“Vereador não é emprego”

 

João Fernandes (PSDB), 42 anos, é uma das figuras mais emblemáticas da câmara de Tubarão. Foi agricultor, caminhoneiro. Hoje, atua no ramo dos transportes. Tem uma empresa com uma grande frota de caminhões. O envolvimento na política foi um acaso. Ele aceitou o convite do hoje prefeito Manoel Bertoncini (PSDB) e surpreendeu a todos, inclusive o próprio chefe do executivo. Mais calmo e articulado, João admite que amadureceu politicamente, mas a sua essência contestadora segue inabalada. “Continuo com a mesma forma de pensar, a diferença é que aprendi que não posso querer tudo do meu jeito. Vim da iniciativa privada e na minha empresa tenho o pulso firme. Na política, isso não funciona. Este foi um dos meus erros. Na verdade cometi uma sequência de erros”, admite o vice-presidente da casa.
 
 
 
Zahyra Mattar
Tubarão
 
Notisul – O que houve durante a sua cirurgia?
João Fernandes – Estava com 131 quilos. Uma pança imensa. Nem as camisas fechavam mais. Aí fui fazer o baypass, um tipo de cirurgia bariátrica. A mesma que o humorista Dedé Santana fez. Após a operação, tive uma hemorragia interna e tiveram que fazer um novo procedimento. Foi um susto. Teve um momento que achei que morreria, mas quando fui cumprimentar São Pedro ele me mandou de volta (risos). Já emagreci 23 quilos e me sinto muito melhor. 
 
Notisul – Este ano, termina seu mandato. Como foi?
João Fernandes – Apesar de tudo (risos) foi bom. Fiz o que disse que faria: fui um vereador diferente e tentei mostrar à população qual o papel do parlamentar. Infelizmente, na política, tudo é muito desvirtuado. Você fala ‘A’ e dizem que você falou ‘B’. Para o povo, acredito que fui compreendido e é isso que importa para mim.
 
Notisul – E para este ano? Quais suas metas?
João Fernandes – Conscientizar a população quanto a eleições e mostrar para o eleitor o que os vereadores prometeram fazer, o que fizeram e o que não fizeram. No mais, vou seguir na formulação de projetos que acredito serem interessantes e brigar por algo que acho correto: a diminuição dos salários dos vereadores.
 
Notisul – E lá vem outra polêmica (risos). Quanto você considera o ideal?
João Fernandes – Esta é uma questão que a população precisa envolver-se. O povo tem que parar com este negócio de dizer que detesta política. A vida é política. Hoje, um vereador ganha, bruto, cerca de R$ 6 mil por mês. Se ninguém falar nada, vão subir para R$ 9 mil, que é a cifra máxima que pode chegar. Eles sempre colocam o máximo. É igual na época em que votaram o aumento no número de vereadores. Poderiam ter deixado no mínimo, de 12 pessoas. Não! Deixaram no máximo: 17. Só eu fui contra, mas sozinho não posso muita coisa.
 
Notisul – Na sua opinião, R$ 6 mil é demais?
João Fernandes – Para mim, é. Vou propor R$ 4 mil bruto ou então que se mantenha o valor atual. Política é militância e não emprego. O cara tem compromisso duas noites por semana. Tem tempo para trabalhar. Não recordo de ninguém dos colegas da legislatura de hoje que não tem outro tipo de renda. Caso exista alguém, que vá procurar um emprego. A câmara não é local de trabalho. Você elege-se para representar a população.
 
Notisul – Você acha que os outros vereadores o apoiarão nesta ideia?
João Fernandes – Não saberia dizer. Acredito que, se todos baixarem um pouco aguarda e abrirem-se para o diálogo, não haverá aumento. Os vereadores deveriam colocar a mão na consciência e fazer isso. A população tem que ir às ruas e reivindicar o que quer. Todos são muito passivos. Depois a lei é aprovada e todo mundo reclama. Mas aí não adianta mais. Eu mesmo vou tentar organizar uma carreata para chamar a atenção quanto ao aumento de salário na câmara. Vamos ver quantos estarão lá para fazer o mesmo.
 
Notisul – Quando esta matéria será votada?
João Fernandes – Boa pergunta. Por isso meu alerta. Se a população não se mexer, vai ser em uma quinta-feira, às 22 horas. Entra em caráter de urgência urgentíssima e passa de qualquer maneira. Foi assim com o caso do aumento no número de vereadores. É quase que na surdina.
 
Notisul – Politicamente, como está a sua situação na câmara hoje?
João Fernandes – Quando fui convidado para participar da eleição, me deram um número e um sonoro ‘te vira’. Eu fui, venci e quiseram me impor algumas situações que eu não aceitava. Os conflitos ocorreram, em partes justamente pela falta da militância da minha parte. Com a visão que tenho hoje, preferiria ser presidente da câmara neste ano, porque estaria mais amadurecido politicamente. Teria sido muito melhor e hoje eu admito isso. Mas, no geral, a experiência foi gratificante. 
 
Notisul – O que você fez que não faria novamente?
João Fernandes – No começo, quando aceitei o convite para a candidatura, deveria ter primeiro militado um pouco para conhecer as pessoas e o partido. Hoje, depois de me conhecerem melhor, muitos membros do diretório dizem isso. E realmente o fato de não conhecer a câmara, não saber nada de política, atrapalhou e eu não consegui me fazer entender. Por outro lado, acho que tudo na vida tem um propósito. Claro que houve desgaste na casa, eu reconheço, mas todos mostraram quem são de verdade e isso traz um ganho à política da cidade.
 
Notisul – Qual o seu maior aprendizado nestes três anos?
João Fernandes – Ser mais paciente e tolerante. Entendi que cada um tem um tempo próprio para absorver as coisas. A política também me ajudou a perder o medo de falar e a me expressar em público. Quando fui concorrer, tinha uma visão completamente desvirtuada do trabalho de um vereador. Eu achava que o parlamentar podia tudo. Isso foi uma das primeiras coisas que mudou, uma das primeiras coisas que entendi. Por isso que hoje admito que a falta de militância trouxe este choque e, consequentemente, embates desgastantes e desnecessários. Eu não tinha qualquer articulação política. Hoje é diferente: aprendi que é preciso ouvir quem está na estrada mais tempo.
 
Notisul – Na sua visão, como fica a câmara, politicamente, este ano?
João Fernandes – Ainda neste primeiro semestre acredito que haverá uma divisão. Tem uma parte da bancada do PMDB que quer coligar com o PP. O próprio Partido Progressista ainda tem demonstrado que poderá sair de chapa pura. Acho que este banho-maria dura até a formação das chapas. A câmara de vereadores, acredito, vai desenhar a política deste ano na cidade. 
 
Notisul – Como você avalia a chegada do PSD?
João Fernandes – Aparentemente, chega forte, até porque teve uma ajuda muito forte do prefeito Manoel Bertoncini e do governo do estado. Tanto que o vice-prefeito Pepê Collaço tem trabalhado para sustentar sua candidatura à prefeitura. O presidente da sigla e da Associação Empresarial de Tubarão, Eduardo Nunes, é também grande nome para compor como vice, por exemplo. Acredito que o PSD veio para brigar por espaço e vai se estabelecer bem na política em 2013.
 
Notisul – E o PSDB? Como estão as coisas por lá, especialmente depois de você quase ter voado do ninho?
João Fernandes – (Risos) Melhoraram. Hoje, já me sinto militante e avalio que muitos dos membros do diretório também pensam desta forma. Claro que ainda existem algumas pessoas com quem não me acertei, mas quem sabe no futuro isso também fique no passado. Por outro lado, fiz grande amizades, como com o ex-prefeito Carlos Stüpp. Ele foi o cara que arrancou as minhas penas e me fez repensar a saída do partido. Ainda tenho a ideia de ser prefeito de Tubarão, mas ele me fez ver que não é meu momento ainda. Quando isso ocorreu, ele disse: “Você é meu candidato. Une o partido e faz uma grande coligação que eu te apoio”. Não consegui fazer nenhuma das duas coisas e percebi que ele tem razão. Agradeço muito o fato dele ter me dado espaço, a chance de tentar. Tanto que continuo no PSDB e agora mais militante do que nunca. Hoje, na minha opinião, Stüpp e Bertoncini são os grandes líderes do partido e eles certamente determinarão o rumo do PSDB na cidade.
 
Notisul – Você concorrerá novamente à câmara neste ano?
João Fernandes – Não é minha vontade, mas, se Stüpp determinar isso, eu vou. Mas não me considero nem mesmo pré-candidato para a nominata à câmara. 
 
Notisul – Como assim se Stüpp determinar?
João Fernandes – Nos reunimos com frequência e o considero um grande amigo e mentor político. Não confirmo nada sem antes ouvi-lo. Acredito que a política da cidade, nas próximas semanas, vai mudar muito, principalmente para a majoritária. Pode se preparar para a reviravolta.
 
Notisul – O que você está sabendo?
João Fernandes – Nada em especial, garanto. Apenas tenho minha visão. Pepê Collaço pleiteia ser candidato a prefeito pelo PSD. Mas, conforme as pesquisas, a melhor opção é Carlos Stüpp. Ele cresce dia a dia. O PSDB tem duas saídas: apoia Pepê como prefeito ou lança Stüpp para a vaga.
 
Notisul – Você acha que pode sair Pepê com Stüpp?
João Fernandes – Não. Na minha opinião, neste caso, existe uma terceira opção, a qual acho que prevalece: sairá PSDB na cabeça de chapa com PMDB de vice.
 
Notisul – Edinho Bez de vice? Mas ele já declarou que é o candidato do PMDB em Tubarão.
João Fernandes – Não. Ele declarou que sairia se o partido estivesse unido e houvesse uma grande coligação. Não vejo que isso foi feito até agora.
 
Notisul – Mas quem do PMDB então?
João Fernandes – Na minha visão, existem três nomes: Ivo Stapazzol e Evandro Almeida e o doutor Boppre.
 
Notisul – E como Stüpp entra nesta roda? Ele também declarou que não concorreria mais. 
João Fernandes – Na política, tudo muda. Há dois anos, a população não queria vê-lo nem pintado. Hoje, é a preferência entre a maioria. Não sou eu que digo isso, são os resultados das pesquisas. Acredito que estes números irão motivá-lo a ser candidato novamente. Se ele for, tem meu total apoio.
 
Notisul – Pela sua análise, teria PSDB e PMDB juntos, contra o PT e o PP?
João Fernandes – Isso. Vejo desta forma. Olavio Falchetti já é o pré-candidato e o Deka May também já afirmou e reafirmou que, se preciso, sai em chapa pura também e não acredito que ele volte atrás. Para mim, são eles dois e Stüpp. Os vices? Aí é difícil.
 
Notisul – Mas você não leva em consideração o fato do PMDB ser dois partidos?
João Fernandes – Sim, levo. Agora, é questão de saber qual ala é mais forte. Acredito que o partido não vai querer ficar fora desta eleição. Virão para ganhar porque estão fora do comando do município há 12 anos. Eles vêm com tudo, vêm para ganhar. Isso é fato.
 
Notisul – E você no meio do fogo cruzado!
João Fernandes – (risos) Pois então! O meu caso depende muito do Carlos Stüpp. Tem que ver qual o trabalho que ele vai propor para mim.
 
Notisul – Por que toda esta consideração?
João Fernandes – Esta foi uma das lições que tirei da política. Sempre que precisei, ele estava lá. Demonstra uma consideração fora de série comigo, nada mais correto do que retribuir. Além disso, fora da política, construímos uma amizade muito sincera, franca. E amizade, para mim, é algo de valor muito grande.
 
Notisul – Como você avalia a validade da lei da Ficha Limpa para as eleições deste ano?
João Fernandes – Vai fazer uma limpa porque ninguém vai querer correr riscos. Ainda é cedo para avaliações, mas acho que quem vai mais ganhar com isso são os advogados (risos). Quem tiver um dos bons sobrevive. Caso contrário… (risos).
 
João por João
Deus – Na vida do ser humano é tudo. É Ele que mostra por que viemos à vida. Não existe vida sem Deus.
Família – Para mim, é o centro de tudo. É o tronco da minha árvore. É por eles que batalho, que acordo todos os dias.
Trabalho – Objetivo de vida. Não existe outra forma de crescimento, seja financeiro, seja como pessoa.
Passado – Só tenho o que agradecer o que ocorreu na minha vida. Tudo que ocorreu na minha vida foi bom, até o ruim, porque trouxe a lição, ajudou de alguma forma.
Presente – Vivo para dar o meu melhor, todos os dias.
Futuro – Quero viver até os 90 anos. Já tenho 42! (risos). E ter meus netinhos. Meus filhinhos que deem o jeito deles. Não precisa ser agora, mas quero ter os netinhos para ensinar as coisas da vida.
 
"Para mim, foi uma surpresa, justamente por conta dos conflitos do passado. Os nove vereadores votaram para que eu assumisse a vaga de vice-presidente. Hoje, observo que os embates pelo menos serviram para aparar algumas arestas, trazer compreensão entre os membros da casa. Além disso, o prefeito Manoel Bertoncini também articulou para que isso ocorresse. Foi uma demonstração de que estamos no caminho do entendimento. E isso significa muito. Para mim, a vitória não foi ter voltado para a mesa diretora, mas foi a maneira como isso ocorreu: de uma maneira pacífica e por meio de uma eleição".
 
"Ser prefeito é andar com penico na mão. Isso 
é horrível. Os governantes deveriam era ter 
vergonha na cara. O estado e a União têm uma 
estrutura cara e quem paga são as cidades".
 
"Este vai ser um ano político 
difícil, tanto para os candidatos 
quanto para a população.
A reviravolta vai ser grande"!