Área de proteção aos botos de Laguna é reivindicada

Laguna

Os botos pescadores são patrimônio natural de Laguna desde 1997. A espécie é famosa na região por cercar os cardumes e empurrar os peixes para o lado dos pescadores no Canal da Barra, os quais utilizam tarrafas após receber um sinal dos animais. A parceria entre animal e pescador atrai os curiosos, turistas e moradores da cidade, que conquistou o título de Capital Nacional do Boto Pescador.

No entanto, nos últimos dois anos várias ocorrências de mortes de botos no Complexo Lagunar chamam a atenção de especialistas, como o Instituto Ambiental Boto Flipper. Para garantir a permanência dessa espécie na região, a entidade reivindica um instrumento jurídico municipal que estabeleça uma área de exclusão da pesca de emalhe, na Lagoa de Santo Antônio e no canal do Rio Tubarão. “O objetivo é que consigamos fortalecer e buscar junto aos gestores públicos estratégias de aumentar e intensificar a fiscalização dessa área, inclusive por conta de iniciativas municipais. Atualmente o único órgão que faz as fiscalizações efetivas nessas áreas é a Polícia Militar Ambiental – que tem seu efetivo muito reduzido”, afirma o presidente do instituto, o biólogo Arnaldo D’Amaral Pereira Granja Russo.

Ele explica que os botos podem ser vistos como espécies ‘guarda-chuva’. A conservação desses animais garante toda a consequência de manutenção do ecossistema e das relações antrópicas, que vão desde o turismo da cidade às relações socioeconômicas dos pescadores e ao Patrimônio Cultural Imaterial da Pesca Cooperativa. Dessa forma, segundo ele, é necessário conservar a qualidade ambiental – águas, efluentes, ocupação das margens, ruídos de embarcações, lixo, entre outros elementos – para que as relações possam ser mantidas.

Proposta será debatida entre os órgãos competentes
De acordo com o presidente da Fundação Lagunense de Meio Ambiente (Flama), o engenheiro de pesca Patrick Paulino de Souza, a proposta de criação de uma área de proteção e exclusão da pesca de emalhe será analisada entre os especialistas no Conselho Municipal. Ele considera favorável o debate e a criação de uma área protetiva, porém, adverte que, antes de criar uma nova lei de exclusão da pesca, é necessário elaborar estratégias para ampliar a fiscalização da lei vigente. “É importante lembrar que muitos pescadores dependem da pesca de emalhe para sobreviver e exercem a atividade corretamente, colocando 30% da rede. O problema são os que não respeitam a lei e colocam 100%. Vamos debater soluções para a princípio reforçar a fiscalização”, afirma. O presidente da Flama relata que não são só as redes que ameaçam os botos. Há uma série de fatores, como a poluição das águas por todos os municípios que desembocam seus esgotos no canal do Rio Tubarão, circulação indevida de embarcações, assoreamento da lagoa (resultado da ocupação irregular das margens das lagoas, que acabam levando o sedimento para o corpo d’água) e poluição sonora ao corpo aquático, interferindo na comunicação de ecolocação dos botos, entre outros. “O Plano Gestor da APA da Baleia-franca vem discutindo a possibilidade de implementar essa restrição da rede de emalhe no canal do Rio Tubarão. Entretanto o município não pode ficar esperando esses instrumentos. Ele deve agir de forma local, no sentido de conservação da espécie”, defende o presidente do Instituto Boto Flipper.