Prêmio Salim Mussi Miguel: Um olhar técnico que divide táticas e amor

Foto: Divulgação/Notisul
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Tubarão

Atenção redobrada para o ser humano que não fala. A admiração é constante aos olhos de quem observa o treinamento dos paratletas, afinal, vai além da superação e esforço. Envolve explicações às cegas, baseadas no toque, diálogos mudos, entendidos apenas no olhar e medalhas que questionam limitações.

Há três anos, Aline Crescêncio vem colocando o nome da Cidade Azul no pódio das competições estaduais do esporte adaptado. Mas, antes de atingir vitórias, teve receio. “No começo era tudo novo. Conforme o conheci melhor, fui recebendo amor e doando em troca, assim me apaixonei pela modalidade”, relembra.

Com o passar dos meses, a motivação para seguir pelo caminho paralímpico cresceu, aumentando o interesse em aperfeiçoar as táticas durante os exercícios. Com investimento próprio, viajou para São Paulo e Rio de Janeiro, onde tornou-se técnica Nível I e Nível II de Atletismo pela Academia Paralímpica Brasileira. No mundo online, está sempre atenta, buscando novas informações e, recentemente, terminou a especialização em esporte para pessoas com deficiência. O currículo cheio é essencial, contudo, há momentos que apenas a vivência diária ensina a lidar. “Às vezes, só fizemos um treinamento baseado em conversa”, relata Aline. Em algumas sessões, por exemplo, os paratletas estão mais sensíveis, precisando ser aplicado um processo técnico devagar.

Doação e amor como combustível
Comparando com o esporte tradicional, o treinador apaixonado grita, incentiva a equipe, mostra como melhorar a postura e os detalhes cruciais para alcançar os objetivos. Já no paradesporto, segundo o diretor-presidente da Fundação Municipal de Esporte (FME), Luiz Ernani Büerger, a empatia, paciência e carinho são pilares que sustentam a base de um bom trabalho feito. “É o dom de ter uma afeição a mais”, afirma. Assim, o esporte adaptado não se restringe apenas à exaustão e o talento nato. É o caso de Tadeu Rech, que perdeu a visão em um acidente de carro aos 25 anos de idade. “Embora ela conhecesse meu limite na última competição, pedia para eu tentar mais. Tentei e conquistei a medalha de bronze”, revela o paratleta, que considera a professora como uma verdadeira irmã. Pelo amor, força de vontade e resultados que proporcionam inclusão, Aline foi reconhecida como treinadora destaque do ano de 2018, e receberá, no palco do Teatro da Arena Multiuso, o Troféu Salim Mussi Miguel. O evento ocorre amanhã, às 19h30. “Foi uma grande surpresa. Isso mostra que o trabalho está no caminho certo e que podemos crescer, não só nossos atletas, mas como profissional”, comemora.

Degraus que desafiam
O ponto de partida é sempre a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, localizada no bairro passagem. Reunida com os atletas, a professora faz o trajeto a pé aos locais de treinamento. Tomando como exemplo a manhã de sexta-feira, ela é dividida em duas fases: das 7h30 às 9h, os exercícios são feitos com a paratleta Priscila de Souza, no Clube 29. Mesmo com a cadeira de rodas motorizada, alguns obstáculos acabam surgindo pelo caminho. “Alguns, tem a barreira física dos degraus de escadas e calçadas, mas sempre procuramos uma alternativa para adaptar”, complementa a treinadora.

Depois, às 9h20 é a vez do atletismo, cujos treinos são realizados no 63º Batalhão de Infantaria. Quem está durante as atividades matinais é a estagiária da FME Thayná Pires, que pensa em seguir os passos da treinadora. “A Aline me ensinou muito e incentiva nesse caminho. É uma área que penso em me aperfeiçoar mais”. Para o futuro do paradesporto tubaronense, as duas sonham em ver mais pessoas engajadas, paratletas nas mais variadas modalidades, alçando voos ainda maiores. Diante do destino à frente, a técnica reforça: “cada um tem sim a limitação, mas são seres completos, que podem fazer muito mais do que a gente pensa”.