Amor de mãe: desafio das mães com mais de 40

Jailson Vieira
Tubarão

Mesmo que muitas mulheres sonhem em ser mães desde muito cedo, muitas o façam ainda na adolescência e outras antes dos 30, a gravidez aos 40 anos, na última década, por exemplo, tem se tornado cada vez mais recorrente. No tempo de nossas bisavós, avós e mães era comum, esperado e muito cobrado que as mulheres na faixa etária dos 20 anos, fossem casadas, com filhos e realizadas na sua função materna, atualmente a situação é bem diferente.

Saber o momento certo para engravidar para muitas mulheres pode ser uma decisão difícil: além dos aspectos pessoais, como relacionamento, carreira há também a realidade biológica do corpo feminino. A partir dos 40 anos, a gravidez pode ser considerada tardia, o que envolve um cuidado ainda maior das mamães por causa dos riscos envolvidos.

A reportagem do Notisul apresenta três relatos de mães aos 40, a jornalista Emanuela Silva, a empresária Fabiana de Aguiar Joaquim e da auxiliar de serviços gerais Maria das Dores Alves, além dos cuidados médicos da ginecologista e obstetra, Gabriela Weber da Silva, de Braço do Norte. A realidade é que o momento certo para ser mãe é a hora que acontece e, independentemente da idade, o mais importante é que a maternidade seja desejada.

 

A ginecologista e obstetra Gabriela Weber da Silva relata os avanços da medicina

A profissional de medicina afirma que há algumas gerações, ver uma mulher ter o seu primeiro filho após os 40 anos era algo quase que raro. Segundo ela, hoje as prioridades mudaram muito, antes de pensar na maternidade a maioria das mulheres investem o seu tempo em estudar, se especializar e consolidar a sua carreira profissional. Além disso os avanços da ciência dão mais segurança para que a mulher engravide de forma mais tardia.

A médica expõe que não há como negar que as chances de engravidar após os 40 anos são muito menores. Isso ocorre, pois, a reserva de óvulos diminui significativamente com a idade. Além disso, os óvulos mais velhos são mais propensos a desenvolver problemas, aumentando alguns riscos nessa gravidez. “Dos 38 aos 40 anos, as chances de engravidar são de 9% durante um mês de tentativas e 50% dentro de um ano. Entre os 41 e 42 anos, as chances caem para 4% durante o mês e 20% durante o ano. Já entre os 43 e 45 anos, a probabilidade de engravidar dentro de um mês é de apenas 0,2% e de 1% em um ano inteiro de tentativas”, observa.

Sobre a possibilidade que a gravidez ocorra de maneira natural após os 40 anos, a médica Gabriela afirmou que depende muito da fisiologia de cada mulher. Mulheres que entram na menopausa mais tarde podem engravidar naturalmente após os 40 anos, mas é difícil prever se isso ocorrerá. Apenas um médico ginecologista e obstetra poderá confirmar as verdadeiras chances de gravidez do casal, após uma série de exames que auxiliam na avaliação fértil da mulher, como a contagem de folículos antrais e o nível de hormônio anti-Mülleriano (HAM).

A ginecologista e obstetra destaca que considerando as prioridades da mulher de hoje, pode-se dizer que o pico de fertilidade é bem precoce, ele ocorre entre os 20 e os 30 anos. Nesta fase, a reserva de óvulos ainda é grande e o organismo seleciona os melhores para a ovulação. A partir dos 30, a chance de engravidar já começa a cair. Porém, o pico da fertilidade não significa que essa seja a melhor época para se tornar mãe. Esta é uma decisão muito importante, que vai mudar a rotina da mulher para sempre. Por isso, é preciso levar em consideração o seu planejamento de vida e seus sonhos.

Após os 40 anos, existem mais riscos na gravidez e eles aumentam tanto para a gestante quanto para o bebê. “Para a gestante ocorre o aumento de incidência de doenças como a hipertensão, diabetes gestacional, pré-eclâmpsia e as anomalias placentárias, isso porque nesta idade o corpo da mulher está menos adaptável às mudanças da gestação. Já no caso dos riscos para o bebê, a gravidez após os 40 aumenta a chance de liberação de um óvulo com alterações cromossômicas numéricas ou estruturais é maior. Logo, a probabilidade de o bebê apresentar alguma síndrome, como a de Down é maior”, explica.

Sobre a possibilidade de planejar a gravidez, doutora Gabriela observa que se a mulher faz parte do ‘time’ que cuida da saúde, faz atividade física, tem uma alimentação saudável e sem vícios, já ganha pontos tanto para facilitar uma gravidez e, principalmente, para levar a gestação adiante. Para aquelas que já determinaram que irão engravidar mais tarde existe a possibilidade do congelamento de óvulos.

A grande vantagem é que a qualidade do material genético desses óvulos é superior à qualidade daqueles que serão liberados após os 40 anos, reduzindo assim, a chance de abortos e alterações cromossômicas. Caso a mulher não tenha realizado o congelamento dos seus óvulos é possível utilizar óvulos doados. Neste caso os materiais são de mulheres mais jovens por meio das clínicas de reprodução assistida. Após a fertilização in vitro, coloca-se o embrião no útero da futura mamãe, a chance de gravidez pode atingir 60%.

Questionada se os exames e consultas de pré-natal ocorrem de forma convencional neste tipo de gravidez, ela respondeu que os exames e periodicidade das consultas devem sempre ser determinados pelo obstetra que acompanha a gestação. “Mas, como a gestação após os 40 anos pode ser considerada de risco, o acompanhamento pré-natal é sim mais rigoroso, com consultas e exames mais frequentes para identificar precocemente qualquer alteração no organismo da mãe ou do bebê”, cita.

A profissional expõe que a cada ano a ciência tem se desenvolvido muito e neste assunto não é diferente. Se a mulher deseja ter uma gravidez mais tarde é importante que realize diversos exames que avaliam o seu estado de saúde e ajudem a determinar se a gestação deve ser planejada para esse momento da vida. “Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde o fim dos anos 1990 o número de mulheres que se tornaram mães depois dos 40 anos aumentou em 88,5% — passou de 48 402, em 1998, para 91 212, em 2018”, finaliza.

 

‘Uma surpresa maravilhosa, muita gratidão a Deus e aos Orixás pela graça concebida’

A jornalista Emanuela Silva, a Manu, relatou que um determinado dia ela e seu marido tiveram uma conversa e decidiram que era a hora de aumentar a família. “Começamos os preparativos: exames, tentativas e expectativas. Passados oito meses sem sucesso resolvemos investigar a fundo se havia algum tipo de problema com ambos, retornamos no médico. Sem histórico de doença preexistente, vida saudável ainda não acontecia o aguardado ‘positivo’. Wagner e eu passamos uma bateria de exames agora só com especialista, pois segundo o ginecologista que ia regularmente, gravidez depois dos quarenta anos pelo método natural só um milagre e que seria melhor partir para inseminação”, lembra.

Apesar da bateria de exames não ter atestado nenhuma patologia ao chegar no especialista em inseminação de uma clínica conceituada de Florianópolis, Manu conta que ele verificou os documentos e foi taxativo: ‘vocês têm duas opções ou tu fazes uma cirurgia para ver se não tem endometriose, espera seis meses e começamos o processo de fertilização ou começamos o processo. Ele custa entorno de R$ 25 mil. Mas eu não garanto que na primeira tentativa dará certo’. A profissional de comunicação destaca que a consulta durou vinte minutos e que ela e o esposo saíram do consultório arrasados com a falta de humanização. “Parece que somos números estatísticos e cifras financeiras, não houve sequer a disposição de uma pesquisa aprofundada para investigar a causa”, pontua.

Em seu relato, Manu disse que colocou a situação nas ‘mãos de Deus’ e do plano espiritual, se fosse para ser iria acontecer e que a adoção era uma possibilidade. O foco foi mudado e o casal traçou outras metas. Adotaram um cachorro filhote, o Kalifa, quando o cão completou trinta dias no novo lar, ela descobriu que estava grávida. “Uma surpresa maravilhosa, muita gratidão a Deus e aos Orixás pela graça concebida. Aos quarenta e dois anos me tornei gestante. Tive uma gestação tranquila e ativa, assintomática não tive os sintomas clássicos da gravidez”, assegura.

Ela continuou a fazer pilates duas vezes por semana, seguiu com alimentação saudável e pré-natal. Manu acredito que a maturidade a fez pensar em outros pontos da gestação com mais seriedade a saúde do bebê, cuidar-se para poder cuidar, o sexo não é o fundamental, já que se está gestando um ser. Algumas pessoas criticaram sobre o risco, sobre a idade, mas isso não atingiu a jornalista.

“Aos cinco meses soube que aguardava um menino, o Ícaro, ele nasceu dia 20 de novembro de 2019, cheio de vida. Compartilhamos desde o seu nascimento alguns valores. Sou doadora do banco de leite do HNSC, apesar dele não ter precisado acredito ser fundamental ajudar os que não tiveram a mesma chance que ele. Ser mãe é uma sensação indescritível, um amor sem medidas. Os dias e as noites jamais serão as mesmas e nem queria. Não imagino a minha vida sem o Ícaro, agora com cinco meses, esperto, alegre, um pedaço de nós alegrando nossos dias. E quanto ao futuro esse ainda estamos escrevendo”, afirma.

 

Fertilização foi o método adotado por empresária e o marido

Fabiana conta que casou em 2015 e aguardou para engravidar de forma natural, ela e o marido procuraram recurso. “Não ovulava e o método que procuramos foi a da fertilização, que é o processo mais rápido e eficaz”, destaca a empresária.

Ela conta que anteriormente não tinha procurado se informar por não ter um companheiro. Fabiana casou-se aos 38 anos e somente com 41 anos, decidiu recorrer a fertilização. “Fiz dois procedimentos. Foram colocados quatro óvulos e somente a Helena foi concebida. Ela foi fecundada no dia 1º de fevereiro de 2017. Com 15 dias eu já sabia que estava grávida de gêmeos, porém um não desenvolveu”, detalha.

A empresária explica que a gravidez tardia ocorreu porque ela queria constituir uma família, mas não tinha um companheiro. No momento que encontrou o seu então namorado e agora esposo, o casal decidiu juntos que era preciso ter um filho. “Não me arrependo. Faria tudo de novo e dedicaria todos os meus esforços físicos, mentais, emocionais e financeiros para ter a Helena. Foi a oportunidade que tivemos e batalharia muito para ter tudo novamente”, expõe.

Fabiana se descobriu uma mãe dedicada e assegurou que depois dos 40 anos, a situação financeira está um pouco estabilizada com casa própria e possui uma vida mais tranquila. “Podemos proporcionar a nossa filha uma qualidade de vida melhor, com mais atenção. Trabalhei até a véspera do nascimento da Helena. Ela veio ao mundo muito saudável no dia 17 de outubro”, lembra.

O período gestacional de Fabiana foi tranquilo e sem problemas de saúde. Todos os preparativos e comemorações para a chegada de Helena foram realizados como: chá de bebê, fotos new book. “A vida pós nascimento da minha filha mudou muito, mas para melhor. Ela veio para complementar. Tudo é em função dela, a casa, a rotina é muito bom ser mãe”, comemora.

 

Surpresa com o resultado positivo para gravidez

Maria das Dores, a Dora, casou na época com pouco mais de 30 anos e não fazia planos para ter filhos. Com uma vida profissional agitada, o sonho de ser mãe passou desapercebido por muito tempo.

Com 41 anos, após muito tempo casada, ela foi surpreendida com o resultado positivo para gravidez. “Em um primeiro momento acreditei que seria menopausa por ter uma idade já considerada avançada, mas quando peguei o resultado fiquei muito feliz. No período gestacional tudo ocorreu muito bem com a minha filha e comigo. Fiz o acompanhamento médico e não tivemos complicações”, relata.

Após uma gestação tranquila e de muita espera, no dia 28 de julho de 2000, Dora deu à luz a Jeniffer, no Hospital Universitário, no bairro Trindade, em Florianópolis. “Desde o primeiro momento quando soube da gravidez fiquei muito feliz e esses anos todos ao lado da minha filha a situação não mudou. Ela me traz muitas alegrias e tenho aprendido muito com a Jeniffer”.

Dora lembra que aos 35 anos, desejou ser mãe e procurou fazer todos os exames necessários, porém foi diagnosticada com endometriose. A doença é uma afecção inflamatória provocada por células do endométrio que, em vez de serem expelidas, migram no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal.

Por causa da possibilidade de endometriose, ela não esperava engravidar. No entanto, seis anos depois ela engravidou de forma natural. Dora, que nasceu em Tubarão e desde os primeiros dias morou com seus familiares em Capivari de Baixo, foi morar em Florianópolis na década de 1990 e continua morando na capital do Estado.