Surto de catapora é investigado na região

Famosas feridas e manchinhas vermelhas surgiram, nos últimos dias, em pelo menos 15 crianças em somente uma creche de Gravatal. Um caso foi confirmado clinicamente em uma criança de 2 anos. Fotos: Arquivo da família/Divulgação/Notisul
Famosas feridas e manchinhas vermelhas surgiram, nos últimos dias, em pelo menos 15 crianças em somente uma creche de Gravatal. Um caso foi confirmado clinicamente em uma criança de 2 anos. Fotos: Arquivo da família/Divulgação/Notisul

Rafael Andrade
Gravatal

Um provável surto de catapora, que assusta vários pais em Gravatal, principalmente na região da localidade turística de Termas, onde fica o Centro Educacional Infantil (CEI) Mickeylândia, começou a ser investigado nesta semana pela Gerência Regional de Saúde (Gersa), em Tubarão. Representantes da creche informaram à Coordenação de Vigilância Epidemiológica do município que 15 crianças apresentaram sintomas, um dos casos bem acentuado.

E foi justamente este caso, de uma menina de 2 anos e 7 meses que, segundo a mãe Sydia Demay, está confirmado clinicamente. “Corri para um atendimento emergencial em uma clínica. Minha filha teve febre alta e precisou ficar isolada. Estamos muito assustados com isso tudo, pois pensava que ela estava imune à varicela, pois consta a vacinação contra a doença em sua caderneta”, informa Sydia.

“Apesar das suspeitas e deste caso confirmado, segundo esta mãe, nem a Gersa ou a Secretaria de Saúde de Gravatal tem registros oficiais. Sabemos que há o problema na cidade, mais especificamente no CEI Mickeylândia. Já solicitamos acompanhamento da equipe da Vigilância Epidemiológica e relatórios. O que posso afirmar, neste momento, é que as doses para imunização, conhecida como tetraviral, foram encaminhadas ao município desde 2013, quando se iniciou a campanha nacional da tetra”, informa o gerente regional de saúde, Ginaldo Rafael Corrêa.

Mães de crianças que apresentaram os sintomas da doença relatam que acreditavam que a imunização da tetraviral (varicela, rubéola, sarampo e caxumba) estava em dia. “A grande pergunta é: se nossos filhos estavam vacinados, por que contraíram a varicela? Será que as doses aplicadas não foram outras, como a vacina tríplice viral?”, questiona Sydia. Ela adianta que tentará formar uma comissão de pais e poderá acionar o Ministério Público para que seja realizada uma investigação. Segundo Ginaldo, 32 doses da tetra foram remetidas a Gravatal em 2013, 100 em 2014, 65 em 2015 e 115 até o último dia 3 (2016).

Dive cogitou surto de varicela em abril
No primeiro semestre deste ano, o Sul de Santa Catarina apresentou casos suspeitos de impetigo, mas a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) cogitou, em nota emitida no dia 21 de abril, a possibilidade de, na verdade, ter sido um surto de catapora (varicela). Ainda não foi definido o que acometeu as crianças, já que os sintomas são muito parecidos. Imaruí foi um dos municípios da região com mais registros. O número de casos confirmados no município era de 80 no fim de abril. Na Grande Florianópolis, em Palhoça, 40 crianças ficaram sem aulas, depois que sete alunos contraíram impetigo. A escola Aldo Câmara, em São José, também na Grande Florianópolis, suspendeu as aulas depois que 15 crianças foram infectadas.

A partir das informações fornecidas pelos municípios que registraram os casos, a Dive avaliou que a doença teve transmissão respiratória e por contato. “Neste contexto, as hipóteses diagnósticas iniciais têm convergido não para um surto de impetigo, mas sim para surtos de varicela (catapora) atípicos com infecção secundária das lesões (impetiginização)”, informou uma nota da Diretoria emitida à época.

Ainda de acordo com a nota da Dive, é possível que a doença seja catapora com mudanças do padrão, “fato que explica a presença de poucas e atípicas lesões na maioria dos casos avaliados, além de poucos relatos de febre”.

Vacina surgiu na década de 1970
O risco de transmissão de varicela (“catapora”) existe em qualquer lugar do mundo, especialmente nas áreas urbanas com grandes aglomerados populacionais. É uma infecção altamente transmissível, e por este motivo, a maioria das pessoas adultas já teve varicela e, portanto, está imune à doença.

A vacina contra a enfermidade foi desenvolvida no Japão no início dos anos 1970, mas somente em meados da década de 1990 passou a ser mais amplamente utilizada nos países ocidentais. É produzida a partir do vírus varicela-zóster atenuado e é altamente eficaz. Uma só dose da vacina (via subcutânea) resulta em proteção em 97 % de crianças até 13 anos. Resultados semelhantes são obtidos em maiores de 13 anos com a aplicação de duas doses da vacina.

A vacina tem custo relativamente elevado. No Brasil, pode ser encontrada com facilidade na rede privada e, desde o segundo semestre de 2013, faz parte do Calendário Básico definido pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Está disponível nos Centros Municipais de Saúde, para ser aplicada em combinação com a segunda dose da tríplice viral (SRC-V ou MMR-V) em crianças de 15 meses a 23 meses e 29 dias. Nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie), a vacina e a imunoglobulina (VZIG) estão disponíveis, exclusivamente com indicação médica, para as indicações consideradas especiais.

A vacina está indicada para todas as pessoas suscetíveis maiores de 1 ano de idade, incluindo os adultos. A vacina poderá ainda ser útil para evitar ou atenuar a infecção pelo vírus selvagem em indivíduo não imune que tenha entrado em contato com uma pessoa com varicela, desde que feita até 72 horas após a exposição. Nos indivíduos que tenham critérios de contraindicação à vacina (gestantes, prematuros, imunodeficientes) está delineado o uso de imunoglobulina específica para a varicela (VZIG), que deve ser administrada até 96 horas da exposição. A VZIG, que não é habitualmente encontrada na rede privada, está disponível nos Crie para, com indicação médica, atender exclusivamente a esta demanda específica.

Eventos adversos
Reações alérgicas graves à vacina contra a varicela são muito raras. Os eventos adversos são pouco frequentes e geralmente desprovidos de gravidade. Os mais comuns, que ocorrem entre cinco e doze dias após a vacinação, são a febre e um pequeno número de lesões de pele idênticas às da varicela. O surgimento das lesões de pele, que ocorre em até 8% das pessoas, não significa falha da vacina. O vírus varicela-zóster vacinal dificilmente pode ser isolado destas lesões e permanece atenuado mesmo quando, raramente, surge a sua transmissão para outras pessoas.

15
crianças apresentaram sintomas no Centro de Educação Infantil Mickeylândia.

Contraindicações
A vacina contra a varicela, assim como todas as vacinas de vírus atenuado, está contraindicada durante a gravidez, em prematuros e em imunodeficientes. Está também contraindicada àqueles que tenham apresentado reação alérgica grave à dose prévia da vacina ou a seus componentes. A aplicação da vacina deve ser adiada em pessoas com doenças agudas em investigação e nos indivíduos com doenças crônicas descompensadas.