Nível de informação é medido

A campanha foi realizada pelos alunos de medicina da Unisul que fazem parte da International Federation of Medical Students’ Associations (IFMSA), a maior organização estudantil do mundo. - Foto: Divulgação/Notisul.
A campanha foi realizada pelos alunos de medicina da Unisul que fazem parte da International Federation of Medical Students’ Associations (IFMSA), a maior organização estudantil do mundo. - Foto: Divulgação/Notisul.

Mirna Graciela
Tubarão

Por mais que o assunto faça parte da nossa realidade há mais de três décadas, ainda há muitos caminhos a serem percorridos para as pessoas compreenderem o universo da Aids. Não somente neste contexto, mas também a luta de especialistas em descobrirem a cura da doença ou vacinas também segue trajetos que parece não ter fim. 

Porém, a esperança não finda e as pesquisas são constantes. No mundo existem mais de 30 vacinas em teste, inclusive no Brasil, que prometem uma revolução no tratamento do HIV. No ano passado, duas destas já passaram a ser testadas em humanos. 

Entender melhor o conhecimento da população sobre HIV e Aids em temas como prevenção, exames de diagnóstico, onde podem ser feitos, além do preconceito com pessoas que vivem com o vírus é o foco de uma campanha realizada pelos alunos do curso de medicina da Unisul, em Tubarão. Com este propósito, um grupo da 3ª e 8ª fases promoveu neste sábado a ação ‘Todos Pela Vida – Campanha Multicêntrica sobre HIV/Aids’ no centro da cidade.
Os universitários aplicaram 120 questionários para as pessoas que estavam no local. Elas ainda receberam informações sobre o assunto, material educativo e preservativos. 

Conforme o coordenador da campanha em Tubarão, Rafael Batista, infelizmente ficou constatado neste sábado que muitos ainda não têm um conhecimento adequado sobre o HIV. “Mais da metade das pessoas nunca fez o teste para saber a sua sorologia em relação ao vírus. A grande parte nem sabe onde pode ser realizado o teste em nossa cidade, que pode ser no Centro de Atendimento Especializado em Saúde, o Caes, lamentou.

O relato de quem convive com o vírus
Carmen Lúcia contraiu o vírus HIV em 1990. Hoje, com cerca de 51 anos, tem uma vida normal. Possui namorado, sai com amigos e sabe aproveitar bem o seu tempo com seus familiares. Normal? Sim. Ou seja, quase normal se não tivesse que tomar alguns cuidados para garantir seu bem-estar e seguir o seu caminho com o que a vida lhe proporcionou. 

Sua irmã Mara Cristina, 45 anos, conta que ela contraiu o vírus por meio de relação sexual. E o parceiro, por incrível que pareça, era seu ex-marido. Foi em um daqueles encontros que tudo ocorreu. Seus filhos não possuem o vírus. 

É claro, a descoberta foi um choque para todos. “Naquele tempo ficamos muito assustados, pensávamos que em um mês ela morreria, que não ia durar muito. O preconceito era muito, mas muito maior. Lembro que um dentista deixou de atendê-la, mas hoje os profissionais da saúde estão bem preparados, melhor informados do que naquela época, e não poderia ser diferente”, conta Mara. 

Carmen sofreu sim, como não? Porém, o apoio da família e amigos foi fundamental nesta jornada. E claro, sua força e vontade de viver. Caiu, se levantou, caiu… Isso aconteceu muitas vezes. No entanto, alguns sentimentos tomaram conta de sua vida para seguir: esperança, garra e amor próprio, assim como também por seus filhos, parentes e ao próximo.

Assim que soube deu início ao tratamento em Florianópolis e, desde então, toma os remédios – todos fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “O efeito colateral é bem ruim, a imunidade é baixa. Tem sempre que se cuidar muito, não contrair uma gripe, por exemplo. Quando isso ocorre é muito forte, se temos uma gripe, nela é muito pior. Já foi internada várias vezes com pneumonia”, detalha.

 Mara acrescenta que os tempos mudaram. Atualmente, com o acesso às informações, se a pessoa seguir o tratamento corretamente, tudo pode ser menos dolorido e a vida prazerosa. “Não se morre mais hoje de Aids. Só aquele que não se cuida, não segue o tratamento cuidadosamente”, enfatiza. Carmen é uma vencedora entre tantas pessoas que passam pela mesma situação. Um dia de cada vez, uma batalha constante, mas regada de muito amor em todos os sentidos. A vida sorri pra ela! 

Os nomes foram modificados para preservar a identidade dos personagens desta história real.

Relações: consciência sobre os riscos ainda é pequena
O universitário aponta a falta de consciência sobre os riscos de contrair o vírus. Em contrapartida, também enfatiza que existem os que possuem estes cuidados e tomam todas as precauções.

Rafael cita como exemplo o fato de muitas pessoas associarem um relacionamento estável a uma diminuição no risco. “São muitos casos assim. Isto não pode ser levado como regra. O uso de preservativo deve ser preconizado, independente do tipo de relação”, alerta.

Ele conta que um cidadão recusou-se a levar preservativo para a casa, pois alegou não precisar e seria uma falta de respeito com sua esposa. 

Mas, nem tudo está perdido. “Uma senhora de 60 anos nos contou que mesmo sendo casada, ainda assim usa preservativo nas relações sexuais com seu marido. Um comportamento que muitos jovens não relataram e usaram o relacionamento sério como justificativa”, detalhou.

Iniciativa ocorre em outras cidades
A mesma campanha ocorre em outras cidades da região sul como Londrina (PR), Curitiba (PR) e Pelotas (RS). Nestes municípios foi aplicado o mesmo questionário pelos alunos. “Depois, com essas informações, de algumas cidades dos três estados da região sul, poderemos saber melhor o entendimento da população sobre HIV e Aids”, explica. 

A iniciativa da campanha surgiu a partir dos números de casos notificados de HIV na região sul. A região é responsável por 20% dos casos notificados no Brasil, sendo o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o segundo e terceiro estados com mais casos, respectivamente.

Um pouco da história
A Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é uma doença causada pelo HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). Os primeiros casos ocorreram no fim dos anos 1970, nos Estados Unidos, Haiti e África Central. No Brasil, o primeiro é de 1980. Porém, só em 1982 foram caracterizados como de AIDS. Na época, acreditava-se que a doença estava limitada aos grupos de homossexuais, prostitutas, usuários de drogas injetáveis, hemofílicos e haitianos. Estes ficaram conhecidos como grupos de risco. Apenas em 1984, o vírus foi isolado e caracterizado como um retrovírus. A partir daí se conheceu melhor a causa da doença e as formas de combatê-la.

Por se acreditar que a doença estava limitada a determinados grupos pouco foi feito para combater a Aids. Em 1980 e 1990 houve uma disseminação do HIV e um aumento no número de mortes. Em 1985 foi notificado o primeiro caso de transmissão vertical (da mãe para o bebê). Apesar do conhecimento em relação ao agente causador da Aids e às principais formas de infecção pelo HIV, ainda hoje, o número de casos e de mortes pela doença continuam a aumentar. 

Qual a diferença entre HIV e Aids?
O HIV é o vírus que invade as células do sistema imunológico. Já a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – Sida) é o quadro de enfermidades ocasionadas pela perda das células de defesa em decorrência da infecção pelo vírus. Quanto menor o número de células do tipo CD4, maior é a vulnerabilidade do paciente. Quando a taxa de CD4 for inferior a 200/mm³, o paciente precisará iniciar o tratamento. Enquanto for superior, o paciente poderá não apresentar o quadro de sintomas característicos da Aids. Por isso, a importância de sempre manter a sua taxa de CD4 alta!

Trocando em miúdos 
• O HIV é o vírus que causa a AIDS e a AIDS, por sua vez, é quando o sistema imunológico perde a habilidade “defender” o corpo por que ele está ocupado reproduzindo (gerando) mais vírus HIV. E com o corpo sem defesa, ele fica mais propenso a doenças oportunistas. Nesse caso diz-se que a pessoa tem Aids.
• Uma pessoa que tem HIV, com o tratamento (com antirretrovirais) e o acompanhamento adequado, pode nunca a chegar a desenvolver o quadro de AIDS.

798.366 casos de Aids foram registrados no país desde o início da epidemia de aids no Brasil – em 1980 – até junho de 2015.

81 mil brasileiros começaram a se tratar em 2015, um aumento de 13% em relação a 2014, quando 72 mil pessoas aderiram aos medicamentos. Foi um recorde no número de pessoas em tratamento de HIV e Aids. De 2009 a 2015, o número de pessoas em tratamento no Sistema Único de Saúde aumentou 97%, passando de 231 mil para 455 mil pessoas. Isso significa que, em seis anos, o país praticamente dobrou o número de brasileiros que fazem uso de antirretrovirais.

19,7 casos a cada 100 mil habitantes é a taxa de detecção, isso significa que atualmente a epidemia no Brasil está estabilizada e representa cerca de 40 mil casos novos ao ano.

391 mortes foram registradas em Santa Catarina entre janeiro e outubro de 2015 . Em 2014, 673 morreram em decorrência da doença.

Municípios de Santa Catarina com infectados
Doze municípios catarinenses possuem taxas de detecção de HIV superiores à média nacional, que é de 20 infectados para cada 100 mil habitantes. São Balneário Camboriú (77,4), Itajaí (76,3), Florianópolis (65,2), Criciúma (59,9), São José (56,2), Palhoça (53,5), Brusque (46,1), Joinville (41,2), Blumenau (35,9), Lages (30,2), Jaraguá do Sul (28,0) e Chapecó (25,2).