Cadeirante conta nas redes sociais uma aula de solidariedade em meio às chuvas no Rio de Janeiro

Maria Paula na loja de conveniência, alagada - Reprodução / Facebook
Maria Paula na loja de conveniência, alagada - Reprodução / Facebook

O relato de uma cadeirante, postado logo após a tempestade que castigou o Rio, desde a noite desta segunda-feira, tem despertado um debate: como a solidariedade é capaz de melhorar a sociedade. A história é de Maria Paula Teperino que, impossibilitada de andar, se viu ilhada em seu carro na altura do Parque dos Patins, na Lagoa.

“Eram 18h quando eu saí de Ipanema. Chovia muito, mas achei que passaria logo. Peguei a Lagoa e por uns 2km andei bem. Na altura do Parque dos Patins, a Lagoa parou. Eu estava ao lado de um Posto BR e entrei nele. Tinha a esperança de ficar por lá por no máximo uma hora, esperar os carros andarem e vir pra casa. Só que não. A chuva só aumentava. Quando vi, estava cercada por motoqueiros também buscando abrigo”, contou a cadeirante: “Abri o vidro do meu carro e disse para um deles que estava ficando com medo de ficar ali dentro, que não andava e que, se entrasse água no carro, eu não teria como sair. Esse rapaz que é bombeiro e mais um outro disseram que, se a água subisse mais, eles me tirariam de dentro e me levariam pra loja de conveniência. Assim eles fizeram. Primeiro levaram a cadeira e depois me carregaram”.

Segundo Maria Paula, o local estava cheio de pessoas que, assim como ela, buscavam abrigo. A água subia sem parar, mas mesmo assim o dono manteve a tranquilidade e acolhia quem chegava:

“Por lá fiquei de 19h30 às 3h. Vi o melhor e o pior do ser humano. Como as pessoas mais humildes são solidárias, empáticas, e como a nossa “elite, branca” (da qual faço parte) pode ser mesquinha e babaca. Fiquei muito cansada, me sentindo impotente diante do descaso total para com a nossa população. Em nenhum momento fiquei desesperada. Me senti protegida pelo bombeiro, pelo entregador de pizza que me resgataram do carro. Por um casal do Méier que ficou comigo até eu poder sair e ainda me orientou a pegar a ciclovia e voltar pra casa pela praia. Pelo motorista de táxi, que me ajudou a passar por um lugar alagado para que eu usasse o banheiro”.

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, a noite e a madrugada serviram de aprendizado para Maria Paula:

“Ainda vou precisar de muito tempo pra elaborar tudo o que vi e aprendi. Que esse sufoco todo que eu passei possa me melhorar como pessoa. Foi uma escola de vida em pouco mais de cinco horas”.