Acessibilidade: Sobra dificuldade, falta informação

Carolina Carradore
Tubarão

A lei é clara: todo motorista portador de necessidade especial tem direito a espaços direcionados. Mas nem todos conseguem ter o direito que a resolução do Contran determina. Em Tubarão, as reclamações são constantes e há lugares onde não há estacionamento para portadores de necessidades especiais e idosos.

O contador Fernando Teonaz Goulart, 29 anos, sente na pele a dificuldade de estacionar em Tubarão. Para fazer exames na Clínica Pró-Vida, muitas vezes precisa deixar o carro sobre a calçada, já que não encontra na frente do estabelecimento uma vaga específica para cadeirantes. Morador de Sangão, precisa deslocar-se para Tubarão durante a semana, sozinho.

“Sempre acho gente na rua que me ajuda a descer do carro. Mas não tenho como estacionar mais longe. Ali não tem estacionamento para pessoas como eu”, reclama.
Na última vez que precisou ir até a clínica, pediu para populares olharem o carro, com medo de levar uma multa. “Quando cheguei, já tinha uma monitora multando, mas os próprios funcionários explicaram a minha situação. É lamentável não ter uma vaga para deficientes nesse ponto”, lamenta Fernando, que perdeu o movimento das pernas há três anos, depois de ter sofrido de uma doença rara que atacou a medula. Desde então, tem se adaptado à cadeira de rodas. “Não reclamo de outros estacionamentos, apenas ali é o meu problema”, relata.

A credencial

O credenciamento que permite mais controle e fiscalização no uso da vaga para portadores de deficiência é uma determinação do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A credencial identificadora dos veículos aumenta o controle na fiscalização desse direito e impede que outros ocupem essas vagas. Em Tubarão, os interessados podem procurar a sede da secretaria de segurança e trânsito da prefeitura, na rua Antonio Hülse, 842, bairro Humaitá. É necessário estar com documentos pessoais: RG, CPF, comprovante de residência e documento do veículo.

Credenciamento para cadeirantes

O que muita gente ainda não sabe é que a secretaria de segurança e trânsito da prefeitura de Tubarão liberou a portadores de necessidades especiais um credenciamento que lhes dá o direito de estacionar nas vagas reservadas por lei. A credencial também serve como controle para os agentes de trânsito na hora da fiscalização, que terá a garantia que o veículo estacionado no espaço reservado é de fato de um deficiente ou de alguém que transporte um portador de necessidade especial.

Hoje, Tubarão não tem um relatório que aponta a quantidade de motoristas com deficiência, o que atrapalha o trabalho de fiscalização no trânsito. “Sabemos desta falha, mas até então não havia uma demanda maior. Nossa ideia era fazer a divulgação desse credenciamento a partir de março, mas, após essas reclamações, já estamos avisando à população”, explica o secretário João Batista de Andrade.

Ele pede que os portadores de necessidades especiais ajudem na garantia desse direito. “A identificação destes veículos facilita o correto uso dessas vagas nos estacionamentos”, observa. Batista também acrescenta que 5% do estacionamento rotativo da cidade é direcionado a deficientes. “Essa falta de vaga que estão falando, na avenida Marcolino Martins Cabral, é um fato isolado. Vamos verificar esse problema e encontrar uma solução”, assegura.

Vagas ocupadas

O mesmo problema passa o motorista de caminhão aposentado Valdemar Augusto Fernandes, 57 anos. Para poder realizar sessões de fisioterapia na clínica Pró-Vida, deixa o veículo no estacionamento do Farol Shopping. Todo o caminho é feito com auxílio de uma muleta. Ele perdeu a perna esquerda em um acidente de trânsito, há quatro anos. “É complicado andar tanto, a outra perna também já está ficando comprometida, mas não tem lugar para estacionar”, fala, desanimado.

Ele reclama também da falta de vagas em outras partes do centro da cidade, pois, na maioria das vezes, estão ocupadas por outros carros. “Ninguém respeita a vaga para deficientes. Muitos motoristas que não têm problema algum colocam no nosso espaço”, lamenta ele, que acaba estacionando em outros lugares e já perdeu a conta de quantas vezes foi multado.