Atrás de comida, porcos tomam conta do bairro no RJ

No meio do caminho tinha um porco. Tinha um porco no meio do caminho. Na verdade, eram 8 porcos caminhando pela rua Almirante Alexandrino no bairro de Santa Teresa durante a manhã desta sexta-feira. Quem passa perto da região do Morro dos Prazeres já está se acostumando com a presença dos animais por ali.

De acordo com os moradores, logo pela manhã, os porcos passam pela entrada do morro e vão descendo uma das principais ruas do bairro atrás do que comer. A comerciante Carla Almeida**, moradora de Santa Teresa, afirma que os animais vivem pra lá e pra cá fuçando os sacos de lixo do bairro.

“De manhã cedo é uma inundação de porco aqui pela rua. Quando é dia de retirar o lixo, aí é que eles vêm mesmo”, contou ela.

Entre bondinhos, carros e ônibus, os porcos passeiam pelas ladeiras de Santa Teresa sem o menor pudor. Sem respeitar a faixa de pedestres, eles caminham de um lado para o outro da rua procurando por comida, ou uma poça para se banharem e beberem água. Enquanto os maiores brigam por espaço quando acham algum alimento, os filhotes se esforçam para mamar nas tetas da mãe.

Para a estudante Daniela Vitória, de 19 anos e moradora de Santa teresa, os bichos não assustam mais ninguém e até conseguem a simpatia do pessoal do bairro.

“Eles são bonitinhos, principalmente quando ficam andando em família”, disse a jovem.

Seu colega de escola, Wagner Maurício, de 18 anos, já não enxerga tanta sutileza nos animais.

“Alguns são do tamanho de uma bike infantil”, contou ele.

O tamanho dos porcos realmente impressionava quem passava pelo local. Algumas vans de turismo que levavam as pessoas para dentro do Parque Nacional da Tijuca davam uma paradinha para que os passageiros pudessem tirar foto dos animais, que fuçavam o lixo atrás de comida.

A concentração dos bichos fica entre a entrada do Morro dos Prazeres e a sede do corpo de bombeiros, na rua Almirante Alexandrino. Em um local destinado para os moradores colocarem seus sacos de lixo, há um monte de plástico, resto de comida e papel, que acabam sendo ingeridos com facilidade pelos porcos maiores.

Durante sua corrida pela manhã, o suíço Gregório John parou para tirar uma foto dos animais. O turista morou no Rio de Janeiro por cinco anos enquanto estudava relações Internacionais na Puc. De volta à cidade para passar férias, ele se diz impressionado por poder encontrar tais animais em um local urbano.

“É incrível pensar que eu estou no meio de uma cidade com milhões de habitantes e é possível cruzar com esse animais”, contou.

Para o motorista da linha 006 (Silvestre – Castelo), Felipe de Souza, às vezes a presença dos animais atrapalha no trânsito. O jovem de 23 anos, que virou motorista há dois meses, diz que enquanto tiver algum lixo nas ruas, os porcos não saem de lá.

“É tudo porco suicida”, brincou ele. “Quando está chovendo é mais perigoso ainda porque eles aparecem sem mais nem menos na frente dos carros e você tem que estar preparado para frear”.

Como tudo que é curioso no Rio de Janeiro, os porcos de Santa Teresa já são protagonistas de algumas lendas urbanas contadas pelos moradores e comerciantes locais. Alguns deles dizem que os animais pertencem ao chefe do tráfico do Morro dos Prazeres, outros dizem até que um dos porcos é sobrevivente de uma bala perdida.

“Já estão todos habituados ao bairro já”, disse um funcionário que trabalha no bondinho. “Tem vezes que são mais de 15 andando por aí”.

Segundo a Unidade de Vigilância Sanitária da Secretária Municipal de Saúde, “a criação irregular de suínos para posterior abate e consumo da carne pode acarretar doenças como intoxicações e infecções intestinais”. No ano de 2019, a unidade já recebeu 14 chamadas de recolhimento de suínos, mas, até março, apenas 3 deles tinham sido levados por agentes, que dizem ter dificuldade de encontrar o animal quando chegam ao local.

Em nota, a Comlurb também informou que existem três contêineres metálicos na comunidade para o descarte correto dos resíduos e pede para que a população “respeite o horário da coleta para evitar o acúmulo de lixo na área”.