-101, em Lauro Carneiro, na cidade de Araranguá, 15 seguem no local à espera da água baixar. O grupo está sem energia elétrica e dorme dentro dos carros. A Defesa Civil Estadual leva água e alimentos para eles. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura em Transportes (Dnit), a rodovia deverá ser aberta ao tráfego somente no fim de semana. Com a maré alta, a água não tem para onde escoar.

Além da BR-101, os alagamentos são verificados na SC-449, que liga Araranguá a Meleiro. A rodovia está interditada desde sábado. Na SC-445, entre Criciúma e Siderópolis, o trânsito segue bloqueado por conta da queda de uma barreira no fim de semana. Na SC-448, entre Nova Veneza e Forquilhinha, o acostamento caiu e o trânsito está em meia pista.

A Polícia Militar Rodoviária Estadual (PMRv) está na ponte sobre o Rio Mãe Luzia de Forquilhinha para vetar o tráfego de caminhões pesados. Apenas ônibus, ambulâncias, veículos pequenos e caminhões menores com produtos perecíveis podem atravessar.

Amanda Menger
Jaguaruna

“Comportas estavam abertas”, diz Dionísio
Para chegar a Tubarão, o comerciante Luiz Mendes, morador da comunidade de Riachinho, em Jaguaruna, precisou aumentar o percurso em 25 quilômetros. Isso porque ele precisa ir até a Fazenda Arlete, no Laranjal, para conseguir voltar ao centro de Jaguaruna e à BR-101.

“Demoraram para abrir as comportas do Rio Congonhas e do Rio Riachinho, com isso, o alagamento foi maior e as estradas estão intransitáveis. Neste fim de semana, teve muita gente que não conseguiu sair de casa por causa disso. Os problemas de alagamento na BR-101 e no bairro Monte Castelo, em Tubarão, ocorreram por causa desta demora”, afirma Luiz. Para ele, é preciso que haja pessoal treinado para operar as comportas. “Quem é que avisa o operador que ele precisa abrir ou fechar? Que conhecimentos técnicos ele tem para avaliar isso?”, questiona.

O presidente da Cooperativa Agropecuária de Tubarão (Copagro), Dionísio Bressan Lemos, contesta as observações do comerciante. “As comportas ficaram abertas, sim. Sexta-feira à noite, já foi dado o aviso e o operador, que mora ao lado da comporta, abriu. E mesmo que não tivesse aberto, com o volume de água que choveu, o nível do rio teria passado por cima da estrutura da comporta”, explica Dionísio.

Segundo Dionísio, o operador da comporta do Rio Congonhas recebe instruções de técnicos da cooperativa. “Ele recebe informações sobre a previsão do tempo, expectativa de chuvas e, além disso, está ao lado e sabe como as coisas funcionam”, afirma. A comporta do Rio Riachinho é operada por uma outra cooperativa de produtores de arroz. As duas obras foram concluídas em 2001 e têm como objetivo regular a salinidade das águas do complexo lagunar.