Caso Pedro Henrique: Médico detalha o atendimento

Karen Novochadlo
Tubarão

A morte do menino Pedro Henrique Ayala, 3 anos, após receber uma injeção, terça-feira à noite, chocou os moradores de Tubarão e região. Ele foi internado para tratar uma virose. O pediatra Willian Esmeraldino, que atendeu a criança, concedeu entrevista ao Notisul ontem.

Pedro foi levado ao hospital pelo tio Fernando Pereira, 26 anos, e pela mãe, Maiara Pereira, 22, após apresentar vômito. O menino recebeu atendimento na emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição pelo clínico-geral de plantão e recebeu soro. O pediatra Willian o atendeu assim que chegou ao hospital, por volta das 13h30min. “Vi que ele estava desidratado, abatido e com dor abdominal”, relata. O quadro do menino indicava uma gastroenterite aguda, conhecida como virose. O médico pediu raios-x do tórax e dos seios da face (maçã do rosto).

Às 16 horas, o médico realizou uma nova consulta. “A intenção era dar alta, mas ele deitou no colo da mãe com enjoo e dor. Então, optei pela internação”, conta.
Willian receitou 1,2 ml de Zofran, o último medicamento que Pedro recebeu. Este remédio, segundo o médico, era para ser aplicado em seguida. Contudo, foi fornecido após as 20 horas.

Willian garante: Zofran é uma medicação segura e pode ser utilizada em crianças, a partir de seis meses de idade, inclusive em quem é submetido a cirurgias, quimioterapia ou radioterapia. “É um remédio caro, R$ 200,00 a dose, e bastante efetivo no controle de náuseas e vômito. Eu prescrevo esta medicação há três anos. A literatura médica menciona que a medicação não causa parada cardiorrespiratória”, justifica.

A tragédia

Pedro Henrique Ayala, 3 anos, morreu ao lado da mãe, Maiara Pereira, após receber uma injeção no segundo cateter do soro – o medicamento foi aplicado diretamente em sua veia. A mãe relata que, no instante que a medicação foi aplicada, o menino começou a sentir dores e pediu para tirar o soro.

Ela reforçou o pedido à estagiária do curso de técnico em enfermagem que aplicava o remédio. Contudo, a injeção não foi interrompida e a criança teve uma parada cardiorrespiratória. A pediatra de plantão tentou reanimar Pedro. Após a tentativa, ligou para o médico Willian Esmeraldino.

De volta ao hospital, Willian conversou com a família. “Eu liguei para o Centro Toxicológico de Florianópolis para saber se havia algum relato de parada cardiorrespiratória causada por Zofran e não havia registro”, conta ele. O corpo foi encaminhado ao IGP. O laudo cadavérico que apontará o que levou à morte dever ser concluído em duas semanas.

Existe a suspeita de que o diluente utilizado junto com o medicamento tenha sido trocado por cloreto de potássio (não indicado). No hospital, existe um protocolo para a aplicação de medicação. Para cada tipo de remédio, existe um ml já pré-estabelecido. “Não posso dizer quem manipulou ou o quê”, afirma o médico.]

Depoimentos começam a ser colhidos hoje

Hoje, a delegacia da criança, do adolescente e de proteção à mulher e ao idoso começa a coletar os depoimentos dos envolvidos no caso da morte do menino Pedro Henrique Ayala, 3 anos.

Os funcionários do Hospital Nossa Senhora da Conceição serão os primeiros a serem ouvidos. Depois, serão convocados os familiares da criança e, por fim, o médico pediatra que o atendeu, Willian Esmeraldino.

“Vamos conversar com todos os funcionários que estiveram envolvidos, direta ou indiretamente, com o caso”, antecipa o delegado responsável pelo inquérito, Jair Tártari (foto). A previsão dele é que a investigação seja finalizada em aproximadamente um mês.