Amigas inseparáveis quando jovens, Sílvia Aparecida de Oliveira e Iraci Hermínio Alves perderam contato há quatro décadas quando deixaram de estudar.
No início do mês passado, ambas retomaram os estudos ao ingressarem na turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Estadual João Pires de Camargo, em Araraquara (SP).
Assim que se viram no primeiro dia de aula, veio o susto – e a alegria. “Minha amiga!”, gritou Sílvia ao ver Iraci após tanto tempo. Elas se conheceram enquanto estudavam em uma escola rural no assentamento Bela Vista, na década de 70.
Precisaram largar os estudos devido à pressão da família.
“Já estava todo mundo sentado e eu cheguei atrasada e direcionei o olhar para o fundo da sala pensando onde eu ia sentar, aí escutei o grito e gritei de volta: Nossa!”, contou Iraci.
Atualmente ambas tem 55 anos e já estão com os filhos criados. Com mais tempo para poderem dedicar a si mesmas, elas decidiram concluir os estudos. Só não esperavam se reencontrar na sala de aula.
“Eu lembro que a mãe dela era merendeira da escola e fazia uma comida muito gostosa. E a mãe dela morava próximo à escola e, às vezes, nós íamos à casa dela “, contou Iraci. “Nossa, eu lembro de um bolo que sua mãe fazia (diz olhando para Silvia), muito bom. Eu ia na casa dela interessada na mãe dela e isso aí contribuiu para nossa amizade (risos)”. Juntas uma vez mais, elas irão concluir o ensino médio mais de 40 anos depois de terem deixado a sala de aula e se afastarem uma da outra.
Distanciamento das amigas
Iraci e Silvia se separaram em 1978, quando tinham 14 anos. Apesar da distância, cada qual seguiu trajetórias de vida muito semelhantes: largaram a escola após o ensino fundamental para se casarem e se entregaram à típica e tradicional vida familiar, até os filhos crescerem e se tornarem independentes.
“Como se diz, primeiro eu era do pai e depois eu fui do marido. O pai sempre achando que não precisava estudar, mas sempre gostei e sou frustrada por não ter seguido. Eu acho que iria pela área da educação ou da saúde que eu gosto muito”, conta Iraci.
Silvia afirma que sempre gostou de ler e estudar, mas precisou deixar a escola quando se casou. “Sempre dizia que um dia ia voltar, queria voltar. E ver a minha amiga voltando também foi muito bom, foi incrível, foi uma coisa muito legal. Muitos anos sem ir à escola e aí você volta e tem uma pessoa assim, que conviveu, que gosta bastante.”
Reencontro de almas
As quatro décadas que afastaram as duas amigas parecem não ter existido. Assim que elas se reencontraram no primeiro dia de aula no EJA, no final de julho, já trocaram confidências e marcaram de fazer os trabalhos escolares juntas.
“Você ficou 40 anos sem ver, mas aí tem uma coisa na sua vida que você conta para ela. Você convive com as pessoas, mas não consegue contar, mas para ela eu consigo. É uma coisa legal”, diz Silvia.
Eu acho que é uma amizade sincera, é uma sintonia que ficou, que a gente se gostava mesmo, desde aquele tempo, é uma coisa sincera mesmo, é de alma”, diz Iraci.
“É de alma, falou tudo”, confirma Silvia.
Fonte: G1/Fotos: Fabiana Assis/G1
