Bullying na escola = violência: É preciso combater…

Amanda Menger
Tubarão

A top brasileira Gisele Bündchen é hoje uma das mulheres mais lindas e ricas do mundo. Na infância, a altura e a magreza lhe renderam o apelido de saracura. Em entrevista, Gisele disse que as brincadeiras a magoaram durante muitos anos. Histórias como essa são mais comuns do que se pensa e potencialmente perigosas. O chamado bullying pode ter diversas formas e está ligado à violência escolar. Este foi um dos temas discutidos ontem no 1º Congresso Internacional de Desenvolvimento da Criança, realizado pela Unisul de Tubarão.

“A história humana é violenta e isso se perpetua. A violência é um fenômeno mutidimensional e varia conforme a cultura. Assim, temos que entender que as crianças não são seres angelicais, elas são controversas, assim como os adultos”, afirma o professor Carlos Alberto Neto, da Universidade Técnica de Lisboa, Portugal. Ele pesquisa o bullying há mais de 20 anos.
A ideia que se tem de violência está associada à agressão física, mas, no caso do bullying, não é a única forma. “O que o diferencia é que as ações são sistemáticas e objetivas. Ocorre entre alunos e também entre professor e aluno, e vice-versa”, observa o pesquisador.

A incidência de bullying é maior nas séries iniciais do ensino fundamental. Um estudo realizado em 2001, em Ribeirão Preto, São Paulo, mostrou que 33,1% das vítimas são casuais e outras 7,4% são persistentes. “Muitas crianças sofrem anos, e em silêncio. Outras ficam doentes e podem desenvolver depressão. Os estudos de bullying começaram na década de 1980, depois que três adolescentes tiraram a própria vida na Noruega e constatou-se que eles sofriam constantes agressões na escola”, relata o pesquisador.

Um novo velho problema

Entre os casos mais comuns de bullying, estão os apelidos, as ofensas, discriminação, perseguições e agressões físicas. Para o pesquisador Carlos Alberto Neto (foto) da Universidade Técnica de Lisboa, Portugal, este problema não é novo.
“A internet e os meios digitais ampliaram as formas de intimidação. Tem sido frequente, casos de crianças que fotografam ou fazem vídeos de outras utilizando o banheiro e jogam na rede mundial. Outro ponto importante é que as crianças estão mais frágeis emocionalmente, e, em certos sentidos, fisicamente, para aguentar a pressão. O certo é que os educadores e pais não podem ficar alheios a este problema”, argumenta Carlos.

As pesquisas feitas em 2001 no Brasil e em Portugal mostram que nestes dois países o bullying mais comum é o verbal. Em Portugal, representa 46,5% e, no Brasil, 53,3%. Já na Inglaterra, a maior parte é física, 70% dos casos. “Há diferenças também entre meninos e meninas. Com eles, predomina a agressão física, e entre elas, os rumores e boatos”, revela o pesquisador.

Carlos diz que os pais têm que observar os filhos. “Quando uma criança sofre o bullying, nem sempre ela fala. Mas perde a vontade de ir para escola, as notas caem, ficam tristes, sintomas psicossomáticos como dores de cabeça, enjoo; arranhões e cortes estranhos; desaparecimento de objetos e/ou dinheiro; e até mesmo a mudança do trajeto casa-escola”, adverte Carlos.
O bullying ocorre durante o recreio, nos corredores; seguido do portão e estacionamento, e ainda nas salas de aula. “É por isso que recomendamos que o recreio tenha atividades variadas, porque isso ajuda a diminuir os casos”, justifica Carlos.

Programa estadual
começa em março

Santa Catarina é o segundo estado brasileiro a ter um programa anti-bullying nas escolas, instituído por lei. O projeto foi apresentado em 2007 pelo deputado Joares Ponticelli (PP), aprovado no fim do ano passado e sancionado em janeiro. A proposta é fazer um trabalho intensivo nas instituições escolares. A iniciativa tem apoio do Ministério Público Estadual (MPE).

“Serão distribuídas cartilhas para os alunos sobre o bullying, além de seminários e capacitações para os professores. Eles precisam conhecer o assunto para poder intervir. Se não fizermos nada, a escola se transformará na maternidade da violência”, alerta Joares.
Mesmo tendo a lei estadual, a intenção é que os municípios também desenvolvam os seus próprios projetos. Em Tubarão, o vereador Deka May (PP) apresentará o projeto na sessão de amanhã. “Temos que estabelecer uma política pública contínua, que não sofra com as mudanças de administrações”, enfatiza o vereador.

Para o próximo ano, serão desenvolvidos projetos específicos em Tubarão. “A primeira providência é encaminhar um questionário às escolas. Não temos dados sobre o bullying em Tubarão. A partir das respostas, desenvolveremos dois projetos. Um para aquelas escolas que já apresentaram estes problemas, e outras que não, para ser um trabalho preventivo”, adianta a coordenadora das séries iniciais e finais de português e inglês da secretaria de educação da prefeitura, Maria de Lourdes Nunes Borges.