Animais podem prever mudanças no tempo

Alguns fazendeiros do meio-oeste dos Estados Unidos afirmaram que sabiam da chegada da recente onda de frio extrema que atingiu a região antes mesmo que ela fosse prevista oficialmente. Para eles, o aviso prévio não veio pelos meteorologistas, mas pelo comportamento de seus animais.

Deanna Brennecke, uma fazendeira de bezerros de Iowa, afirmou à agência de notícias Reuters que soube dias antes do frio intenso que chegaria ao estado devido ao comportamento de seu gado – os animais estavam comendo muito mais do que o normal e ganhando peso para se manterem aquecidos antes mesmo que as temperaturas caíssem. “Eles estavam se enchendo, e nós sabíamos o porquê”, afirmou Brennecke.

Evidências anedóticas como estas sugerem que os animais podem, até certo ponto, prever o tempo. No entanto, isso nunca foi provado cientificamente.

O que provoca o sentido aguçado nos animais?

O que se sabe é que os animais reagem a sinais da natureza que surgem quando ocorrem mudanças no tempo. Alguns eventos extremos, como furacões, por exemplo, causam grande queda nas pressões do ar e da água, e muitos animais são capazes de sentir rapidamente essas mudanças. Dessa forma, passam a se comportar de modo estranho e podem até mesmo fugir ou se esconder por segurança.

Esse tipo de comportamento também foi observado em um grupo de tubarões, após pesquisadores acompanharem a movimentação desses animais durante eventos do tempo extremos, como a tempestade tropical Gabrielle, em 2007. Após a pressão barométrica cair apenas alguns milibares, o que corresponde a uma queda na pressão hidrostática (água), alguns tubarões nadaram para águas mais profundas, onde havia mais proteção para a tempestade.

Pássaros e abelhas também aparentam ser sensíveis a essa queda na pressão barométrica – quando ela ocorre, buscam instintivamente cobrir seus ninhos e colmeias. Andorinhas também usam esse senso de pressão do ar para determinar para onde é seguro migrar.

Os humanos também podem ter reações às mudanças do tempo, e isso explica por que muitas pessoas afirmam sentir dor de cabeça antes de uma tempestade. O desconforto ocorre, provavelmente, por um tipo de reação à queda da pressão atmosférica, que cria uma diferença entre a pressão do ar externa e a do ar de nossos seios da face, o que resulta em dor.

Lei de Dolbear

A relação entre o “cri-cri” de um grilo e a temperatura é talvez o exemplo mais fascinante de como o reino animal pode estar em sintonia com as mudanças ambientais. Essa relação é conhecida como Lei de Dolbear, em homenagem ao físico americano Amos Dolbear, que publicou um artigo sobre o assunto chamado “O críquete como termômetro” (The Cricket as Thermometer), em 1897. A relação entre o “cri-cri” e temperatura é expressa nesta equação, escrita por Dolbear: Tf=50+(N60-40)/4, onde TF é a temperatura em graus Farenheit e N60 são os “cri-cris” por minuto.

A relação entre a temperatura e o “cri-cri” ocorre por um aumento no metabolismo do grilo a sangue frio, que acontece quando a temperatura sobe. O metabolismo acelerado fornece mais energia para contraturas musculares ou, no caso do inseto, para o som do “cri-cri”.

Dolbear passou horas observando um grilo em uma árvore com neve para determinar a equação, que se acredita ser precisa numa média de um grau Farenheit. O cálculo pode ser feito somando o número de “cri-cris” que você escuta em 15 segundos ao número 37. A soma será aproximadamente igual à temperatura atual em graus Fahrenheit.

A crina do cavalo também já foi usada para medir a umidade, antes do surgimento dos modernos higrômetros eletrônicos. Os ​​chamados higrômetros capilares eram engenhocas onde a crina de cavalo era colada a dois suportes. À medida que os cabelos eram esticados e contraídos pela umidade, qualquer alteração no comprimento era tida como uma medida da umidade relativa.

Dia da Marmota

Um dos casos mais conhecidos e amplamente celebrados de que animais preveem o tempo é o Dia da Marmota (Groundhog Day). Baseado em uma velha superstição levada à Pensilvânia por colonos de língua alemã em meados do século 19, o Dia da Marmota (celebrado em 2 de fevereiro) se resume em observar o comportamento do animal: se ele sair da toca, significa que o inverno do Hemisfério Norte terminará mais cedo; se o animal continuar entocado, o inverno durará mais seis semanas. Claro que não é nada científico, mas a tradição ganhou muitos fãs, e virou feriado em alguns lugares.

A maior festa do Dia da Marmota acontece em Punxsutawney, na Filadélfia. Após observar o animal e receber a notícia que define o guarda-roupa e o ânimo da estação, os visitantes deliciam-se com donuts, doces e bebidas quentes.

Para o festival deste ano, os meteorologistas da StormGeo previram corretamente que as nuvens bloqueariam a sombra da marmota e fariam as pessoas acreditarem que a primavera estava chegando, o que agora sabemos não ser verdade.

Foto: Istock