Caso Campeiro: Um ano de sufoco

Amanda Menger
Tubarão

Adeus ano velho! A frase não é simplesmente uma referência a tradicional musiquinha da virada, mas também um desabafo para o rizicultor Alfredo Lemos Filho, de Tijucas. Ele e outros produtores venderam a safra de 2008 para a Campeiro, de Tubarão, mas diante do fechamento da empresa ano passado, eles não viram a ‘cor’ do dinheiro.

A estimativa do Ministério Público Federal (MPF) é que a Campeiro tenha dívidas de cerca de R$ 20 milhões. Só com Alfredo o débito é de R$ 1,4 milhão. O dinheiro fez muita falta ao produtor. Ele contava com os recursos para pagar os empréstimos feitos para custear a safra e os novos equipamentos que comprou.
Para ele, 2009 é um ano para esquecer. “Foi um baque. Arrendei mais área para aumentar a produção, comprei máquinas, contratei mais funcionários e quase perdi tudo. Consegui renegociar os prazos de vencimento dos empréstimos, mas as preocupações continuam. Passei muitas noites em claro, agora já consigo dormir um pouco”, desabafa Alfredo.

O produtor está confiante que este ano será bem melhor. Ele manteve a área plantada em 330 hectares. Agora só falta encontrar um comprador para a safra estimada em 38 mil sacas. E mesmo que consiga um bom preço pelo produto, as dívidas continuarão. “Este é um fardo que vou carregar por, no mínimo, cinco anos”, prevê.
Alfredo é rizicultor desde 1985 e por sete anos comercializou o arroz com a Campeiro. O produtor entrou com uma ação judicial para receber os valores devidos, mas aguarda o desenrolar do caso. A justiça federal começou a ouvir algumas testemunhas e outras ainda serão chamadas para depor.

Entenda o caso

• Em 25 de março do ano passado, os funcionários da Campeiro foram dispensados e, no dia 6 de abril, as demissões foram confirmadas.
• O ex-proprietário da Campeiro, Max Nunes, alega que vendeu a empresa por R$ 8,2 milhões e com uma dívida de R$ 7 milhões. O valor da venda deveria ser depositado em juízo, mas isso não ocorreu. Foi solicitado o bloqueio da conta, o que ocorreu em março. O saldo era de R$ 813,00.

• O ex-administrador Alexandre Augusto é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de praticar estelionato em empréstimos com o governo federal (EGFs) no valor de R$ 20 milhões. Na denúncia, o procurador da república em Tubarão, Celso Três , afirma que, em 2007 e 2008, Alexandre firmou contratos de empréstimos, dando como garantia os mesmos grãos e alienando outros. Além dos EGFs, outras operações bancárias, igualmente lastreadas em dinheiro público da União, tiveram garantia defraudada.

• Alexandre também é acusado de lesar os sócios da Campeiro, fraudar instituições financeiras, os créditos dos produtores, suprimir emprego dos trabalhadores e praticar agiotagem por meio de ‘caixa dois’.
• O procurador solicitou a prisão preventiva de Alexandre no dia 15 de abril de 2009. O juízo federal de Tubarão enviou o processo para a 1ª Vara Criminal de Florianópolis, especializada em crimes contra o sistema financeiro.

• No dia 5 de maio, o juízo da 1ª Vara Criminal da Justiça Federal de Florianópolis, negou o pedido de prisão preventiva e a apreensão do passaporte. No dia 7 de maio, o mandado de citação foi expedido, mas não chegou a ser cumprido, porque Alexandre apresentou-se voluntariamente no dia 11.

• A defesa prévia foi apresentada no dia 21 de maio e analisada no dia 18 de junho. A juíza federal Ana Cristina Krämer decidiu não absolver sumariamente Alexandre. A magistrada afirma que há materialidade de fraude contra os Empréstimos do Governo Federal (EGF) e determinou o prosseguimento da ação.
• A primeira audiência para ouvir as testemunhas foi realizada em Tubarão, no dia 1º de setembro de 2009. Outras pessoas ainda serão ouvidas por carta precatória, já que moram em outros municípios e estados.