“Tudo na vida começa pela educação”

Eduardo Lugo Samudio nasceu em Campo Grande (MS). É bacharel em direito pela Universidade Católica Dom Bosco, naquele estado. Atuou no cargo de policial rodoviário federal na 3ª Superintendência Regional de Polícia Rodoviária Federal. Na atividade operacional, trabalhou nas delegacias de Rio Brilhante (MS), Coxim (MS), Três Lagoas (MS), São José (SC) e Campo Grande (MS). Foi chefe do núcleo administrativo nas delegacias de Nova Alvorada do Sul (MS). Antes da remoção da 3ª Superintendência da PRF em MS para a 8ª Superintendência da PRF em SC, em Tubarão, exerceu a função de chefe do núcleo de comunicação social daquela regional e de chefe de delegacia da PRF em Lages (SC).

 

 

Mirna Graciela
Tubarão
 
 
Notisul – Como ocorreu a sua vinda para cá? 
Eduardo – É uma pergunta interessante porque é um desafio. Venho do estado do Mato Grosso do Sul, capital Campo Grande, estou há 18 anos na Polícia Federal. Através de um procedimento administrativo, pedi uma remoção para este estado. Estamos com um superintendente da PRF de Santa Catarina, que assumiu há pouco tempo, o inspetor Vasques. Ele teve conhecimento do meu currículo e fez o convite para eu assumir a delegacia de Lages. Cheguei lá em setembro de 2011. E, após seis meses de trabalho, surgiu a necessidade de fazer uma mudança aqui na região, na delegacia de Tubarão. Automaticamente, ele lembrou do meu nome e entendeu que eu poderia contribuir. Assim se deu a minha vinda para cá, estritamente profissional, curricular, fui muito bem recebido e espero que a gente possa ter a mesma felicidade que tivemos em Lages.  
 
Notisul – Qual a sua expectativa, já que desejava morar em Santa Catarina? 
Eduardo – O objetivo, ao aceitar esse convite, é unir a questão profissional e pessoal. É uma satisfação estar aqui, um trabalho que amo e aprendi a amar. A outra é as belezas da região, pelas possibilidades de conhecer esse litoral maravilhoso. De onde vim, é uma natureza diferente, então me encanta esse tipo de lugar. Juntando esses dois pontos, aceitei o desafio. Minha expectativa é a melhor possível, me realizar na profissão como nesses 17 anos. Completo 18 anos em julho.
 
Notisul – O que faz um chefe da delegacia da PRF, quais são as suas atribuições?
Eduardo – Poderia usar um termo como se fosse um gerente. Ele cuida do patrimônio da Polícia Rodoviária Federal (PRF), como os prédios e os equipamentos, e a questão da inter-relação com as outras instituições. Mas o principal de tudo é o lado humano. Nós fazemos os trabalhos de organização, de operações, a questão de programação, que é uma preocupação da PRF. A polícia cresce cada vez mais, as demandas são intermináveis. Então, necessitamos desse planejamento. Basicamente é isto. O patrimônio físico e o patrimônio humano.
 
Notisul – Quais são os postos de abrangência do seu comando?
Eduardo – Além de Tubarão, os postos de Araranguá e de Paulo Lopes. Atendemos no trecho norte, até Paulo Lopes (Penha). Todos sob meu comando. Temos mais de 60 policiais lotados aqui na delegacia de Tubarão, que compreende esse três postos, ou seja, fazemos a distribuição deste efetivo.
 
Notisul – E quais as suas metas de trabalho? 
Eduardo – Reunir tudo aquilo que a profissão de policial rodoviário federal possa oferecer, que é o produto segurança, ou seja, usar a metodologia, as estratégias. Gostaríamos muito que fôssemos vistos pelos cidadãos como um aliado, uma pessoa que estivesse ali realmente pronto para ajudar. Embora tenhamos dificuldades de pessoal, muitas obras ocorrendo, as rodovias precisam ser melhoradas. Enfim, usar essa experiência para oferecer às pessoas que vêm de outros estados, de outros países, a máxima segurança. Sabemos que é uma missão difícil e, aliado a isso, a Polícia Federal cresceu muito, mas tem muita confiança do governo. O Ministério da Justiça aposta em nosso trabalho. E existem altos investimentos para a PRF em todo o Brasil e em Santa Catarina não é diferente.
 
Notisul – Muitas pessoas veem o policial rodoviário federal somente nas questões ligadas ao trânsito. Não é bem assim…
Eduardo – Exatamente.  Poucos sabem e se atentam a isso. Que, além do atendimento ao acidente e de conscientizar o motorista, temos uma atribuição muito importante e faço questão de destacar, que é o combate à criminalidade. A PRF implementou agora muito isto, que é lutar contra a incidência de vários crimes, como o tráfico de armas, drogas e pessoas, roubo e furto de veículos, sequestro, exploração sexual de crianças, adolescentes, enfim, é uma gama de atividade que muitos desconhecem.
 
Notisul – Já que você falou em tráfico de drogas, como analisa este problema?
Eduardo – Venho de um estado que faz fronteiras com dois países produtores de drogas (Paraguai e Bolívia). Lá, muitas vezes, nos deparávamos com cidadãos que saíam daqui, do litoral, para buscar a droga. Isto está relacionado com a violência urbana, ou seja, está interligada com o tráfico. O policial tem que estar preparado, ter equipamentos e isto influencia diretamente na vida das pessoas. Sabemos que aqui, como em muitas regiões do Brasil, existe um mercado de consumo de drogas. A polícia precisa acompanhar isso em prol da vida, da segurança das pessoas. E caminhamos fortemente para, junto com outras instituições, combater um problema sério, de saúde pública, que é o consumo do crack. Essa droga está acabando com o ser humano e as famílias. Quando o policial está no trecho e se depara com essa situação, tem que agir. Para isso, passamos por vários treinamentos para se adequar a esta nova realidade. Posso dizer que faço parte destas pessoas que podem contribuir, aprimorar e olhar de uma forma diferente para este tipo de situação.
 
Notisul – Na questão do trânsito, qual a sua posição sobre o excesso de velocidade? 
Eduardo – Posso resumir assim, dizendo, tudo é questão de educação. É muito importante, pois não existe campanha que possa substituir isto. O primeiro ponto é este. O profissional tem que chegar em um determinado horário e se atrasou, por algum motivo que não foi sua culpa, por uma interdição na pista, ficou parado na fila, aí ele quer ganhar o tempo lá na frente, essa é a consciência. Acreditamos mesmo que a questão da velocidade realmente é um dos fatores que mais causam vítimas no transito, ela mata. 
 
Notisul – Os radares ajudam ou muitos motoristas não se importam?
Eduardo – Mais uma vez aparece a educação.  Talvez não seja a forma correta, não deveria, mas é o que ocorre, muitos começam a tomar consciência depois que mexe no seu bolso. O radar fica posicionado em um ponto onde existe possibilidade de haver um acidente. Há um estudo técnico que comprova isto. Os pontos mais vulneráveis de uma rodovia. Então, o radar vai estar ali, porque se entende que é a velocidade, embora a pista seja dupla. 
 
Notisul – Muitos motoristas dão sinal de luz para os que vêm no sentido contrário para avisar sobre a presença da polícia. Como vê esta questão?
Eduardo – Temos uma linha de pensamento que isso é bom, mas na realidade não é. É positivo porque a pessoa já está diminuindo a velocidade e vai evitar um acidente. O código da luz indica que é uma batida ou um animal na pista. No início da história do trânsito, era assim. Mas hoje é o contrário. É para avisar que a polícia está presente e está ocorrendo uma fiscalização. No início, era para avisar, se você verificar no código de trânsito, existe esta informação. Mas hoje, por meio da esperteza, de uma cultura equivocada, a pessoa, ao tomar esta atitude, está sendo parceira do bandido, pois pode ser uma abordagem a um criminoso que está sendo procurado, por exemplo.  
 
Notisul – E as mudanças na Lei Seca?
Eduardo – A questão do congresso é alterar a lei seca, ou seja, aumentar a pena, do culposo para doloso, porque hoje quando há o acidente fatal é culposo, então, para dar mais severidade à discussão, existem várias propostas neste sentido. Mas, no geral, é endurecer para que a pessoa realmente  sinta-se punida, que ela não saia impune de uma situação de matar alguém. A pessoa acha que nunca vai ser pega e abordada, até que um dia se envolve em um acidente. Ela aposta na impunidade. Sou a favor daquilo que realmente venha nos ajudar, nos dar respeito e força para que a gente possa chegar em uma operação e desenvolver nosso trabalho, termos respaldo para tornar o trânsito mais seguro. Então, entendemos que cabe à polícia, através dos meios legais, de participar desta discussão, no sentido de dizer qual é a maior dificuldade que temos para combater isso.
 
Notisul – Quanto ao uso do cinto de segurança, há controvérsias…
Eduardo – É fundamental. Antigamente, as pessoas não usavam porque muitas diziam que incomodava, mas salva vidas. Sobre dizer que a pessoa morreu porque ficou presa, isto é uma fatalidade. Existem acidentes que as pessoas chegam no local e o veículo está pegando fogo e a pessoa não conseguiu sair, se livrar do cinto. Agora é por causa do cinto ou é porque ela desmaiou, e não teve poder de reação? Então é muito complicado alguém dizer isso. Acredito nesta tese de que ela não teve poder de reação. Muitas vezes, falam que a  pessoa foi atirada para fora e se salvou, e o que estava com cinto morreu. Então é muito relativo, agora pelos números, comprovadamente, o cinto salva muitas vidas.
 
Notisul – Nestes anos de profissão, há algum fato que marcou? 
Eduardo – Sim, vários casos, mas tenho um que serve como educação, como reflexão e alegria. Dois colegas estavam trabalhando na BR-282, na região de Lages, e atenderam um acidente gravíssimo, há dois anos, com vítimas e outras com lesões graves. Três veículos estavam envolvidos. Em um dos carros, havia uma mãe com seus dois filhos gêmeos, no banco de trás e um caroneiro na frente. No atendimento, na hora de fazer o encaminhamento do veículo, o colega achou no porta-luvas um auto de infração preenchido naquele mesmo local um ano antes. Nesse documento, foi feita uma notificação daquele mesmo carro, porque ele estava com duas crianças sem a cadeirinha. Ou seja, após um ano, aquelas mesmas crianças estavam dentro daquele veículo, na mesma rodovia, só que com a cadeirinha. Neste acidente, somente os dois gêmeos não tiveram ferimentos. Qual é a moral? Que realmente houve conscientização, ele notificou e a pessoa automaticamente se adequou àquela notificação, comprou o equipamento. Os danos foram gravísssimos para a mãe e o passageiro, mas as duas crianças saíram ilesas. É uma história muito bonita sobre a importância de fiscalizar e a pessoa se corrigir. Aquela lição valeu a pena.
 
Eduardo por Eduardo
Deus – A razão de viver, é o meu tudo.
Família – Meu chão, meu porto seguro e meus anjos da guarda.
Trabalho – Desafio interminável que me move.
Passado – Vitórias, alegrias, perdas e saudades.
Presente – Colheita dos frutos das sementes plantadas e cultivadas.
Futuro – Ter atitudes para que ele seja mais justo e fraterno.
 
"Estou trazendo de fora vários projetos para implementar aqui, principalmente na educação. A importância de educar as crianças, que cobram dos pais, por exemplo, para usarem o cinto. Ir às escolas fazer palestras, em um trabalho de educação para o trânsito. Existe um festival que se chama Fetran, onde as crianças nas escolas participam de teatros, interpretam a cena, tudo voltado para o trânsito, elas mesmas que criam e participam. É um festival onde as pessoas se inscrevem e, no final, existe a questão de quem ganhou, é um evento de muito sucesso que, com certeza, podemos implantar por aqui. Esse trabalho de prevenção é uma ferramenta muito importante, porque as crianças serão multiplicadores e vão se tornar cidadãos mais conscientes. Tem um outro projeto muito legal, existe um talãozinho de auto de infração que a criança recebe e ela mesmo vai anotando as infrações dos pais, a criança vai desenvolvendo este espírito crítico de cobrança. Também pretendemos chegar às universidades, mas para isto temos que preparar o efetivo, nos organizarmos, nos inteirar da realidade aqui e dos limites. Não adianta prometer e não cumprir. Mas uma das metas é esta: desenvolver projetos de educação".
 
"É muito difícil você ir para um acidente, ver corpos espalhados e verificar que dentro daquele veículo tinha uma lata de cerveja ou outro tipo de bebida alcoólica".
 
"Os jovens não podem ir pela falsa ideia de alegria, de festa, beber e sair pela rodovia ou uma rua e causar um acidente.”