“Na vigilância do mar nunca se descansa”

Na Marinha do Brasil desde os 17 anos, delegado Marcos Maia comanda uma região com 53 municípios. Foto: Kalil de Oliveira/Notisul.
Na Marinha do Brasil desde os 17 anos, delegado Marcos Maia comanda uma região com 53 municípios. Foto: Kalil de Oliveira/Notisul.

Kalil de Oliveira
Laguna

Há 28 anos na Marinha do Brasil, nascido na cidade do Rio de Janeiro, com 44 anos, duas filhas, o homem forte da Marinha no Sul do estado chama-se Marcos Maia, delegado da Capitania dos Portos em Laguna desde o dia 10 de julho do ano passado, portanto, há pouco mais de um ano. No segundo piso de uma construção centenária, de paredes maciças e assoalho de cerâmica branca impecável, ele responde pela maior faixa litorânea do estado, de Paulo Lopes a Passo de Torres, 203 quilômetros e um total de 30 praias. Além disso, fiscaliza 13 lagos e três rios navegáveis – Tubarão, Mampituba e Araranguá. São 53 municípios abrangidos.

“Enquanto as pessoas dormem tranquilamente, há homens da Marinha vigiando o nosso litoral. Dentro das 200 milhas, ninguém entra sem se identificar. Na vigilância do mar, nunca se descansa. E há muito mais trabalho que a Marinha executa que a maioria das pessoas não tem ideia”, destaca Marcos, referindo-se, por exemplo, à estação meteorológica no Farol de Santa Marta, que serve até para a orientação às aeronaves que pousam no Aeroporto Regional, em Jaguaruna, dos estudos técnicos para ampliação do Porto de Imbituba, o maior da região, entre outros procedimentos.

O delegado Marcos esteve pela primeira vez na região em 2009, a passeio. Ele atuava em Tramandaí, no Rio Grande do Sul, à frente de uma agência da Marinha. “Lá, os desafios eram diferentes. Próxima de Porto Alegre, aquela região é muito frequentada por embarcações marítimas no verão. Quando estive em Laguna, fiquei impressionado com a estrutura. Sonhei de um dia trabalhar aqui”, recorda. 

Entre as diferentes atribuições, alguns destaques na mesa do delegado são os projetos de ampliação da capacidade do Porto de Imbituba, que poderá receber navios maiores. “Estudos recentes de viabilidade autorizaram a operar com até 349 metros de calado. São manobras experimentais”, diz. 

Marcos comanda 58 militares de carreira. Ao mesmo tempo, gerencia um processo de seleção concorrido, com mais de 300 jovens de 18 anos todos os anos para o serviço temporário. Os recrutas ficam um ano e podem prorrogar até oito anos a sua permanência. Em 2016, o processo seletivo encerra na terça-feira da próxima semana, com 324 interessados, 32 a menos que no ano passado.

10,3 mil embarcações motorizadas estão registradas na região, desde barcos de pesca amadora, jet sky e lanchas esportivas, até os grandes barcos profissionais de pesca.

A história da Capitania dos Portos de Laguna
Em 14 de setembro de 1923 surgiu a Capitania dos Portos de Laguna como estrutura necessária para acompanhar as atividades marítimas na região, considerada data oficial. Entretanto, há notícias de ações bem anteriores, como a construção do Farol de Santa Marta, que iniciou em 21 de junho de 1891.

Seis faróis auxiliam a navegação e estimulam o turismo
Há seis faróis em operação sobre a responsabilidade da Marinha na região Sul de Santa Catarina. Três ficam em Laguna: Lobos, Catalão e o mais famoso, Santa Marta, na Praia do Farol. Há, ainda, os faróis de Imbituba, o Araras, também na cidade portuária, e o de Araranguá, localizado no Morro dos Conventos. Além de auxiliar a navegação marítima, entre outras atribuições técnicas, os locais recebem turistas o ano todo. No caso do Farol de Santa Marta, segundo o delegado Marcos, é possível agendar, inclusive, visitações de escolas. Alunos a partir de 14 anos recebem autorização para entrar na central de comando, que alimenta o sistema da Marinha a respeito das embarcações. “Há algum tempo, as embarcações possuem um dispositivo eletrônico que informa sua aproximação do nosso litoral. Do Santa Marta o sinal segue para a central, no Rio de Janeiro”, explica Marcos.

Oportunidades na Marinha do Brasil vão do ensino fundamental ao superior
A Marinha do Brasil mantém uma escola em Angra dos Reis e um colégio naval no Rio de Janeiro. Para o ingresso, exige-se que seja homem, solteiro e brasileiro. Pode-se ter até 22 anos para ser aprendiz de marinheiro e menos de 18 para o colégio no qual, após quatro anos, o aluno escolhe a ocupação: corpo armado, fuzileiro ou intendente. Para as mulheres, há oportunidades para a área técnica em administração, enfermagem, mecânica, entre outras. Precisa ter menos de 25 anos. No nível técnico, mas para homens, as vagas são para automação industrial, eletroeletrônica, eletromecânica, eletrotécnica, mecatrônica, eletrônica, refrigeração, climatização, etc. Há seleção para quem tem nível superior. Neste caso, tanto homens quanto mulheres competem por vagas em áreas como engenharia, enfermagem, medicina, jornalismo, psicologia, direito e o limite de idade é até 36 anos.

Jovem deslocou-se mais de 400 km para recrutamento

Conhecido como “o gaúcho” entre os colegas, o jovem Winícius Rodenbush, 20, ingressou há dois anos na Marinha, vindo de Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, a mais de 400 quilômetros da Cidade Juliana. Ele conta que a vontade em ser marinheiro surgiu aos 15 anos, quando soube da carreira por uma emissora de rádio, mas, na época, o interesse era pela Marinha mercante, ou seja, civil, ligada ao comércio, pesca e transporte de passageiros. Como a irmã de Winícius se mudou para o Balneário Rincão, ficou mais fácil de o jovem optar pela Marinha em Laguna. “Meus pais apoiaram-me desde o início. Como eles são aposentados, costumam vir para a a região me visitar. No momento, estou me preparando para subir na carreira”, almeja.