Caso Jarrão : Vereador chora e diz que foi induzido

Carolina Carradore
Tubarão

A câmara de Tubarão instaurou ontem uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para apurar as denúncias veiculadas em rede nacional, nas quais o nome do vereador Geraldo Pereira (PMDB), o Jarrão, é citado. Em matéria divulgada no Fantástico domingo, Jarrão e a assessora parlamentar Cynara Guimarães Antunes são flagrados na praia de Porto de Galinhas, enquanto deveria participar de um curso de qualificação no Recife.

Jarrão não compareceu ontem na sessão da câmara. A ausência foi orientação de próprios assessores da casa. A bancada peemedebista recusou-se a nomear um membro do partido para participar da CEI. A justificativa dada pelo vereador Caio Tokarski é mostrar imparcialidade na investigação. “Queremos que tudo seja apurado, mas nos isentamos para que não haja suspeitas do resultado”, argumentou ontem na tribuna.

A mesma posição teve a vereadora Albertina Terezinha Carvalho (PSDB), a Bete Xuxa. Ela representará o partido da comissão, mas abriu mão do cargo da presidência e pediu para ser apenas um membro do grupo. Edson Firmino (PDT) presidirá a CEI e Dionísio Bressan Lemos (PP) será o relator. O vereador Deka May (PP) também se recusou a participar, uma vez que na próxima semana irá licenciar-se dos trabalhos da câmara.

A atuação da assessora Cynara Guimarães Antunes também será investigada. Uma sindicância foi aberta e tem como participantes os servidores Emerson Cardoso, Eduardo Lopes Netto e Maria Izabel Bernardini. O relatório terá que ser apresentado num prazo de 30 dias. O Notisul procurou, insistentemente, a assessora Cynara para dar sua versão dos fatos, mas ela não foi encontrada.

“Falei em tom de brincadeira”

O programa Fantástico mostrou domingo, uma gravação onde o vereador de Tubarão, Geraldo pereira (PMDB), o Jarrão, estava na praia, dia 4 de julho, penúltimo dia do curso, ao lado da esposa e da filha, enquanto sua assessora, Cynara Guimarães Antunes, divertia-se no mar. Em conversa com um suposto assessor, Jarrão disse que não foi para o recife fazer nenhum curso, mas sim passear”.

No entanto, o vereador garante que participou do curso no período da tarde e que no horário em que foi flagrado na praia, próximo das 11 horas, estava de folga dos seminários. “Eu falei em tom de brincadeira. Ele ainda tinha convidado para ir para um festa na cidade, mas respondi que estava em curso. Isso, a reportagem não mostrou”, reclama.

O vereador mostrou documentos que comprovam que a passagem de sua mulher foi paga pelo cartão de fidelidade da empresa aérea, e de sua filha foi parcelada em quatro vezes no cartão de crédito da esposa. Ele admite que recebeu R$ 2.867 mil da câmara para o pagamento de cinco diárias. A passagem aérea foi paga à parte pela casa parlamentar.

Câmara levanta valor de diárias

A câmara de vereadores de Tubarão inicia hoje um levantamento para contabilizar quanto foi gasto em diárias desde o início de 2009. O presidente da casa, João Batista de Andrade (PSDB), adiantou que o valor de cada diária varia entre R$ 400,00 a R$ 500,00. Segundo ele, a câmara recebe de duodécimo do executivo, um pouco mais de R$ 350 mil por mês, dinheiro destinado aos gastos da casa.

Ele não soube informar se há alguma devolução da verba que sobra. Quanto as denúncias contra o vereador Geraldo Pereira (PMDB), o Jarrão, garante que quer justiça. “Não podemos fazer um julgamento antecipado, mas com certeza tudo vai ser apurado. Se de fato houve irregularidade, providências serão tomadas”, promete Batista.

“Não tenho nada a esconder”, diz Jarrão

Visivelmente abatido, o vereador de Tubarão Geraldo Pereira (PMDB), o Jarrão, garante ser inocente da acusação de uso indevido de verba pública, conforme mostrou a reportagem do jornalista Giovani Grizotti, exibida no Fantástico domingo. Ao ser entrevistado pelo Notisul, Jarrão chorou e admitiu sua ingenuidade ao ter acreditado na amizade do suposto parlamentar que propositalmente aproximou-se para seguir seus passos durante os seminários.

Na verdade, o assessor era um produtor do programa. Jarrão conta que partiu de Tubarão com o intuito de participar de um curso de vereadores promovido Instituto Nacional Municipalista (INM), que seria realizado de 1º a 5 de julho. Porém, ele chegou somente dia 2 na capital pernambucana, segundo ele, em virtude de um atraso no voo. No mesmo dia ele conta ter sido vítima de um assalto em frente ao hotel em que estava hospedado. Jarrão mostrou o exame de corpo delito a que foi ser submetido por conta de uma lesão provocada no pescoço, no momento em que o assaltante arrebentou sua corrente de ouro.

Por conta do incidente, não participou do seminário nesta data. No dia seguinte, Jarrão alega ter conhecido um participante do curso que se apresentou como assessor parlamentar de um vereador do Rio Grande do Sul. “Ele disse que também foi assaltado. Fiquei solidário, quis me aproximar, pois, como eu, era do sul”, afirma. Nesse mesmo dia, Jarrão alega que participou das palestras nos dois períodos.

Justiça

TCE quer explicação
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) solicitará informações à câmara de Tubarão sobre a suposta participação de vereadores no curso de qualificação realizado no Recife. Esta providência foi determinada pelo presidente Wilson Wan-Dall, após tomar conhecimento de denúncias veiculadas pela mídia desde o domingo. Segundo a reportagem do Fantástico, da Rede Globo, vereadores de outros estados brasileiros teriam utilizado recursos públicos destinados oficialmente à participação em eventos de capacitação de agentes públicos para “fazer turismo”. Entre os documentos que deverão ser encaminhados ao TCE pelo legislativo municipal, estão a relação dos participantes e as respectivas inscrições, o objetivo do curso, os roteiros de viagem com os respectivos comprovantes da despesa e os certificados de participação.

MP abre inquérito
O Ministério Público Estadual de Tubarão abriu ontem inquérito para apurar as denúncias contra o vereador Geraldo Pereira (PDMB), o Jarrão. Os fatos serão investigados pela promotora da moralidade administrativa, Maria Amélia Borges Moreira Abbad.

Recurso
Esta não é a primeira vez que o nome do vereador Geraldo Pereira (PMDB), o Jarrão, é envolvido em escândalos. O parlamentar chegou a ser condenado em março do ano passado, junto com mais sete pessoas, por estelionato e formação de quadrilha por fraudes cometidas contra o INSS, a partir da agência central em Florianópolis, nos anos de 2002 e 2003. O vereador entrou com recurso que ainda está em tramitação.